10 - Governo JK, salto de modernização e ascensão da TV

Transcrição Parte 1 - Governo JK, salto de modernização LOC: VAMOS CONTINUAR A NOSSA VIAGEM PELA DÉCADA DE 50. O SUÍCIDIO DE GETÚLIO VARGAS INVERTEU O QUADRO. DE VILÃO, O PRESIDENTE MORTO PASSOU A HERÓI NACIONAL, VÍTIMA DE UMA CONSPIRAÇÃO GOLPISTA LIDERADA PELA UDN E SEGUIDA PELOS MILITARES. LOC: FOI UMA DAS CRISES POLÍTICAS MAIS TRAUMÁTICAS DA HISTÓRIA DA REPÚBLICA BRASILEIRA. VAMOS RECORDAR COMO O REPÓRTER ESSO NA VOZ DE ERON DOMINGUES NARROU O ATENTADO CONTRA CARLOS LACERDA NA RUA TONELEIRO EM COPACABANA. NO ATENTADO, MORREU O MAJOR DA AERONÁUTICA, RUBEN VAZ, O QUE DESENCADEOU UMA ENORME PRESSÃO PELA DERRUBADA DE GETÚLIO. Téc: Repórter Esso: TÉC: Repórter Esso: “E atenção, ouvintes: Rio – o jornalista Carlos Lacreda foi ferido na madrugada de hoje num atentado a bala em frente a sua residência, na Rua Toneleiros, em Copacabana. No atentado, perdeu a vida o major aviador Ruben Florentino Vaz, que acompanhava o diretor da Tribuna da Imprensa.” LOC: E AGORA, NA NOITE DO DIA 24 PARA 25 DE AGOSTO DE 54, O REPÓRTER ESSO TENTAVA ANTECIPAR SEUS FATOS. Téc: Repórter Esso:” TÉC: Trecho Anunciando O Suicídio – Repórter Esso: “O Palácio de Catete acaba d e informar oficialmente que o senhor Getúlio Vargas deixará o governo. Todos os ministros (...?) encontram-se reunidos no palácio presidencial, e a informação oficial é de que o presidente da República vai se licenciar por tempo indeterminado. O vice-presidente Café Filho assumirá o governo.” LOC: 3 HORAS DEPOIS NO ENTANTO, QUASE NA MANHÃ DE 25 DE AGOSTO DE 54, A NOTÍCIA DEFINITIVA AINDA PELO REPÓRTER ESSO E ERON DOMINGUES. Téc: Repórter Esso: “Acaba de suicidar-se, em seus aposentos, no Palácio do Catete, o presidente Getúlio Vargas” LOC: VIERAM OS ANOS JK. O PAÍS PASSOU POR UM SALTO DE MODERNIZAÇÃO QUE NÃO SE LIMITOU À INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA. SURGIRAM O CINEMA NOVO, A BOSSA NOVA, E O BRASIL GANHOU A SUA PRIMEIRA COPA DO MUNDO, VENCENDO UM VELHO COMPLEXO DE DERROTA. LOC: O PLANO DE METAS DO PRESIDENTE ELEITO, PROMETIA CINQUENTA ANOS EM CINCO. A CHAPA, COM JOÃO GOULART, O JANGO, DO PTB, COMO VICE, TEVE 36 POR CENTO DOS VOTOS. LOC: JK DERROTOU O GENERAL JUAREZ TÁVORA, DA UDN, QUE TEVE 30%, ADEMAR DE BARROS, DO PSP QUE TEVE 26%, E O VELHO INTEGRALISTA PLÍNIO SALGADO, QUE DISPUTOU PELO PRP E TEVE INSIGNIFICANTES 8%. LOC: O JINGLE DE CAMPANHA DE ADEMAR DE BARROS, ERA ASSIM: tec: jngle de Ademar de Barros: LOC: MAS, ANTES DA POSSE DE JK, HOUVE NOVA TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO. OS UDENISTAS ALEGARAM QUE NÃO HOUVE MAIORIA ABSOLUTA E TENTARAM IMPEDIR A TRANSMISSÃO DO CARGO. LOC: CAFÉ FILHO SOFREU UM ATAQUE CARDÍACO E PASSOU O GOVERNO AO PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, O MINEIRO CARLOS LUZ, DA UDN. ALGUNS ANALISTAS GARANTIRAM QUE O ATAQUE CARDÍACO DE CAFÉ FILHO FOI FORJADO. LOC: CARLOS LUZ TENTOU O GOLPE, E DEMITIU O MINISTRO DA GUERRA, GENERAL HENRIQUE TEIXEIRA LOTT. NOMEOU PARA O CARGO O GENERAL FIUZA DE CASTRO. LOC: MAS LOTT E O COMANDANTE DO PRIMEIRO EXÉRCITO, GENERAL ODÍLIO DENYS, ERAM LEGALISTAS E IMPEDIRAM A ADESÃO MILITAR AO GOLPE. IMPUSERAM O ESTADO DE SÍTIO COM O APOIO DO PRESIDENTE DO SENADO, NEREU RAMOS, E GARANTIRAM A POSSE DOS ELEITOS: JUSCELINO KUBITSCHEK E JOÃO GOULART. E JK FINALMENTE TOMOU POSSE. TÉC: Discurso de JK: “Prometo manter, defender e cumprir a Constituição da República; observar as suas leis, promover o bem geral do Brasil, sustentar (?) a união, a integridade, e a independência” “Declaro empossado, no cargo de Presidente da República senhor Juscelino Kubitschek de Oliveira.” LOC: NEREU RAMOS, PASSOU O CARGO AO PRESIDENTE ELEITO EM 31 DE JANEIRO DE 56. A VITÓRIA DE JUSCELINO E JANGO FOI UMA VITÓRIA DO GETULISMO E UMA DERROTA DA UDN. LOC: A MORTE DE CARMEM MIRANDA FOI UMA COMOÇÃO NACIONAL TÃO FORTE QUANTO A DE AYRTON SENNA, QUARENTA ANOS DEPOIS. ELA MORREU NOS ESTADOS UNIDOS DEPOIS DE TER SIDO USADA COMO COISA EXÓTICA E DEPOIS EXPELIDA PELO SISTEMA. O CORPO FOI TRAZIDO PARA SER ENTERRADO NO BRASIL. LOC: VAMOS VOLTAR A FALAR DO QUE FOI O