Ex-diretor da Abin confirma que alertou ministro de Lula sobre invasão às sedes dos Três Poderes
Em depoimento à CPMI do 8 de Janeiro nesta terça-feira (1), o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência Saulo Moura Cunha disse que avisou o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general G. Dias, sobre a possibilidade de invasão de prédios públicos poucas horas antes dos ataques às sedes dos Três Poderes. Ele destacou o envio de alertas para todas as autoridades envolvidas na segurança da capital federal. Cunha afirmou que, a pedido de G.Dias, retirou o nome do ex-ministro de um relatório enviado para o Congresso Nacional. O senador Marcos Rogério (PL-RO) avalia que o depoimento desta terça-feira reforça a omissão ou negligência do governo, que recebeu as informações da possibilidade dos atos extremistas. Já a relatora da CPMI, senadora Elizane Gama (PSD-MA), não descartou uma acareação entre o ex-diretor da Abin e o ex-ministro do GSI. O presidente da Comissão, deputado Arthur Maia (União-BA), estabeleceu um prazo de 48 horas para o ministro da Justiça, Flávio Dino, enviar as imagens do Ministério sob pena de recorrer ao Supremo Tribunal Federal.
Transcrição
COM POSSIBILIDADE DE RECORRER AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, PRESIDENTE DA CPMI CONCEDE PRAZO PARA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA ENTREGAR IMAGENS.
EX-DIRETOR DA ABIN DIZ QUE EX-MINISTRO DO GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL RECEBEU ALERTAS SOBRE AS INVASÕES. RELATORA NÃO DESCARTA ACAREAÇÃO. REPÓRTER HÉRICA CHRISTIAN.
O presidente da CPMI do 8 de Janeiro, deputado Arthur Maia, do União da Bahia, concedeu o prazo de dois dias para que o ministro da Justiça, Flávio Dino, encaminhe à comissão imagens das câmeras do prédio. Em ofício enviado à CPMI, o Ministério da Justiça recusou o compartilhamento alegando que os vídeos são provas usadas no inquérito sigiloso. Arthur Maia não descartou recorrer ao Supremo Tribunal Federal.
A nossa decisão é no sentido de determinar à Mesa que reitere ao ministro Flávio Dino a solicitação dessa CPMI, alertando que caso esta mudança de posicionamento não seja apresentada, nós aí sim encaminharemos a nossa solicitação ao Supremo Tribunal Federal.
Em depoimento à comissão, o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Saulo Moura da Cunha, confirmou o envio de alertas às autoridades sobre a possibilidade de manifestações violentas. Citou um telefonema para o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general G. Dias, no início da tarde do dia 8 comunicando a chegada de 105 ônibus e convocações de manifestantes, que se diziam armados, para a invasão de prédios públicos com a suposta anuência das forças policiais.
Ligo para o general G. Dias por volta de 1:30 e falo com ele: general, nós temos já uma certa convicção, e nesse momento a marcha se deslocava, de que as sedes dos Poderes serão invadidas, ou, pelo menos haverá uma ação violenta em relação a esses prédios.
Saulo Moura da Cunha disse que o ex-ministro solicitou a retirada do nome dele de um relatório da Abin sob o argumento de ele não recebeu as mensagens, mas assessores do GSI incluídos no grupo de WhatsApp. O senador Marcos Rogério, do PL de Rondônia, considera que as declarações demonstram negligência ou omissão do próprio governo.
Nós tivemos um depoimento que começa a revelar um nível de omissão intencional que pode ser caracterizado como crime. O comandante da Polícia Militar do GDF está preso sob acusação de ter se omitido. Quem tem o dever de agir e deixa de agir comete crime. A pergunta é por que G. Dias continua livre, leve e solto tendo conhecimento de todos os fatos e nada tendo feito para impedir o desdobramento que houve no dia 8?
A relatora, senadora Eliziane Gama, do PSD do Maranhão, criticou o ex-diretor da Abin por alterar o relatório a pedido de G. Dias. E não descartou uma acareação entre os dois.
E ordem ilegal não se cumpre, então a gente não pode eximi-lo da responsabilidade em relação à alteração deste documento, como da mesma forma também nós precisamos cobrar a responsabilidade do G. Dias, se ele foi informado e de repente de fato pediu a retirada do nome dele desse documento. O G. Dias, inclusive, foi demitido a posterior pelo presidente Lula e, portanto, o presidente Lula faz o seu papel depois de receber o volume de informações. E a comissão vai fazer isso. Nós vamos ouvi-lo, se tiver que fazer acareação, nós faremos a acareação.
Ao final do depoimento, o ex-diretor da Abin entregou o celular para acesso da CPMI ao envio dos alertas nos dias que antecederam o ataque e no próprio dia da invasão. Da Rádio Senado, Hérica Christian.