No Dia da Consciência Negra, morte de homem negro em supermercado mostra racismo muito presente — Rádio Senado
Dia da Consciência Negra

No Dia da Consciência Negra, morte de homem negro em supermercado mostra racismo muito presente

A morte de um homem negro de 40 anos, vítima de espancamento em um supermercado, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, é a prova de que o Brasil precisa avançar muito para conter a violência desencadeada pelo racismo. O Dia da Consciência Negra é uma oportunidade de reflexão sobre as desigualdades entre negros e brancos. Em 2020, com a pandemia da covid-19 essa desigualdade ficou ainda mais evidente.  A reportagem é de José Odeveza.

20/11/2020, 16h11 - ATUALIZADO EM 20/11/2020, 16h11
Duração de áudio: 04:11
Reprodução / Redes Sociais

Transcrição
LOC: NO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, MORTE DE HOMEM NEGRO POR ESPANCAMENTO EM SUPERMERCADO GAÚCHO MOSTRA QUE RACISMO AINDA É FORTE NO BRASIL. LOC: 20 DE NOVEMBRO: O QUE TEMOS PARA COMEMORAR? A REPORTAGEM É DE JOSÉ ODEVEZA. TÉC: O Brasil amanheceu em choque com a notícia de que João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, foi espancado até a morte por seguranças de uma unidade do supermercado Carrefour, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Episódios como o de João são a prova de que os 132 anos desde a abolição da escravatura no Brasil não foram o bastante para acabar com o racismo e a violência contra a população negra. O ano de 2020, aliás, por conta da covid-19, acentuou os problemas sociais que atingem com maior intensidade os negros, como explica a advogada representante da Coalizão Negra por Direitos, Sheyla Carvalho. (Sheyla Carvalho) Quando ela começou a chegar no Brasil, no Âmbito na coalização Negra por Direitos, a gente já tinha noção de que o impacto para pessoas negras ia ser de forma muito mais agressiva e a realidade tem provado a hipótese. (LOC) Para Sheyla o Brasil precisa levantar dados sobre o impacto da pandemia na vida das pessoas negras para formular melhores políticas públicas voltadas a essa população. (Sheyla Carvalho) A gente teve a coleta de dados até mais ou menos maio dos dados da morte e dos dados dos casos de covid-19 considerando o elemento racial e desde então a gente não tem mais nenhum boletim publicado oficialmente que considere a questão de raça. Então a gente tem uma falsa percepção da realidade. E é algo tão necessário para gente ter compreensão de como essa pandemia vai de fato afetar a realidade social brasileira. (LOC) O reconhecimento do racismo em nossa sociedade também é um ponto central para a diminuição das desigualdades raciais. Em estudo da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, a CONAQ e a organização de direitos humanos Terra de Direitos, de janeiro de 2019 até início de novembro de 2020, foram levantados 49 discursos de ódio racial proferidos por autoridade públicas. Em nenhum dos casos, os autores foram responsabilizados. Givânia Silva, representante da CONAQ explica que este dado mostra como o racismo está presente em todas esferas da sociedade. (Givânia Silva): Racismo é crime e liberdade de expressão é liberdade de expressão. Combater o racismo não é uma tarefa dos negros, não é uma tarefa dos indígenas, não é uma tarefa dos ciganos ou de qualquer outro grupo social marcado pelo pertencimento étnico racial. Combater o racismo é uma tarefa sua, minha porque com um mal social é uma tarefa da sociedade. (LOC) Garantir a presença de pessoas negras nos espaços de tomada de decisão também é uma chave para a diminuição da violência e das desigualdades. Nas eleições municipais desse ano, pela primeira vez, os negros passaram a ser o maior grupo de candidatos, representando 49,9% das candidaturas. E com a obrigatoriedade de distribuição igualitária entre negros e brancos dos recursos públicos para campanhas nos partidos foi possível verificar um aumento de vitórias negras. O número de prefeito negros eleitos saiu de 29% para 32% e o de vereadores de 42% para 45%, se comparado com as eleições de 2016. Para o senador Paulo Paim, do PT do Rio Grande do Sul, o aumento é grande. Ele garantiu que nas próximas eleições em 2022 esse número deverá ser ainda maior, se os partidos realmente cumprirem a cota na distribuição dos recursos de campanha. (Paulo Paim). É inegável que mudou mais ou menos em alguns estados, mas mudou e mudou muito. Mas eu posso eu posso afirmar com maior tranquilidade que 50% dos partidos não cumpriam, se não cumpriram e assim mesmo aconteceu tudo isso de forma positiva, que não tinha acontecido em anos anteriores, calcule agora. E já daqui a dois anos eu tenho muita esperança que vamos ter reflexos já nas eleições para deputado estadual, federal, senador, governador e presidente da república. (LOC) Atualmente, estão em análise no Senado alguns projetos importantes para a população negra, como a revisão programada a cada 10 anos da lei de cotas ao invés da revisão única em 2022. Um projeto para garantir que o Dia da Consciência Negra seja transformado em feriado nacional e também a obrigatoriedade de inclusão de pessoas negras em campanhas publicitárias públicas. Sob supervisão de Maurício de Santi da Rádio Senado, José Odeveza.

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