GOVERNO JK E OS 50 ANOS EM 5 DAQUI A POUCO. ANTES VAMOS RECUAR UM POUCO A 54. LOC: NESTE ANO PERDEMOS MAIS UMA COPA DO MUNDO, DESTA VEZ NA SUÍÇA. LOC: SÓ QUE AO CONTRÁRIO DA COPA ANTERIOR, A DE 50 AQUI NO BRASIL, PERDEMOS PARA UM TIME MELHOR DO QUE O NOSSO: A SELEÇÃO DA HUNGRIA. O PRÓPRIO NILTON SANTOS, TITULAR DA LATERAL ESQUERDA, ADMITE QUE A HUNGRIA ERA O MELHOR TIME DA COPA. Téc: Nilton Santos: “Eu acho que em 54 quem tinha que ser campeão era a Hungria. Era o melhor time. Eu tive até um, atrito não que eu sempre fui amigo do Zezé, mas ele queria que eu fosse assistir o treinamento da Hungria. Eu disse: ‘eu não vou, porque vocês vão e voltam apavorados, por que eu vou? ‘” LOC: MESMO ASSIM, NILTON SANTOS CULPA A DIREÇÃO DA CBB, COMO ERA CHAMADA A CBF. O GRANDE NILTON SANTOS ATÉ HOJE LAMENTA A DESORGANIZAÇÃO. NOSSOS DIRIGENTES NÃO CONHECIAM NEM O REGULAMENTO. LOC: EM UM JOGO DAS QUARTAS DE FINAL CONTRA A YOGUSLÁVIA, O EMPATE EM 1 A 1, SERVIA AOS DOIS TIMES QUE SE CLASSIFICAVAM COM O RESULTADO. LOC: COMO NÃO CONHECIAM O REGULAMENTO, NOSSOS JOGADORES CORRERAM COMO LOUCOS EXPLICA NILTON SANTOS: TÉC: Nilton Santos. “Bagunça total. A gente ganhou do México o primeiro jogo, empatou com a Iugoslávia, estava classificado e não sabia. Eu tinha jogado um quadrangular em Montevidéu, um ano antes, com (...?) vermelha. Jogava um tal de (...?), um meia direita baixinho, iugoslavo; durante o jogo ele apontava pra mim, que um a um tava bom. E eu dizia ‘esse cara quer me levar na onda, pensa que eu sou o que?’. Ma não éramos ó nós jogadores que não sabíamos que estávamos classificados. Eu perdi quatro quilos e trezentos nesse jogo, porque houve prorrogação, um sol danado, e eu correndo feito louco. Eu não sabia. Podia jogar até mais tranqüilo. De repente até a gente ganha o jogo. Mas naquele desespero... eu sei que acabou o jogo, foi um tédio. No vestiário você ouvia uma mosca voar. Um olhando pra cara do outro, ‘puxa, o que é que a gente veio fazer aqui? Joga com o México, empata com a Iugoslávia, volta pro Brasil. O que que a gente veio fazer aqui?’ De repente veio lá um herói da CBT, hoje CBF: ’vamos, gente, nós estamos (?) na brincadeira ainda’’” LOC: A DERROTA NESTA COPA, CRIOU UM OUTRO MITO NO FUTEBOL BRASILEIRO: O DE QUE O MAIOR GOLEIRO DA HISTÓRIA DO NOSSO FUTEBOL, O GRANDE CASTILHO DO FLUMINENSE, NÃO SE DAVA BEM JOGANDO PELA SELEÇÃO. POR ISSO ACABOU NA SOMBRA DE GILMAR NAS DUAS COPAS SEGUINTES. LOC: PERDEMOS DE 4 A 2 PARA A HUNGRIA NA SEMI-FINAL E O TIME HÚNGARO, O MELHOR DA COPA, PERDEU A FINAL PARA A ALEMANHA, QUE NILTON SANTOS JURA QUE JOGOU SOB EFEITO DE DOPPING tec: “Mulé Rendeira” LOC: NOS ANOS 30, NÓS FALAMOS DA GLAMOURIZAÇÃO DO CANGACEIRO PELO CINEMA NACIONAL. O PRIMEIRO FILME RESPONSÁVEL POR ISSO, FOI O CANGACEIRO DE LIMA BARRETO, COM MILTON RIBEIRO, VANJORICO (?), E ALBERTO ROCHA. FOI MUITO ELOGIADO. LOC: ERA UM PRODUTO DA VERA CRUZ, EMPRESA PAULISTA QUE BUSCAVA UM CINEMA COM PADRÃO NORTE AMERICANO. A VERA CRUZ TINHA SIDO CRIADA PELO MESMO FRANCO ZAMPARI DO TEATRO BRASILEIRO DE COMÉDIA. E O CANGACEIRO TINHA TODA A LINGUAGEM E O ACABAMENTO DE UM FAROESTE NORTE AMERICANO, COMO EXPLICA O CRITICO PAULO PERDIGÃO. téc: Paulo Perdigão sobre o filme “O Cangaceiro”. “Ele, de fato, era um filme bem aventuresco; hoje em dia seria um total descabimento você fazer um filme sobre o cangaço filmado no interior e São Paulo. Isso não teria o menor sentido. Agora, um filme como ‘O Cangaceiro’ ficou datado, não acredito que um novo ‘Cangaceiro’, que agora foi feito, chegue, no entanto à altura do original. LOC: A OUTRA PONTA DO CINEMA BRASILEIRO ERAM AS CHANCHADAS DA EMPRESA CARIOCA ATLÂNTIDA. DIRIGIDA POR WATSON MACEDO E CARLOS MANGA. TINHA GRANDES ATORES: EMILIANA, SIL (?) FARNEY, JOSÉ LEW GOY, OSCARITO, ANCHITO E GRANDE OTELO. LOC: E A PRESENÇA DOS GRANDES CANTORES DO RÁDIO, COMO ÂNGELA MARIA, EMILINHA BORBA, MARLENE, CAUBY, JORGE GOULART, LUCIO ALVES, CARLOS GALHARDO. HOJE, TODO MUNDO ADORA MAS NA ÉPOCA, ERA CONSIDERADO CAFONA, BREGA, COMO ESPLICA PAULO PERDIGÃO: TÉC: Paulo Perdigão: “Na época era uma coisa intolerável. Eles ganharam, com o