Senadores temem que crise prejudique investimento da Petrobras nos estados

Anderson Vieira | 28/04/2015, 19h00

Com a Petrobras mergulhada em crise financeira e em escândalos de corrupção, os senadores mostraram-se preocupados com os investimentos da companhia em seus respectivos estados. Na audiência conjunta das comissões de Infraestrutura (CI) e de Assuntos Econômicos (CAE) desta terça-feira (28), eles lembraram obras e projetos em curso com risco de serem prejudicados num momento em que a estatal tenta se reestruturar. Os parlamentares cobraram soluções do presidente Aldemir Bendine.

O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), por exemplo, lembrou que o Espírito Santo é o segundo maior produtor de petróleo e gás do país e tudo que acontece com a Petrobras tem impactos positivo ou negativo na economia local.

— A minha indignação é contra esse amontoado de delinquência que nós observamos ao longo desses últimos anos. Evidentemente, para falar em futuro, é preciso que revisitemos o passado, para que coisas como essa não voltem a acontecer — disse Ferraço, que também cobrou o compromisso da empresa com a construção de uma fábrica de fertilizantes no norte do Espírito Santo.

O senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE) reclamou da promessa de implantação de refinarias no Ceará, Maranhão e Sergipe. Os empreendimentos não saíram do papel e, segundo ele, governos e prefeituras gastaram bilhões sem perspectiva de retorno.

— Alguns líderes políticos ainda dizem que estão lutando pela refinaria do Ceará. Mas acho que este capítulo está liquidado. Não existe essa possibilidade. Eu só queria a verdade para que o governo tome outra direção e não fique vivendo em cima de mais uma mentira — afirmou.

Reclamação semelhante fez o senador Lasier Martins (PDT-RS), que narrou a frustração de parte do Rio Grande do Sul com a paralisação de atividades do Polo Naval de Rio Grande para construção de duas plataformas de petróleo.

— Para lá, correram comerciantes de toda a ordem, construindo hotéis, restaurantes, pousadas, escritórios, na expectativa de que haveria a redenção econômica da região. A Petrobras seria a solução. Entretanto, há duas plataformas paralisadas, uma frustração muito grande e sonhos destruídos — reclamou.

Potássio

Representantes do Amazonas, Vanessa Grazziotin (PCdoB) e Omar Aziz (PSD) cobraram investimentos na exploração do potássio no estado, onde está terceira maior jazida do mundo. Na mesma linha, Waldemir Moka (PMDB-MS)  lembrou a construção de uma indústria de fertilizantes em Três Lagoas, cujas obras estão 80% concluídas.

Depois de lembrar que a presidente Dilma Rousseff prometeu investimento de R$ 11 bilhões por parte da Petrobras no setor de fertilizantes, Omar Aziz quis saber onde foi parar o dinheiro:

— Queria saber quanto e onde foi investido porque no meu Estado não foi investido absolutamente nada, zero. Como é que o Brasil, um país agrícola, não tem uma indústria de fertilizantes, tendo a terceira maior jazida de potássio do mundo? — perguntou.

O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), por sua vez, quis saber a situação de poços leiloados na costa do Pará e do Maranhão, visto que já está havendo grande movimentação na cidade de Salinas, onde seria o ponto de apoio para o início da exploração.

Já Garibaldi Alves (PMDB-RN) pediu detalhes sobre a situação operacional da refinaria Clara Camarão, da termelétrica José Jesus Ribeiro e de campos de petróleo no Rio Grande do Norte.

Justificativas

O presidente Aldemir Bendine esclareceu que, devido à condição de caixa da empresa, o plano de investimento para 2015 e 2016 reserva 80% dos recursos para as áreas de exploração e produção de óleo e gás, que são o nicho mais importante da companhia. A construção das refinarias do Ceará e Maranhão está descartada a curto prazo:

— Pelo menos nos próximos cinco anos, nós não temos capacidade de voltar a fazer tais refinarias, que eram as duas do tipo Premium, mas está sendo discutida com os governantes locais uma forma de compensação pelo impacto que isso trouxe para a economia — disse o executivo.

Sobre o Polo Naval de Rio Grande, ele informou que as duas plataformas são vitais à Petrobras, que tem o máximo interesse na conclusão das obras. Ele não deu prazo para a retomada dos trabalhos; mas o executivo previu ao menos uma notícia positiva para o Pólo Naval gaúcho, que é a construção de navios-sonda no Estaleiro Rio Grande.

Respondendo Garibaldi Alves, o executivo garantiu que os campos, a refinaria e a termelétrica são ativos em atividades e assim devem permanecer.

— Não vamos interromper algo que está produzindo e que está dando retorno para a empresa — informou.

Em relação aos fertilizantes e a outros investimentos, Bendine voltou a lembrar que vai depender do novo plano de negócios da companhia em fase de elaboração.

— Quero deixar bem claro que a empresa também não vai parar. Vai continuar na ativa. Apesar de darmos foco específico na área de exploração e produção, que é o nosso core business, ainda existem 20% voltados a outras áreas. Dentro de 30 a 40 dias, o plano de negócios fica pronto e estaremos mais aptos a responder determinadas questões específicas — explicou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)