Depoimento de Marinho marca primeira semana da Comissão

Da Redação | 24/06/2005, 00h00

"Vocês querem ouvir problemas? Então vou falar, mas peço pela segurança da minha família". Com esse apelo, Maurício Marinho deu início ao momento mais "quente" da semana na CPI dos Correios, na quarta-feira (22). Após a introdução, Marinho apresentou uma lista de contratos suspeitos da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), a maioria deles relacionados às diretorias de Tecnologia, Operações e Infra-estrutura, ligadas ao Partido dos Trabalhadores.

A gravação que flagrou o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Materiais recebendo propina de R$ 3 mil para favorecimento em um suposto processo de licitação foi feita por Arthur Washeck, que garantiu, em seu depoimento à CPI na última quinta-feira (23), que suas motivações foram comerciais, e não políticas. Ele não teria qualquer ligação com o PTB, partido presidido pelo deputado Roberto Jefferson, apontado por Marinho como beneficiário de um esquema de corrupção na ECT.

Washeck, proprietário da Comercial Alvorada de Manufaturados (Coman), disse que se sentia perseguido por Marinho, que o teria prejudicado em várias ocasiões. O empresário atribuiu a responsabilidade pela entrega da fita à revista Veja a Jairo Martins, que providenciou o equipamento utilizado na gravação, e disse desconhecer a origem dos R$ 3 mil oferecidos a Marinho por Joel Santos Filho, que se apresentou ao funcionário dos Correios como empresário, juntamente com João Carlos Mancuso Villela.

No entanto, o depoimento do sócio de Washeck, Antônio Velasco, na mesma quinta-feira (23), revelou que, há cerca de dois meses, a Coman fez dois repasses de R$ 1.500 a Joel. Wascheck teria emprestado ainda, por sua própria conta, R$ 27 mil a Arlindo Molina, acusado por Jefferson de tentativa de extorsão com a gravação.

Em entrevista à Agência Senado, osenador Luiz Otávio (PMDB-PA), integrante da CPI dos Correios, afirmou que os depoimentos dessa semana "deram o tom", acrescentando que os trabalhos começaram de forma eficiente.

Jefferson Péres (PDT), que também integra a CPI, disse acreditar que essa primeira semana foi bastante esclarecedora e elogiou o trabalho que vem sendo feito pelo senador Delcidio Amaral (PT-MS), presidente da comissão. Ele afirmou que o presidente vem conduzindo os trabalhos "de forma muito equilibrada".

O senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), no entanto, disse ter detectado manobras de obstrução por parte dos partidos da base do governo, que teriam tentado, repetidas vezes, "alargar o foco do exame", com o objetivo de restringir a análise. Ele chamou a atenção para a importância do que está acontecendo.

- Tem que haver muita responsabilidade por parte dos congressistas. Não são só os acusados que estão sendo avaliados. O Congresso Nacional precisa provar que não está no centro da corrupção - alertou.

Para a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), a fase mais importante das investigações se iniciará quando os membros da CPI tiverem acesso aos documentos relacionados aos processos de licitação investigados e à situação fiscal e bancária dos envolvidos, e suas ligações telefônicas. Isso, acredita ela, mostrará ao país quem são os "delinqüentes de luxo".

- Vamos agir com serenidade, independência, disciplina, cumprindo a nossa obrigação constitucional de fiscalizar os atos do Executivo e identificar onde houve exploração de prestígio, intermediação de interesse privado e tráfico de influência. Queremos ajudar o povo brasileiro a decifrar os mistérios da corrupção - disse.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)