tempo, essa que é a questão. Virou uma coisa “kitsh”, que hoje você pode até curtir nesse nível. É uma delícia você poder assistir aqueles números musicais da Atlântida; a produção é de tal ordem pobre e tudo de um mal gosto tão extraordinário, que chega a ser muito engraçado, até. “ LOC: JUSCELINO KUBITSCHEK TOMOU POSSE EM 31 DE JANEIRO DE 1956, COM 54 ANOS DE IDADE INCOMPLETOS. O BRASIL TINHA 70 MILHÕES DE HABITANTES. ENQUANTO ELE TOMAVA POSSE, O CINEMA NACIONAL DAVA UMA GUINADA. UM GRUPO DE JOVENS ESTUDIOSOS DE CINEMA, CRÍTICOS E ASPIRANTES A DIRETORES, RESOLVEU TRABALHAR. LOC: É... ELES NÃO ACEITAVAM O MODELO NORTE AMERICANO DE CINEMA, QUERIAM CRIAR UM CINEMA VERDADEIRAMENTE NACIONAL, BRASILEIRO, E FORAM INFLUENCIADOS PELA TEMÁTICA DO NEO REALISMO ITALIANO. LOC: E UM DESSES RAPAZES FEZ UM FILME QUE INAUGUROU O CHAMADO CINEMA NOVO. O DIRETOR ERA NELSON PEREIRA DOS SANTOS, E O FILME: RIO 40 GRAUS. PAULO PERDIGÃO DIZ QUE VITORIO DE SICCA, E SEU LADRÃO DE BICICLETAS, ERAM OS MODELOS. TEC: Paulo Perdigão: “ É como eles rotulam. Recentemente, eu revi o ‘Ladrão de Bicicletas’, que é considerado um dos marcos do neo-realismo italiano, e que na época, o roteirista César Zabatini dizia que o objetivo do neo-realismo era filmar o homem da rua, ou seja, filmar 24 horas na vida de um homem a quem nada acontece. No entanto, esse filme é um neo-idealismo, porque é a história de um operário cuja vida depende de uma bicicleta. E a bicicleta dele é roubada. Então, essa é a coisa mais importante que poderia acontecer a esse homem. E há uma série de artifícios de retórica, que eu posso resumir apenas num último exemplo, é que ele, no início do filme, a bicicleta dele é roubada e não há uma só pessoa que o ajude. E no final, quando ele, em desespero, resolve roubar uma bicicleta, todas as pessoas em volta contra ele.” LOC: NELSON PEREIRA DOS SANTOS CONFIRMA QUE RIO 40 GRAUS DEU A PARTIDA PARA O CINEMA NOVO. tec: trechos da entrevista de Nelson Pereira dos Santos sobre o filme “Rio 40 graus”: “Eu acho que o ‘’Rio 40 Graus’’, pelo fato de ter motivado o Gláuber, o León, o Joaquim Pedro, eles sempre depõem que foi graças a esse filme que eles resolveram fazer cinema. Então, só posso concordar com o Gláuber. Na realidade, éramos todos, assim, muito ansiosos por encontrar um caminho para o Cinema Brasileiro, que era muito acadêmico, muito de imitação. E eu tive a chance de fazer primeiro porque era mais velho que eles.” LOC: NELSON CONFIRMA TAMBÉM A INFLUÊNCIA DO NEO-REALISMO ITALIANO E VITORIO DE CISA E CESARE SAVATINI. tec: “No meu caso, sim, muito forte, claro. Foi o neo-realismo que deu uma grande lição, de fazer filme com pouco dinheiro, sem estúdio, sem estrelas, sem o equipamento de ‘up to date’, mas com uma idéia na cabeça. Depois o Gláuber fez “uma idéia na cabeça e uma câmara na mão”. LOC: NELSON PEREIRA CONTA AGORA COMO RESOLVEU FAZER O FILME PRATICAMENTE SEM DINHEIRO: tec: ‘Rio 40 graus’ é, enfim, um filme da crise. Porque na época eu estava no Rio e Janeiro; trabalhava numa empresa, a Plama, que produzia uns dois três filme por ano. E nessa época que já tinha acontecido a crise da Vera Cruz,, essa empresa fechou. A própria Atlântida, que era a empresa , melhor financeiramente, também suspendeu suas atividades. Então eu fiquei no Rio de janeiro aguardando um novo trabalho; enquanto isso, escrevia o roteiro, conhecia favela... e fiz um roteiro: ‘Rio 40 Graus’, e procurei produtores. Não encontrei. Aí resolvi ser eu mesmo o produtor, juntamente com um grupo e amigos, todos eles também técnicos de cinema, como o Hélio Silva, assistente de fotografia. Ele passou a ser diretor de fotografia, aí um grupo enorme que apoiou e trabalhou no filme. Os técnicos, os atores, entravam o trabalho como capital; fizemos uma espécie de cooperativa, e conseguimos realizar o filme. Em um ano de trabalho o filme ficou pronto.” LOC: POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, A PROIBIÇÃO DO FILME, O OBSCURANTISMO DA CENSURA EM PLENO ESTADO DE DIREITO, AJUDOU MUITO RIO 40 GRAUS A SE TORNAR UM SUCESSO DE BILHETERIA. Téc: Nelson Pereira dos Santos:” Acontece que o