Preparativos para a COP na Amazônia
Rádio Senado apresenta reportagem especial sobre a COP 30, a conferência do clima da ONU, em Belém (PA)
Belém se prepara para receber a COP 30: legado, cultura e oportunidades de negócios
A pouco mais de 400 dias para a COP 30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Belém, no Pará, está em plena transformação. A cidade já se parece com um canteiro de obras, com novos espaços sendo criados para acolher os cerca de 60 mil visitantes esperados para o evento. Um dos principais projetos é o Parque da Cidade, que abrigará a blue zone, uma das áreas de debate da conferência, com investimento de aproximadamente R$ 980 milhões.
Além dessa estrutura, a capital paraense está passando por grandes melhorias em infraestrutura, como duplicação e revitalização de avenidas, obras de macrodrenagem e saneamento, que já abrangem 20 bairros. O governador Helder Barbalho destaca que o grande legado da COP 30 será a transformação duradoura para a população de Belém, com um investimento total estimado em R$ 5 bilhões.
A secretária de Cultura do Pará, Úrsula Vidal, detalha os preparativos para o evento, com a gastronomia como uma das principais atrações. A rica culinária paraense promete conquistar os visitantes, que também serão encantados pela cultura local e pela experiência de vivenciar a Amazônia. A expectativa é que o evento projete o Pará para o mundo, mostrando seu jeito amazônico de ser e viver.
Para a empresária do setor de alimentos, Isabela Lima, a COP 30 representa uma oportunidade de negócios que vai muito além dos setores diretamente envolvidos, como hotéis, restaurantes e turismo. Ela vê potencial para impulsionar diversos setores da economia local, gerando emprego e renda.
Mas além dos preparativos para o evento, a população de Belém está focada em outro aspecto importante: garantir que os amazônidas sejam inseridos no debate global, criando novas oportunidades de trabalho e melhorando as condições sociais das comunidades que vivem na floresta, as quais desempenham um papel crucial em sua preservação.
Transcrição
1ª parte - O que o Pará vai oferecer aos visitantes da COP 30?
LOC: AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SÃO UMA REALIDADE CADA VEZ MAIS PRESENTE EM NOSSO COTIDIANO, COM ONDAS DE CALOR, PERÍODOS DE SECA, GEADAS E CHUVAS INTENSAS OCORRENDO COM MAIOR FREQUÊNCIA. A PAUTA AMBIENTAL SE TORNOU CENTRAL NAS DISCUSSÕES DIÁRIAS.
EM MEIO A ESSE CENÁRIO, O BRASIL SEDIARÁ, NO PRÓXIMO ANO, A COP 30, CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE O CLIMA, PELA PRIMEIRA VEZ EM UM ESTADO DA AMAZÔNIA, O PARÁ.
A JORNALISTA DA RÁDIO SENADO PAULA GROBA FOI A BELÉM E VOCÊ VAI SABER A PARTIR DE AGORA COMO A CIDADE ESTÁ SE PREPARANDO PARA O MAIOR EVENTO DO CLIMA NA REPORTAGEM ESPECIAL COP 30: A AMAZÔNIA SE PREPARA PARA A CONFERÊNCIA DO CLIMA. UMA PRODUÇÃO RÁDIO SENADO.
A pouco mais de 400 dias para a COP 30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Belém, no Pará, parece um canteiro de obras. Novos espaços para receber os cerca de 60 mil visitantes para o evento, como o Parque da Cidade, que vai abrigar a chamada blue zone, uma das zonas de debates. A obra conta com o maior investimento até o momento: em torno de 980 milhões. Duplicação e revitalização de avenidas, obras de macrodrenagem e de saneamento também fazem parte da lista das mudanças em andamento, que já atingem 20 bairros. Segundo o governador do estado, Helder Barbalho, a palavra legado deve marcar a passagem da COP pelo estado da Amazônia. Num investimento estimado em 5 bilhões de reais, as obras, segundo ele, compõem esse legado para a população de Belém.
O legado ambiental, que é um legado para a Amazônia e um legado para o Brasil, mas também para o mundo, já que as soluções que possam ser construídas na COP da floresta estarão sendo replicadas em todos que tenham floresta nos seus territórios, como também o legado cidade fazer com que Belém seja uma cidade melhor a partir das conquistas de obras e serviços advindos deste importante momento. As obras vão além de novos espaços de lazer e debates para o evento.
A secretária de Cultura, Úrsula Vidal, detalha o planejamento do governo para receber o evento, que acontece em novembro do ano que vem:
Nós temos duas grandes obras, uma delas é o porto futuro, que é a ampliação daquele espaço do complexo portuário. Agora nós estamos requalificando outros 5 armazéns, onde nós vamos ter um novo espaço, gastronômico uma modalidade diferente. De experiência gastronômica. Nós vamos ter o parque de bioeconomia e inovação em outros 2 armazéns, que é um hub de desenvolvimento de negócios baseados na natureza, ou startups com uma pequena experiência industrial para o desenvolvimento de novos produtos baseados não só sobre a economia.
