Sentimento anti-globalização vem crescendo no mundo, diz diretor da OMC

Sergio Vieira | 24/08/2017, 15h29

O crescimento de partidos nacionalistas em diversos países da Europa, a saída do Reino Unido da União Europeia e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos são alertas de um "forte e verdadeiro sentimento de exclusão" de parcelas da população no que se refere à globalização da economia.

A afirmação foi feita pelo diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), o diplomata brasileiro Roberto Azevêdo, durante audiência nesta quinta-feira (24) na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).

- Há um temor, como se deu na Inglaterra, de que o que vem de fora vai retirar as oportunidades de crescimento e trabalho do morador local. Este sentimento também vem se manifestando em outros países, com partidos protecionistas ganhando mais espaço - disse.

"É preciso mudar"

Azevêdo revelou que este sentimento de não-pertencimento foi percebido nos Estados Unidos antes da eleição presidencial naquele país pelo então presidente Barack Obama, que num encontro com o brasileiro admitiu que "aqui as pessoas veem a globalização como algo que interessa de fato somente às grandes corporações".

Em contraponto a este sentimento, o diretor-geral da OMC avalia que tanto sua organização quanto as lideranças de cada país precisam priorizar estratégias inclusivas das pequenas e médias empresas nos novos acordos.

- Um obstáculo no comércio internacional que para uma grande empresa é apenas uma linha num acordo, pra uma pequena ou média pode inviabilizar sua inserção. Acho que agora nós temos que facilitar a vida das pequenas e médias, porque são as grandes provedoras de empregos, o potencial aí é enorme - aponta o diplomata, que vê inclusive no desenvolvimento tecnológico hoje um facilitador deste processo.

Brasil pode ganhar

Azevêdo chamou a atenção paro fato de que no Brasil por exemplo, 95% das exportações são realizadas por apenas 5% das empresas do país. Revelou que recentemente fez visitas de trabalho nos Estados Unidos à sede de grandes companhias de plataformas comercias, como o eBay, Google, Facebook e outras, quando foi apresentado a dados mostrando o que acontece com pequenas empresas que conseguem exportar.

- Essas tem uma taxa de sobrevivência e expansão infinitamente superior às que não participam do comércio internacional. O comércio internacional alavanca a potencialidade da pequena e média de uma maneira extraordinária, muito mais que o mercado doméstico - esclareceu o diplomata, mostrando que a priorização deste setor poderá beneficiar milhões de pessoas.

Além deste enfoque, Azevêdo afirmou que a OMC também busca aprofundar agora as negociações multilaterais em torno do comércio eletrônico, facilitação de investimentos e agricultura, "por mais difíceis e complexas que sejam estas conversas".

Disse também que a organização não cai no "falso dilema" entre negociações bilaterais, regionais ou multilaterais. Finalizando, alertou que 2017 muito provavelmente marcará o sexto ano seguido em que a taxa de crescimento comercial no mundo ficará abaixo de 3%.

- Isso é algo sem precedentes desde o pós 2ª Guerra Mundial. Vejo isso como um fenômeno muito preocupante, e um desafio aos líderes políticos globais - afirmou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)