chefe de polícia caçou o certificado de censura, que a gente já tinha obtido. Isso não era ainda o tempo da ditadura. Era a Constituição de 46, o regime democrático, o presidente era o Café Filho. Então houve uma campanha de solidariedade ao filme. Essa campanha foi liderada pelo saudoso Pompeu de Sousa, que na época era diretor do Diário carioca, diretor de redação do jorna Diário Carioca, que liderou a campanha para a liberação do filme. Conseguimos ganhar na justiça, com um mandado de segurança o filme saiu, foi um sucesso.” LOC: A MÚSICA TEMA DE RIO 40 GRAUS FOI: EU SOU O SAMBA DO MALANDRO CARIOCA ZÉ KETI CANTADA POR JORGE GOULART, CONHECIDO COMO BOCHECHA DE ALUMÍNIO, APELIDO DADO PELO APRESENTADOR DE RÁDIO CÉSAR DE ALENCAR. TÉC: Eu Sou o Samba. LOC: NELSON PEREIRA DOS SANTOS, GOSTOU TANTO DA MÚSICA TEMA DE RIO 40 GRAUS, E FICOU TÃO AMIGO DE ZÉ KETI, QUE RETRATOU O SAMBISTA EM SEU FILME SEGUINTE: RIO ZONA NORTE. TÉC: “O ‘’Rio Zona Norte’ é a história de um compositor de samba popular que o grande Otelo interpreta magistralmente. Aparece a Ângela Maria. O ‘’Rio Zona Norte’ é uma espécie de biografia do amigo e compadre Zé Keti. A história é toda essa, do compositor que sofre um desastre no trem da Central. Relembra a vida dele toda.” LOC: EM SEGUIDA, NELSON PEREIRA DOS SANTOS, VIAJOU PARA O NORDESTE PARA FILMAR VIDAS SECAS, BASEADO EM GRACILIANO RAMOS, MAS A CHUVA ATRAPALHOU. ELE ENTÃO IMPROVISOU UM OUTRO FILME CHAMADO MANDACARU VERMELHO, DEPOIS VIERAM RIO ZONA NORTE E O BOCA DE OURO. LOC: QUEM PRODUZIU BOCA DE OURO FOI O ATOR JESSE VALADÃO. ELE ESTAVA CASADO COM UMA IRMÃ DE NELSON RODRIGUES, AUTOR DA PEÇA, CHAMADA DULCE, E NÃO QUERIA NENHUM DAQUELES DIRETORES QUE COMPLICAVAM, QUE FAZIAM FILMES QUE NINGUÉM ENTENDIA, E JESSE ESCOLHEU NELSON PEREIRA DOS SANTOS. téc: “Foi meu ator, fui eu que inventei o Jesse Valadão. ‘Rio 40 Graus’, ‘Rio Zona Norte’; então ele confiava bastante no meu trabalho, me chamou pra fazer o filme. E o filme foi muito bem, um grande sucesso e bilheteria. E logo em seguida eu fiz o “Vidas Secas”, de verdade.” Téc: música: Funeral de um Lavrador. Cai em BG. LOC: ENQUANTO JUSCELINO TOMAVA POSSE EM 55, JOÃO CABRAL DE MELO NETO, POETA E DIPLOMATA, UM DOS MAIORES POETAS DA LINGUA PORTUGUESA, LANÇAVA MORTE E VIDA SEVERINA, BELO POEMA SOCIAL QUE MAIS TARDE GANHARIA MÚSICA DE CHICO BUARQUE DE HOLLANDA. LOC: DENTRE OS PRECURSORES DA BOSSA NOVA, COMO LUCIO ALVES, DICK FARNEY, JOHNNY ALF, UMA MOÇA SE DESTACAVA COM UMA GRANDE TRANÇA, UM ROSTO E UMA VOZ MUITO BONITOS: DORIS MONTEIRO. UM DE SEUS GRANDES SUCESSOS É A MÚSICA DÓ-RÉ-MI DE FERNANDO CÉSAR. FERNANDO CÉSAR, ERA UM PORTUGUÊS DONO DA FÁBRICA DE SABÃO UNIÃO FABRIL EXPORTADORA. A PRÓPRIA DORIS CONTA O RESTO DA HISTÓRIA: téc: “E era, também, um dos patrocinares do Chacrinha. Então, o Chacrinha ficava atrás de mim: ‘olha, Dóris, você tem eu ir conhecer o seu Fernando, porque o Fernando tem uma músicas lindas, ele tem uma sensibilidade incrível’. E eu dizia: ‘Chacrinha, eu não misturo as coisas, você tá querendo fazer média com seu patrocinador, mas como é que pode você me dizer uma coisa dessa. Uma pessoa que faz sabão vai ter sensibilidade pra fazer música?. Mas Abelardo- nós tínhamos muita intimidade, ele foi meu padrinho de casamento -, eu não quero conhecer. Já pensou, agora eu vou pra casa dele, vou ficar ouvindo aquela coisarada de música” LOC: MAS DORIS MONTEIRO ACABOU ACEITANDO CONHECER FERNANDO CÉSAR, COM A INTENÇÃO DE DESCARTAR LOGO A IDÉIA DE GRAVAR AS MÚSICAS DELE. MAS FOI UMA SURPRESA. APESAR DE FABRICANTE DE SABÃO ELE ERA UM GRANDE COMPOSITOR. COMO PROVA DÓ-RÉ-MI, ATÉ HOJE CARRO CHEFE DE DÓRIS MONTEIRO EM SEUS SHOWS. TÉC: Música Dó-Ré-Mi LOC: UMA OUTRA MÚSICA DE FERNANDO CÉSAR GRAVADA POR DÓRIS MONTEIRO, FOI JOGA A REDE NO MAR. TÉC: Joga a Rede no Mar. LOC: ARI BARROSO DIVIDIU O TEMPO ENTRE AS SUAS COMPOSIÇÕES, A APRESENTAÇÃO DE PROGRAMAS DE AUDITÓRIO E DE CALOUROS E AS TRANSMISSÕES ESPORTIVAS. O GOL ERA NARRADO COM O TOQUE DE UMA GAITA. TÉC: Ari Barroso: (?) LOC: O PLANO DE METAS DE JUSCELINO PREVIA A INDUSTRIALIZAÇÃO RÁPIDA DO BRASIL. AO CONTRÁRIO DE