CRISE DO PENSAMENTO SOCIAL EM DISCUSSÃO NA TV SENADO

Da Redação | 17/11/2000, 00h00

O desempenho dos prefeitos eleitos pelo PT afetará o próprio destino da democracia representativa no Brasil, pois seu eventual fracasso levaria à "mexicanização" política, ou seja, a concentração do poder numa única legenda. A preocupação foi expressa pelos professores da Universidade de Brasília Ronaldo Conde Aguiar e Vamireh Chacon, que discutem, em programa apresentado neste final de semana pela TV Senado, a crise do pensamento social brasileiro.

Entrevistados pelo jornalista Fernando Cesar Mesquita, os professores advertiram que uma política de perseguição aos municípios governados pelo PT, por parte do poder central ou estimulada pelos segmentos mais conservadores, seria nociva às instituições democráticas e aumentaria a desconfiança da população em relação à política; portanto, a questão merece ser seriamente considerada pelas elites do país.

O eleitorado brasileiro é basicamente conservador, e por isso o PT jamais passará da barreira dos 30% de votos para ganhar uma eleição presidencial, a não ser que realize uma aliança de espectro amplo, acredita Conde, para quem um presidente da República petista seria uma saudável exceção, "um representante da Senzala chegando ao poder sempre ocupado pela Casa Grande".

Autor da Pequena Bibliografia Crítica do Pensamento Social Brasileiro, publicada por Frank Soudant, da Editora Paralelo 15, que também participou do programa, Conde concorda com Chacon na avaliação de que há uma crise de criatividade intelectual no Brasil. "A juventude passa graves problemas de falta de perspectivas, de trabalho e de idéias; o jovem universitário tem nojo da política, e isso não é bom para o país", constata Conde. "Passamos por uma entressafra cultural, e somente quando a poeira das transformações baixar surgirá uma nova síntese do pensamento social", prevê Chacon.

Conde nega que Fernando Henrique Cardoso, como presidente da República, tenha traído suas posições como sociólogo, e sustenta que existe perfeita coerência entre os dois momentos.

- A política de Fernando Henrique é exatamente a que está no livro dele: a obra fazia uma descrição do quadro de dependência, sem mostrar saída, como fazia a esquerda, que propunha a revolução; como presidente, ele tem feito concessões para tentar obter vantagens, também sem pretensão de sair do quadro de dependência - afirma Conde.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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