Brasileiros no exterior mandam US$ 6 bilhões anuais para o país

Da Redação | 12/05/2005, 00h00

O Brasil recebe a cada ano cerca de US$ 6 bilhões enviados pelos brasileiros que vivem no exterior. Mas deixa de contar com a iniciativa e com o espírito empreendedor das pessoas que optam por deixar o país. Os dois lados da questão migratória foram expostos na audiência pública "Diáspora Brasileira", promovida nesta quinta-feira (12) pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).

Aproximadamente três milhões de brasileiros vivem e trabalham em outros países, segundo o diretor-geral do Departamento das Comunidades Brasileiras no Exterior do Ministério das Relações Exteriores, ministro Manoel Gomes Pereira. E a quantia de US$ 6 bilhões anuais, de acordo com ele, resume-se a uma estimativa. As estatísticas oficiais do Banco Central indicam apenas metade deste valor.

Iniciado no meio da década de 80, como observou o ministro, o movimento de emigração se intensificou nos últimos anos como resultado da busca por melhores condições de vida no exterior. Ele advertiu, porém, que os trabalhadores que deixam o país precisam enfrentar sérios obstáculos para acumular recursos.

- O brasileiro que sai é um forte, como o sertanejo, pois não é qualquer pessoa que pode se converter em um emigrante. A desvantagem para o país é que perdemos alguns de nossos bons cidadãos, de nível cultural muitas vezes restrito, mas empreendedores - relatou Manoel Gomes Pereira.

Ao abrir a audiência, o senador Cristovam Buarque (PT-DF), presidente da comissão, alertou que estariam sendo exportadas as "esperanças dos brasileiros". E nem sempre os sonhos de um futuro melhor se concretizam, como demonstrou a secretária nacional de Justiça do Ministério da Justiça, Cláudia Maria de Freitas Chagas. Ela disse que o governo está bastante empenhado no combate ao tráfico de mulheres para prostituição.

- Existem situações como a de uma da mulher do interior de Goiás que sonha em ganhar dinheiro em outro país, acredita na proposta de emprego de garçonete ou de babá e acaba em cárcere privado. Outro grupo é formado pelas prostitutas, principalmente de Fortaleza, que pensam que vão ganhar mais e têm o mesmo destino - exemplificou a secretária.

Para evitar a repetição de mais casos como esses, relatou, foi feita recentemente uma campanha de sensibilização nesses estados, para demonstrar - como ela observou - que "não existe o sonho de Cinderela". Experiências negativas já vividas por outras mulheres estão sendo divulgadas, e a Polícia Federal vem distribuindo informações sobre o tema no momento da emissão de passaportes.

Estudiosa do assunto, a professora de Sociologia da Universidade da Campinas (Unicamp) Teresa Sales afirmou que o período entre 1987 e 1989 pode ser considerado um marco na transformação do Brasil em um país de emigração. Espremidos entre três planos econômicos e a primeira eleição direta para Presidente da República, os três anos foram chamados pr ela de "triênio da desilusão". Na sua opinião, o processo não tem mais volta.

- Acontece muitas vezes de o brasileiro juntar dinheiro no exterior, trazer para o país, abrir um negócio e esse negócio não dar certo. Eles então retornam ao exterior e, nesse momento, a migração se torna definitiva. A desvantagem é que estamos exportando a nossa juventude, que o Brasil formou e na qual investiu - advertiu. 

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Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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