Os empreendimentos incluem, ainda, áreas de lazer, turismo e cultura.
Teremos também uma caixa cultural, a primeira caixa cultural da região norte do país. E teremos o museu das Amazônias, que é um museu imersivo. E teremos também o complexo hoteleiro.Também teremos um Porto, um terminal de Cruzeiro. E no Parque da Cidade, nós teremos um grande complexo de lazer, de turismo, de cultura, uma escola de gastronomia, uma escola de economia criativa, mas que ele será inaugurado para a COP como um espaço da Blue Zone.
A gastronomia é a principal atração que a cidade espera capturar, encantando os visitantes com suas delícias. Além disso, a cultura local, a experiência de viver na Amazônia e o cotidiano dos moradores das regiões amazônicas serão grandes atrativos para aqueles que ainda não conhecem o estado do Pará, conforme destacou Úrsula Vidal.
É o que somos. Somos porque nos relacionamos com os rios. Somos porque temos essa memória de quem nos ensina sobre o modo de fazer, o modo de comer, porque essa comida tem esse nome, de onde ela vem. Somos porque somos corpos dançantes, porque somos musicais. Porque somos seres que crescemos com essa umidade, essa chuva, esse jeito amazônico.
Na avaliação da empresária do ramo de alimentos, Isabela Lima, a oportunidade de negócios para a cidade vai muito além dos setores diretos que a gente imagina, como hotel, restaurantes e empresas de turismo.
É toda uma cadeia então vai impactar o comércio, serviços em geral porque o turista precisa se transportar então ele vai precisar pegar um barco, uma balsa, um táxi. E todo mundo precisa estar capacitado. De repente se puder aprender um novo idioma é muito importante. Mas também a gente sabe que vem muita gente do setor público, muito servidor público que precisa de recivo, quais são as comodidades que a gente pode criar pra esses clientes? Ano passado durante uma reunião do G20 teve um grupo que reclamou de um restaurante porque eles saíram do restaurante às 23h e estavam com muita dificuldade de conseguir Uber. Acho que o nosso desafio é exatamente esse: tentar antecipar quais vão ser as dores dos turistas pra fazer uma entrega melhor pra que eles tenham a melhor experiência e possam voltar com a família mais vezes aqui no Pará.
Além dos preparativos para receber os visitantes durante a COP 30, os moradores de Belém também estão focados em outro legado importante: inserir os amazônidas no debate sobre novas oportunidades de trabalho e a melhoria das condições sociais daqueles que vivem na floresta e desempenham um papel essencial em sua proteção. Isso é o que você vai acompanhar no segundo e último episódio dessa reportagem especial.
2ª parte - As demandas da Amazônia para a COP 30
DESIGUALDADE SOCIAL. LUTA POR DIREITOS TERRITORIAIS. INSEGURANÇA VIVIDA PELOS POVOS DA FLORESTA. AS VOZES DA AMAZÔNIA, REPRESENTANDO DIFERENTES ESTADOS DA REGIÃO, SE MOBILIZAM EM BUSCA DE UM ESPAÇO DE DESTAQUE NA COP 30.
NO SEGUNDO EPISÓDIO DA SÉRIE ESPECIAL "COP 30: A AMAZÔNIA SE PREPARA PARA A CONFERÊNCIA DO CLIMA", A REPÓRTER PAULA GROBA TRAZ AS EXPECTATIVAS DE DIVERSOS SETORES DA SOCIEDADE PARAENSE SOBRE A CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE O CLIMA. UMA PRODUÇÃO, RÁDIO SENADO.
A diversidade cultural do Pará é um reflexo direto de sua rica diversidade étnica. O estado abriga uma ampla gama de grupos, incluindo populações indígenas, caboclas, afrodescendentes e migrantes de diversas partes do Brasil, que juntas representam as múltiplas vozes que buscam ser ouvidas.
A economia do Pará é impulsionada pela exploração de recursos naturais, como mineração, agronegócio e extração de madeira. Além disso, o estado se destaca na produção de commodities agrícolas, como soja e milho. No entanto, o cenário econômico é marcado por desigualdades regionais e sociais.
É neste contexto que a COP 30 se insere, uma conferência global que reunirá representantes de 190 países para discutir a preservação das florestas. Mais do que deixar um legado físico de infraestrutura e melhorias nos serviços públicos, a COP 30 é vista como uma oportunidade para que indígenas, quilombolas, moradores da Ilha do Marajó e outros grupos da região ganhem visibilidade e voz nas discussões sobre o clima, desenvolvimento social e o futuro ambiental. É o que enfatiza a secretária de cultura do Estado, Úrsula Vidal.