GETÚLIO, QUE BUSCOU UMA INDÚSTRIA NACIONAL FORTE, JK PARTIU PARA UM DESENVOLVIMENTO MESCLADO DE EMPRESAS BRASILEIRAS E MULTINACIONAIS. LOC: JUSCELINO NÃO CONFIAVA MUITO NA BUROCRACIA DO GOVERNO, QUERIA PRESSA, E POR ISSO CRIOU OS CHAMADOS GRUPOS EXECUTIVOS PARA ATUAR EM DETERMINADOS SETORES. LOC: E COM ISSO, ELE PÔDE PAGAR ALTOS SALÁRIOS E TRAZER TÉCNICOS PARA ATUAR NOS GRUPOS DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA, DA INDÚSTRIA NAVAL, DA PROTEÇÃO À PEQUENA E MÉDIA EMPRESA, DA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA. LOC: OS GRUPOS ERAM MAIS PODEROSOS DO QUE OS MINISTÉRIOS. O GRUPO FORMADO PARA CONSTRUIR BRASÍLIA, NA VERDADE, ERA UMA EMPRESA PÚBLICA, A NOVACAP, DIRIGIDA PELO MINEIRO ISRAEL PINHEIRO. A TOQUE DE CAIXA, BRASÍLIA FOI CONSTRUÍDA, EM TRÊS ANOS. LOC: JUSCELINO ENFRENTOU DUAS REBELIÕES DE MILITARES DA AERONÁUTICA EM SEU GOVERNO, EM ARAGARÇAS E JACAREACANGA. SUFOCOU AS DUAS E ANISTIOU OS REBELDES. LOC: JK ACREDITAVA QUE O BRASIL TINHA QUE DEIXAR DE SER UM PAÍS AGRÍCOLA E SE TORNAR UM PAÍS INDUSTRIAL. ARROCHOU SALÁRIOS E BARATEOU A MATÉRIA PRIMA, PARA FACILITAR O CRESCIMENTO INDUSTRIAL. DEU SUBSÍDIOS E INCENTIVOS FISCAIS PARA EMPRESAS ESTRANGEIRAS QUE SE INSTALASSEM AQUI. LOC: O PRESIDENTE EXECUTOU UM PLANO DE DESENVOLVIMENTO BASEADO NAS TESES DO GRUPO MISTO BNDE, CEPAL E TAMBÉM DA COMISSÃO MISTA BRASIL ESTADOS UNIDOS. LOC: FACILITOU AO MÁXIMO A IMPORTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS E MÁQUINAS INDUSTRIAIS, AMPLIOU AS INSTALAÇÕES DA PETROBRÁS, PROCUROU CRIAR TODA UMA INFRA-ESTRUTURA INDUSTRIAL, COM NOVAS SIDERÚRGICAS, HIDRELÉTRICAS. "GOVERNAR É ABRIR ESTRADAS" ERA UM DOS LEMAS. Parte 2 - O Governo JK, ascensão da TV VOLTAMOS A APRESENTAR [...] LOC: NO GOVERNO JK, O NÚMERO DE APARELHOS DE TELEVISÃO E RESIDÊNCIAS CHEGOU A 60 MIL, PRINCIPALMENTE NO RIO, SÃO PAULO E BELO HORIZONTE. MAS AINDA ERA O RÁDIO QUEM TINHA PREFERÊNCIA POPULAR. É QUE ALÉM DO FATO DE QUE O RÁDIO ERA UM HÁBITO, A TV ERA UM LUXO A QUE POUCOS SE PODIAM DAR. TÉC: Prog. César De Alencar. LOC: O PROGRAMA CÉSAR DE ALENCAR, CHEGOU A TER UM PÚBLICO DE 20 MIL PESSOAS NO MARACANANZINHO EM 56, SEM CONTAR A AUDIÊNCIA NAS RESIDÊNCIAS. ATÉ PROGRAMAS DE GINÁSTICA EM CASA ERAM TRANSMITIDOS PELO RÁDIO. O PROFESSOR OSVALDO DINIZ MAGALHÃES COMANDOU DURANTE MUITOS ANOS A HORA DA GINÁSTICA, TODO DIA RELIGIOSAMENTE AS 6:00 DA MANHÃ. TÉC: Prog. De Ginástica. LOC: HAVIA OS CHAMADOS PROGRAMAS DE CALOUROS. JOÃO MARQUES, LOCUTOR ATÉ HOJE DA PARTE DO SENADO, NA VOZ DO BRASIL, E EM DOS MAIS EXPERIENTES PROFISSIONAIS DE RÁDIO EM ATIVIDADE NO BRASIL, CONTA COMO ERA: TÉC: João Marques: “Um dos mais famosos programas de calouros do rádio brasileiro de todos os tempos foi, sem dúvida alguma, o programa que ia ao ar pela TV Tupi, do Rio, nos idos de 40, 50, às oito da noite aos domingos, de oito às nove, comandado pelo Ari Barroso: “”Calouros em Desfile”. O candidato que não fosse bem, era gongado. O Macalé é quem, a um sinal convencional do Ari, gongava o candidato. Aquele que fosse bem, ganhava nota máxima, que era cinco. E tinha um prêmio em dinheiro, que não me lembro agora de quanto era esse prêmio. Mas, o Ari era muito exigente. Pra tirar nota cinco com o Ari, Deus me livre!, precisava ser, realmente, um artista. Uma das cantoras conhecidas internacionalmente, a nossa Sapoti, Ângela Maria, passou por esse programa, e sempre tirou a nota máxima com o Ari. Um outro programa famoso também, na época, era da Rádio Nacional. Aliás, a Nacional tinha dois programas de calouros muito famosos, muito ouvidos: “A Hora do Pato’, aos domingos às duas horas da tarde, comandado pelo Jorge Cury : o candidato que não fosse bem, o pato estrilava. Eles colocavam o pato sobre a voz do cantor (imita o pato); era mais ou menos assim, era interessante. E o “Papel Carbono”, do Renato Musse (?), transmitido também aos domingos, à noite, os candidatos imitavam artistas famosos. Esses eram os três programas mais famosos do rádio. Programas de calouros, bem entendido.” LOC: O PÚBLICO TAMBÉM ADORAVA AS ADAPTAÇÕES PARA O RÁDIO DE SERIADOS DE SUCESSO. ADAPTAÇÕES DE HISTÓRIA EM