Para Ernesto Araujo, Brasil busca 'relação intensa, profunda e integral' com os EUA

Da Redação | 04/04/2019, 16h30

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo, afirmou durante audiência nesta quinta-feira (4) na Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE), que o Brasil não está em alinhamento automático com os Estados Unidos nem com o governo de Donald Trump, mas que busca uma parceria intensa, profunda e integral com aquele país em muitas áreas, visando o desenvolvimento.

— Não há nada de ideológico nem alinhamento automático nosso. O que há é o reconhecimento de que se queremos desenvolvimento, temos que ter uma parceria com os EUA, não-excludente, intensa e profunda. Já estamos colhendo fruto disso ao fecharmos o acordo de salvaguarda tecnológica com eles, permitindo o uso da Base de Alcântara a nosso favor depois de 20 anos — disse.

Araujo detalhou que tanto os EUA quanto Israel são países de grande desenvolvimento tecnológico que estão dispostos a parcerias, "dentro de um quadro mais amplo":

— Sobretudo com grandes parceiros, não adianta simplesmente focar em temas específicos. Nossa aposta é construir um relacionamento integral e colher os frutos a partir disso. Precisamos regar as raízes e cuidar do tronco para que possamos ter os frutos a partir dos ramos — explicou.

Questionamentos

O senador Jaques Wagner (PT-BA) criticou a diretriz do governo Bolsonaro, sinalizada durante encontro recente com Trump, de que aceita abrir mão do status de "nação em desenvolvimento" que tem na Organização Mundial do Comércio (OMC), em troca de poder entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O status especial permite ao Brasil uma maior flexibilidade nas negociações e processos que se dão no âmbito da OMC. O senador baiano também questionou os "supostos frutos" que a aproximação com os EUA estaria trazendo, uma vez que a nação norte-americana continua praticando barreiras comerciais expressivas contra a exportação de produtos agrícolas de nosso país.

— Avalio que o Brasil está se comportando de forma subalterna. O mercado norte-americano segue fechado a nossas exportações de carne bovina e com várias tarifas altas para as exportações de açúcar. As frutas brasileiras também não entram lá por causa de injustas restrições fitossanitárias. No que tange à OCDE, países como Coreia do Sul, Turquia e Chile entraram nesta organização sem abrir mão do status especial na OMC — lembrou Wagner.

O senador ainda acrescentou que a União Europeia (UE), que tem vários países na OCDE, também adota barreiras expressivas contra a entrada de produtos brasileiros. Na resposta, Araujo garantiu que já vem realizando gestões junto aos EUA e à UE visando uma maior abertura nestes mercados. Ele ainda informou que o Brasil buscará aprofundar as negociações, tencionando fechar um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE, e que a entrada na OCDE diminuirá o Custo Brasil e atrairá mais investimentos a nosso país.

Israel e Venezuela

Já Randolfe Rodrigues (Rede-AP) criticou ações e posições adotadas por pessoas ligadas ao governo que podem ser interpretadas como hostis por nações árabe-islâmicas. O senador lembrou que o Brasil possui um fluxo comercial muito superior com os árabes do que com Israel.

— Nós exportamos U$ 11,5 bilhões para os países que fazem parte da Liga Árabe. Com Israel, são U$ 321 milhões. De importações com a Liga Árabe, temos U$ 7,6 bilhões, já com Israel soma U$ 1 bilhão — ressaltou Randolfe, explicando ser possível otimizar as relações com os dois lados.

Esperidião Amin (PP-SC) também considerou contraditório o governo defender os direitos humanos na Venezuela e votar contra uma investigação independente na ONU. A Organização das Nações Unidas condenou Israel pela repressão violenta contra palestinos no ano passado, fazendo dezenas de mortos, incluindo 35 crianças e dois jornalistas.

Na resposta a Randolfe, Araujo pontuou que jamais deu alguma declaração ou tomou qualquer atitude hostil contra alguma nação árabe. Ressaltou que até o momento nenhuma barreira foi estabelecida por árabes contra a exportação brasileira e que negocia aprofundar os laços comerciais com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Informou que contatos já estão estabelecidos para que Bolsonaro visite a Arábia Saudita até o fim de junho.

Já a Esperidião Amin, o ministro disse que a investigação na ONU que condenou Israel foi "falha" e que é contra tratar este país como um pária internacional manipulando conceitos em nome dos direitos humanos. Já em relação à Venezuela, disse que o país está dominado por um regime autoritário, pelo crime e pelo terrorismo, e que as violações ali existentes podem nos afetar diretamente.

O senador Chico Rodrigues (DEM-RR) lembrou que seu estado tem relações estratégicas com a Venezuela e, pelo que convive com cidadãos provenientes daquele país na fronteira, percebeu que a auto-nomeação do deputado Juan Guiadó como presidente interino "não é uma solução definitiva, não é uma liderança consentida, apenas por ser presidente do Parlamento, se auto-proclamou presidente do país".

China e marxismo

Araujo ainda garantiu que o aprofundamento das relações do Brasil com os EUA não deverá afetar as relações com a China. Disse que os asiáticos estão conscientes do atual momento da diplomacia brasileira e que não fazem objeções. Acrescentou que também já vem sendo negociada uma visita oficial de Bolsonaro ao país, provavelmente no segundo semestre.

Randolfe também fez objeções a declarações de Ernesto Araujo de que o nazi-fascismo foi um movimento político de esquerda. O senador mostrou uma foto do primeiro comício organizado por Adolf Hitler na Alemanha na década de 1930, em que uma grande faixa à frente do palanque prometia "livrar a Alemanha da influência marxista".

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)