Esses biomas importantes, como as florestas tropicais, o bioma amazônico, os ecossistemas das florestas tropicais. Nós vamos ser só um espaço de mediação no clima? Ou esses 29 milhões de pessoas que vivem na Amazônia terão também o seu protagonismo garantido num novo modelo de governança do desenvolvimento justo para que nós não sejamos periferia, para que nós não continuemos reproduzindo o modelo de exclusão, de pobreza? Porque a floresta, ela precisa de gente. No modelo que a gente vive hoje, se ela não tiver gente, não se mantém. São as pessoas.
Entre os muitos debates e expectativas que o Pará deposita na COP 30, um tema amplamente defendido pela sociedade civil é a regularização fundiária e a destinação de florestas públicas aos povos que vivem nelas e delas tiram seu sustento. Atualmente, mais de 57 milhões de hectares de florestas no país ainda não têm proteção legal, resultando em altos índices de desmatamento. Catarina Nefertari, ativista e membro do movimento Amazônia de Pé, destaca a insegurança vivida pelos povos da floresta diante dessa situação:
O direito à Terra, mesmo quando ele está conquistado, ele está sobre grande ameaça para esses povos. A relação com a Terra não é uma relação comercial, é uma relação ancestral, né? De quem são e tudo mais. Então a gente ainda hoje, diariamente. Acompanha, né? Territórios sendo ameaçados, lideranças sendo mortas. E falar sobre cop é falar sobre clima e também falar sobre segurança de quem protege os territórios. Então, se a gente não está falando, a discussão não está completa.
Meu nome é Marcela Lima, eu sou guardiã da floresta, sou empresária e me procupei com o meio ambiente e com a vida. Em missão no Marajó, visitando as comunidades, conversando com as famílias. E eu fui vendo a dificuldade que eles tinham, o medo a a insegurança, a insegurança jurídica. Então eu pego essas famílias, faço esse levantamento todo através da associação e busco a regularização fundiária.
Marcela Lima decidiu, voluntariamente, apoiar milhares de pessoas no Marajó, uma das maiores ilhas do Brasil, localizada no Pará, na formalização de seus espaços de produção e sobrevivência. O Marajó é habitado por comunidades tradicionais, como ribeirinhos e indígenas, que mantêm culturas e modos de vida distintos. A pressão por desenvolvimento e a expansão de atividades econômicas podem ameaçar a preservação dessas culturas. Além disso, muitas dessas comunidades lutam pelo reconhecimento de seus direitos territoriais e culturais, essenciais para a manutenção de sua identidade e segurança.
Para irmã Enriqueta, defensora dos direitos humanos e sociais na região amazônica, os desafios são imensos. Ela destaca que, além da pobreza e dos conflitos de terras, a exploração sexual de crianças e adolescentes é um problema crítico que precisa ser enfrentado e abordado em convenções sobre a preservação da Amazônia.
Nós precisamos pensar quem é a população que está dentro desse contexto de desmatamento, das violências contra as populações tradicionais. Esse tema que eu que vai ficar muito escondido, muito invizibilizado dentro da COP. E eu não vejo preocupação ainda inclusive de instituições que trabalham com crianças e adolescentes e com mulheres, pra gente trazer esse tema com muita força.
As autoridades brasileiras esperam que a COP 30 seja o marco para finalmente viabilizar o tão aguardado financiamento internacional periódico, proveniente dos países que mais poluem o planeta, como China, Estados Unidos, Rússia e Japão. No ano passado, durante a conferência em Dubai, foi criado um fundo destinado à preservação das florestas, mas os valores ainda não foram definidos, tampouco transferidos para nações como o Brasil, que abriga 60% da Floresta Amazônica. Ainda há incertezas sobre como a COP 30 vai integrar as populações que vivem na floresta nesse financiamento e no debate sobre seu futuro. Isso é fundamental para que a preservação do planeta seja efetivamente assegurada.
VOCÊ ACABOU DE OUVIR A REPORTAGEM ESPECIAL "COP 30: A AMAZÔNIA SE PREPARA PARA A CONFERÊNCIA DO CLIMA". PRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO: PAULA GROBA. EDIÇÃO: LEILA HERÉDIA. TRABALHOS TÉCNICOS: ANDRÉ MENEZES. LOCUÇÃO: PAULA GROBA
E VOCÊ PODE OUVIR QUANDO QUISER OS DOIS EPISÓDIOS DESSA REPORTAGEM ESPECIAL EM SENADO.LEG.BR/RADIO E TAMBÉM NAS PRINCIPAIS PLATAFORMAS DE PODCAST.