QUADRINHOS E FILMES. POR EXEMPLO, O SOMBRA COM SANCLAIR LOPES. TÉC: O Sombra LOC: O HORÁRIO NOBRE NO RÁDIO ERA O MESMO NA TELEVISÃO DE HOJE. E HAVIA UMA SEQUÊNCIA DE SERIADOS DE AVENTURA NOS FINAIS DE TARDE. PRIMEIRO, AS 5:30, CAVALEIRO DA NOITE, ADAPTAÇÃO DE ZORRO COM SUA MÁSCARA, A CAPA E A ESPADA, ALTEREGO JUSTICEIRO DE UM NOBRE QUE SE FINGIA DE AFEMINADO. LOC: EM SEGUIDA, AS 6 HORAS, AS AVENTURAS DO ANJO. ERA UM DETETIVE BRASILEIRO CRIADO E ESCRITO POR SANCLAIR LOPES E ESTRELADO POR ALVARO AGUIAR. TEC: Anjo. LOC: DEPOIS AS 6:30, O CARRO CHEFE, O FAVORITO DE TODO MUNDO: GERONIMO, O HEROI DO SERTÃO. CRIAÇÃO DE MOISES VELTMAN, ESTRELADO POR MILTON RANGEL. COMO O NOME DIZ ERA UM JUSTICEIRO QUE ANDAVA POR UM SERTÃO INDEFINIDO QUE PODERIA SER EM QUALQUER ESTADO NORDESTINO OU ATÉ NO INTERIOR DE MINAS GERAIS, OU NO ESTADO DO RIO. TÉC: Gerônimo. LOC: E AS NOVELAS SE SUCEDIAM DURANTE TODO O DIA MAS AS PRINCIPAIS ERAM A NOITE NO HORÁRIO NOBRE DEPOIS DA VOZ DO BRASIL. COMO O GRANDE TEATRO ORNIEX. LOC: OS ATORES ERAM PAULO GRACINDO, ROBERTO FAISSAL, DAYSI LUCIDE, E MUITAS VOZES E ROSTOS CONHECIDOS DEPOIS NA TV, COMO MÁRIO LAGO, HENRIQUETA BRIEBA, ELZA GOMES, LUIZ ORIONI, CASTRO GONZAGA. MÁRIO LAGO EXPLICA QUE OS DEMAIS PRESTÍGIOS SO TRABALHAVAM A NOITE. TEC: Mário Lago: “(...?) mas, por exemplo, Paulo Gracindo (...?) escalar de tarde, Paulo Gracindo só trabalhava de noite, o Celso Guimarães só trabalhava de noite. Então, aqueles galãs que não trabalhavam de noite, ainda estavam no principio de carreira, entravam em todas as novelas, das cinco, seis sete, oito. Só aí quatro novelas. Gerônimo, Sombra, Teatro (...?), Teatro de Uma Hora da Tarde; eu escrevi durante cinco anos ‘Presído de Mulheres’, que passava três horas da tarde. Era o dia inteiro de novelas”. LOC: OS AUTORES DAS NOVELAS TAMBÉM ERAM CONHECIDOS: O PRÓPRIO MÁRIO LAGO, JANETE CLAIR, SEU MARIDO DIAS GOMES, AMARAL GURGEL, IVANI RIBEIRO E MUITOS OUTROS. MÁRIO LAGO CONTA QUE O TRABALHO ERA HORRIVEL. TEC: Mário Lago: “Eu escrevia, interpretava e dirigia. A Janete só escrevia. Janete, Raimundo Lopes, Dias Gomes, Amaral, Oduvaldo Viana, Dionélia, (...?) Viana... havia vários autores. Um dos mais permanentes era Raimundo Lopes. Até com Raimundo Lopes aconteceu uma coisa engraçada: o Raimundo Lopes não ia à rádio. Ele morava em Paquetá, escrevia em casa e mandava os capítulos para a rádio. Uma vez, ele foi lá na rádio. Estava o diretor da rádio, Mário Neiva nessa época, no escritório. O Raimundo Lopes chegou, e o Neiva começou a falar, um negócio dos direitos autorais que ganhavam os autores, que era coisa muito distorcida e tal. O Raimundo Lopes virou-se pra ele e disse: ‘o que é que o senhor entende de rádio? O que é que o senhor entende disso? Não se meta na conversa onde não é chamado. Foi demitido. O Fernando Lobo depois dizia pra ele: ‘ô, Raimundo, você tem que freqüentar a rádio para saber quem é que está mandando na hora. Você não sabia que aquele era o diretor d rádio. É o mal de você ficar em Paquetá. Você tem que, de vez em quando, passar por aqui pra saber quem é o diretor, pra saber como é que vai se portar, não é? “. LOC: AS VEZES A NOVELA JÁ ESTAVA NO AR E O AUTOR NA SALA AO LADO DO ESTÚDIO TINHA QUE PASSAR AS FOLHAS SEGUINTES DO SCRIPT POR BAIXO DA PORTA EM UMA LUTA CONTRA O TEMPO. TEC: Mário Lago.:”Eu sempre escrevi a novela (...). , o “Presídio de Mulheres” e o romance das cinco horas da tarde. Eu era conhecido no rádio como “O Príncipe’’. Escreve hoje, porque a cada príncipe (...?) o homem de amanhã. E eu escrevia hoje o capítulo de ontem. Eu já levava no stencil. Eu tinha stencil em casa. No rádio aconteceu muito de botar script por debaixo da porta. O programa já estar no ar, ia escrevendo e botando por baixo da porta. Eu sentava 10 hrs da noite, no domingo. Escrevia até sete horas da manhã. Fazia seis capítulos. Porque (...) o dinheiro eu recebia na hora. Depois é que eu vinha pra casa dormir. Dava pra escrever 6 capítulos numa noite.”