Resultado do leilão do pré-sal contribuiu para alta do dólar, avalia presidente do BC

Da Redação | 19/11/2019, 15h21

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, informou à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) que está monitorando de perto o movimento de alta do dólar. Em audiência nesta terça-feira (19), senadores demonstraram preocupação com a disparada da moeda americana, que bateu R$ 4,20 na segunda-feira (18), maior valor nominal (sem contar a inflação) da história.

Para Campos Neto, além de questões externas, relacionadas à economia global, a moeda dos Estados Unidos registrou valorização também por conta do leilão do pré-sal no início de novembro, quando se esperava entrada maior de capital estrangeiro. Realizado em 6 de novembro, o leilão arrecadou R$ 70 bilhões de reais, valor abaixo do que era esperado pelo governo.

— O dólar teve um último movimento recente que foi a cessão onerosa, quando agentes do mercado esperavam entrada de recursos maior do que a ocorrida. E muitos agentes se posicionaram para capturar esse dólar caindo. Como a entrada não veio na mesma magnitude, tem-se agora uma volta. Isso é parte da explicação; parte é global. Além disso, tem muito exportador e importador segurando também, de forma que recursos estão ficando mais lá fora. São várias explicações. Recentemente, de fato, houve frustração com a cessão onerosa. Mas estamos monitorando de perto — explicou.

Ele destacou ainda que as variáveis responsáveis pela desvalorização do real são diferentes do passado, pois atualmente não houve aumento do risco Brasil, queda de bolsa de valores ou aumento da inflação. A moeda se desvalorizou, mas com percepção de melhora do cenário econômico, na opinião dele.

Autonomia

O economista defendeu maior autonomia do BC, argumentando que a inflação é menor nos países que têm bancos centrais mais independentes. Campos Neto lembrou o caso da Argentina, onde, segundo ele, houve a percepção de que a autoridade monetária havia perdido a liberdade de ação, o que resultou na imediata escalada de preços.

No Senado, uma proposta que dá mais independência ao banco (Projeto de Lei Complementar 19/2019), já aprovada pela CAE, está para ser incluída na pauta do Plenário, com requerimento de urgência.

Cobranças

Os senadores que participaram do debate foram unânimes em cobrar do Banco Central iniciativas para combater as elevadas tarifas bancárias e as altas taxas de juros cobradas no cheque especial e no cartão de crédito. Eles também questionaram o crescente fechamento de agências bancárias, com a consequente demissão de trabalhadores.

Sobre este último tema, Campos Neto lembrou que os bancos chegaram a ter mais capilaridade do que qualquer sistema de varejo, mas isso deixou de ser uma vantagem atualmente, visto que é cada vez menor o número de pessoas que se deslocam até uma agência.

— Grande parte das pessoas não frequenta mais uma agência física, então a dinâmica está mudando, com o fechamento de pontos e o investimento em tecnologia. Os empregos estão sendo trocados, das agências ao setor tecnológico — explicou.

Em relação às tarifas bancárias, o economista avaliou que o principal problema do Brasil não é nem o custo, mas a complexidade tarifária. Ele informou que o BC estuda formas de mudar e simplificar o sistema num futuro próximo.

— São muitas as tarifas, complexas e difícil de entender, e geralmente nem têm uma correlação com o serviço prestado. Existe um problema de complexidade (...). O grande movimento que não fizemos ainda e vamos fazer num futuro próximo é olhar para todo o sistema tarifário, ver como podemos simplificar e prestar um esclarecimento à sociedade de quais são, como são divididas e quais os serviços prestados como contrapartida — explicou.

Pagamentos instantâneos

O presidente do Banco Central também confirmou aos senadores que pretende pôr em funcionamento, no fim de 2020, uma rede de pagamentos instantâneos no país, funcionando 24 horas por dia durante o ano todo.

Segundo ele, será uma revolução tecnológica que vai dar mais segurança e baixar o custo para pessoas e empresas, além de gerar inclusão financeira, competição e eficiência.

Conforme o BC, as atuais formas de transferência bancária, como TED e DOC, que têm restrições de horário e custos elevados, serão substituídas por operações instantâneas, simplificadas e feitas em alguns segundos.

Sem dar maiores detalhes, o economista confirmou ainda que o BC trabalha num projeto para redesenhar o cheque especial, considerado por ele um produto regressivo, visto que castiga mais quem tem menor renda e menor nível de educação financeira.

Obrigação legal

Vinculado ao Ministério da Economia, o Banco Central é uma autarquia cuja tarefa é formular e executar a política monetária, manter a inflação dentro da meta e servir como depositário das reservas internacionais do país. O presidente da instituição deve ir regularmente ao Senado prestar esclarecimentos e apresentar perspectivas futuras da política monetária nacional.

Veja aqui a apresentação do presidente do BC.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)