. LOC: MARIO LAGO CONTA TAMBÉM QUE HAVIA GRANDES ATORES, E ATORES QUE SÓ TINHAM VOZ BONITA. ROBERTO FAISSAL QUE FAZIA O CAVALEIRO NEGRO, E ERA O PRINCIPAL GALÃ DA RÁDIO NACIONAL, ERA UM DESSES. TEC: Mário Lago: “ LOC: SEGUNDO MARIO LAGO, COM A TELEVISÃO, SÓ OS QUE TINHAM ESPERIÊNCIA COM TEATRO, OU BELEZA FÍSICA FORAM APROVEITADOS. TEC: Mario Lago: ”Nós vínhamos de teatro. Eu, gracindo, vínhamos de teatro. Tínhamos feito teatro, começamos nossa carrreira fazendo teatro. Eu comecei a me apresentar como ator, em teatro. Depois eu fui pra rádio, e, do rádio pra televisão. O rádio era apenas ter uns voz bonita. Não precisava nem, ás vezes, inflexionar, a voz era bonita. É que nem a cara bonita na televisão. Você vê cada canastrão por aí, filha da puta aí, mas tem a cara bonita, lindo, que quando entra no auditório as meninas gritam “lindo, lindo, lindo!”. E não valem nada como atores.A cara bonita, no rádio, era a voz bonita. Tinha uma voz bonita, não se exigia inflexão. O Roberto Faissal ganhava pouco. Casou. E surgiu a oportunidade de vender Enciclopédia Barsa. E ele sempre foi muito organizado. As cartas que ele recebia, ele ia botando no arquivo, separava por bairro, e tal, tinha tudo muito bem organizado. E disse: ‘Roberto, você está com a fortuna na mão. No domingo de manhã, você pega uma rua, bota as cartas, vai vendo, pega a Barsa, bota no seu carrinho e bate na porta. E era inevitável batia na porta: “Bom dia, eu quero falar...” A mulher dizia: peraí... mas essa voz é do Roberto Faissal!”. “Exato, minha senhora”. Daqui a pouco a casa estava cheia de mulheres da vizinhança e ele ia vendendo (?) as enciclopédias. LOC: OUTRO AUTOR, DIAS GOMES, CONFIRMA O SACRIFICIO E A MÁ REMUNERAÇÃO DO TRABALHO EM RÁDIO. TEC: Dias Gomes: “Era uma loucura. Como a televisão de hoje, uma casa de fazer doido. Eu, por exemplo, ia pra estação em São Paulo, das emissoras associadas. Eu costumava ir às dez horas da manhã e ficar até às dez da noite, o dia inteiro escrevendo. Escrevia programas que iam ao ar durante o dia. Isso que o Mário conta é verdade. Às vezes a gente estava escrevendo um programa e o programa já estava começando a ser ensaiado. Às vezes entrava no ar e não havia escrito a última página. Isso era realmente uma loucura. E era um programa atrás do outro. Escrevia dois rês programas por dia. Programas curtos. O salário não era tão baixo assim, mas também não era nada mirabolante.” LOC: A RADIO NACIONAL ERA LÍDER DE AUDIÊNCIA. COMO DISSEMOS ANTES, UMA ESPÉCIE DE TV GLOBO OU HOLYWOOD BRASILEIRA DOS ANOS 40/50. MAS HAVIA OUTRAS IMPORTANTES, COMO CONTA JOÃO MARQUES QUE TRABALHOU EM PRATICAMENTE TODAS ELAS. TEC: João Marques.: ”Além da Nacional, que realmente era líer de audiência em todo o Brasil, tínhamos a Tupi, ouvidíssima, talvez a segunda colocada, e a Mayrink Veiga. Elas tinham grandes orquestras, com vários maestros. Na Nacional nós tínhamos o Radamés (...?), o (...?), o Maestro Chiquinho. Essa orquestra do Chiquinho participava mais de programas de auditório, como o do César de Alencar, do Manuel Barcelos, do Paulo Gracindo, que foi animador de auditório também. Na Tupi nós tínhamos o maestro Carioca, o maestro Severino Araújo, o maestro Milton Calazans, que dirigia a Orquestra de Cordas, essas emissoras tinham, além de grandes orquestras, conjuntos regionais famosíssimos. Na Nacional tínhamos o regional do (...?) Santoro, na Tupi, do Rogério Guimarães, do Claudinor Cruz, e na Radio Clube do Brasil do famosíssimo e saudoso Valdir Azevedo. Essas emissoras lideravam, realmente, a audiência. A Mayrink Veiga vinha no terceiro plano, especializou-se, não se se ainda na década de 50 ou já 60, em humorismo. Grandes artistas famosíssimos, que ainda hoje atuam na televisão, passaram pela Mayrink Veiga fazendo humorismo. Citaria, por agora, apenas o Chico anísio.” LOC: O GOVERNO JK TOMOU EMPRÉSTIMOS EXTERNOS, EMITIU MOEDA A FIM DE CUSTEAR TODO O INVESTIMENTO DO ESTADO NA ECONOMIA E NA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA. RESULTADO: INFLAÇÃO, OU "CARESTIA", COMO SE CHAMAVA NA ÉPOCA. O PRESIDENTE BRIGOU COM O FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL, QUE EXIGIU O FIM DO PLANO DE METAS E AUSTERIDADE MONETÁRIA. LOC: JK TEVE ATÉ QUE DEMITIR SEUS MINISTROS DA ÁREA ECONÔMICA, ROBERTO CAMPOS E LUCAS LOPES. ELES DEFENDIAM A POSIÇÃO DO FMI, QUE EXIGIA EQUILÍBRIO FISCAL. JUSCELINO COMEÇOU O GOVERNO COM UMA INFLAÇÃO DE SEIS POR CENTO AO ANO, E A LEVOU A MAIS DE 40 POR CENTO. LOC: ACABOU CONSEGUINDO UM EMPRÉSTIMO DE QUASE 50 MILHÕES DE DÓLARES JUNTO AO FMI PARA IMPLANTAR AS BASES DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA DO BRASIL. ISSO FOI POSSÍVEL GRAÇAS À BASE DEIXADA POR GETÚLIO VARGAS, O BNDE, COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL, A ELETROBRAS, PETROBRAS, E SURGIRAM OS PRIMEIROS AUTOMÓVEIS BRASILEIROS: A HOMSETA E O DKW VEMAG. DEPOIS, VIERAM O FUSCA E TODA A PRODUÇÃO DE CARROS QUE, 30 ANOS MAIS TARDE, SERIAM CHAMADOS DE "CARROÇAS" POR UM OUTRO PRESIDENTE... LOC: NOS ANOS JK, A PRODUTIVIDADE DAS INDÚSTRIAS CRESCEU 35 POR CENTO, A LUCRATIVIDADE 76 POR CENTO E OS SALÁRIOS APENAS 15 POR CENTO. FOI REALMENTE UM ARROCHO SALARIAL. PRINCIPALMENTE PORQUE A INFLAÇÃO CRESCEU. LOC: O CANTOR CAUBY PEIXOTO, SEMPRE USANDO ROUPAS COM CERSIMENTO FRÁGIL PARA QUE AS FÃS PUDESSEM RASGÁ-LO, EMPLACOU SEU MAIOR SUCESSO EM 1956. CONCEIÇÃO DE JAIR AMORIM E DUNGA. tec: Cauby Peixoto canta “Conceição”. LOC: POQUISSIMA GENTE CONHECE O CASAL JORGE NUNES BASTOS E IRACEMA FERREIRA MAIA, CANTORES DE SUCESSO QUE SE CASARAM NOS ANOS 50. LOC: JORGE NUNES BASTOS ESTAVA DECOLANDO PARA O SUCESSO NO INÍCIO DOS ANOS 50, QUANDO O EXPERIENTE COMPOSITOR CUSTODIO MESQUITA COMENTOU: ISSO É NOME DE DONO DE FARMÁCIA, VAI TE ATRAPALHAR. UMA AMIGA QUE GOSTAVA DE UM ANÚNCIO NO RADIO, DO ELIXIR DE INHAME GOULART, SUGERIU: PORQUE VOCÊ NÃO MUDA PARA JORGE GOULART? ELE TOPOU E DEU CERTO. TEC: Jorge Goulart: “ LOC: E IRACEMA FERREIRA MAIA, VIVIA AS TURRAS COM O MARIDO. DEDICAVA-SE A CANTAR MÚSICAS NORTE AMERICANAS. UMA AMIGA SUGERIU MUDANÇA DE NOME: QUE TAL NORA MAY DE MAIO, ELA TOPOU, MAS A CARTA DE UMA FÃ DEPOIS CHAMANDO-A DE NORA MAY, DEU-LHE O NOME DEFINITIVO. LOC: NORA MAY TINHA FAMA DE PERSONAGEM TRÁGICO. O PRIMEIRO MARIDO TINHA TENTADO ENVENENÁ-LA. UM JORNAL NOTICIOU QUE UM HOMEM SE SUICIDARA OUVINDO-A CANTAR. A VOZ MORNA, O ESTILO, AJUDARAM A CRIAR A IMAGEM DE MULHER FATAL. LOC: ELA E JORGE GOULART FICARAM CASADOS PELO RESTO DA VIDA. DIZIAM QUE O SEGREDO ERA MANTER QUARTOS E BANHEIROS SEPARADOS. O PRIMEIRO SUCESSO REAL DE NORA MAY FOI NINGUÉM ME AMA, DE ANTÔNIO MARIA. TEC: Ninguém Me Ama. LOC: TITO MADI TINHA UM ESTILO PRÓPRIO, CANTOR E COMPOSITOR FAZIA SUCESSO EM DISCO, E SE DEDICAVA TAMBÉM ÀS CASAS NOTURNAS. CHOVE LÁ FORA FOI A MUSICA QUE LHE DEU PRESTÍGIO. TEC: Chove Lá Fora. LOC: NO PRÓXIMO PROGRAMA DA SÉRIE SÉCULO 20, A CONCLUSÃO DO GOVERNO JK. ANOS EM QUE O BRASIL FOI FELIZ APESAR DA PERDA DE CONTROLE DA INFLAÇÃO. MAS SURGIU A BOSSA NOVA, FOMOS CAMPEÕS MUNDIAIS DE FUTEBOL PELA PRIMEIRA VEZ, O CINEMA NOVO PARECIA QUE ÍA DECOLAR E O BRASIL FINALMENTE PARECIA QUE IA DAR CERTO. SÉCULO 20 É UM PROGRAMA DA RÁDIO SENADO FM. PRODUÇÃO DE .... ENCERRAMENTO ************************************************************************************************************************************************ TEMA O suicídio de Vargas; Os anos JK; O início do Cinema Novo; A tentativa de golpe à JK; O plano de metas de JK; A construção de Brasília; O lema “governar é abrir estradas”. ************************************************************************ LOCUÇÃO Cezar Motta, Taís Vivaqua João Marques. ************************************************************************ ENTREVISTAS Repórter Esso; Juscelino Kubitschek; Nilton Santos; Paulo Perdigão; Nelson Pereira dos Santos; Dóris Monteiro; João Marques; Mário Lago; Dias Gomes. ************************************************************************ MÚSICAS Mulé Rendeira; Eu Sou o Samba, de Zé Keti, com Jorge Goulart; Dó-Re-Mi, de Fernando César, com Dóris Monteiro; Joga a Rede no Mar, de Fernando César, com Dóris Monteiro; Conceição, com Cauby Peixoto; Ninguém Me Ama, de Antônio Maria, com Nora May; Chove Lá Fora, de Tito Madi; A Flor e O Espinho, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, com Nelson Cavaquinho; A Banda, de Chico Buarque, com Nara Leão.