Plantio de soja ameaça preservação do Pampa — Rádio Senado
Meio Ambiente

Plantio de soja ameaça preservação do Pampa

05/06/2018, 17h11 - ATUALIZADO EM 06/06/2024, 09h47
Duração de áudio: 05:17

Transcrição
LOC: O MENOR BIOMA DO TERRITÓRIO BRASILEIRO É O PAMPA, QUE OCUPA 63% DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, MAS SE ESTENDE POR GRANDE PARTE DO URUGUAI E DA ARGENTINA. LOC: PEQUENO, O PAMPA ENFRENTA O AVANÇO DA MONOCULTURA, PRINCIPALMENTE DA SOJA ENQUANTO PEQUENOS PECUARISTAS LUTAM PARA MANTER AS TRADIÇÕES E O SEU ESPAÇO. SAIBA SOBRE O ESSE BIOMA NA REPORTAGEM ESPECIAL DE JEFFERSON DALMORO. TÉC: O menor dos biomas do Brasil, o Pampa ocupa principalmente a metade meridional do Rio Grande do Sul, cruza a fronteira, e se estende pelo Uruguai e pela Argentina. Em terras brasileiras, são pouco mais de 175 mil quilômetros quadrados, ou 63% do território gaúcho. São duas mil espécies de plantas, 102 de mamíferos, outras 476 de aves e 50 de anfíbios. Ainda há 97 espécies de répteis e 50 de peixes. Dessas, 146 espécies que compõem a flora estão ameaçadas de extinção, mesmo risco que correm 49 espécies da fauna. No Pampa gaúcho produz-se soja, trigo, sorgo e arroz irrigado. Estas culturas são intercaladas com pastagens, garantindo também a produção de gado de corte e leite. Também há reflorestamento e produção de frutas. Mas o que menos agride o Pampa é a pecuária, como explica o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, Marcos Flávio Silva Borba. (Marcos) Nós estamos falando em termos de cobertura vegetal do Pampa de mais de 600 espécies de plantas que são potencialmente forrageiras e que sustentaram historicamente esta lógica da pecuária. Ou seja, seria o meio mais racional de aproveitar o principal recurso regional (TEC: sobe Amanecer – trecho – es todo tan natural, tan frágil y tan perfecto que si se llega a romper no hay quien pueda componerlo...) Frágil, o Pampa pode ser preservado e ao mesmo tempo desenvolvido pelas populações que ali residem, garantindo a produção, a geração de renda e a conservação do bioma. O caminho é a Pecuária familiar. Quem explica é o pesquisador Marcos Borba. Ele afirma que esta categoria é responsável por 40% do rebanho de gado de corte e de 80% do rebanho de ovelhas no Rio Grande do Sul, além de ser fator importante na preservação. (Marcos) Hoje, se nós colocássemos sobre o mapa onde estão localizados os maiores contingentes de pecuaristas familiares, nós vamos identificar uma relação importante com as áreas mais conservadas do Pampa. (Repórter) Pecuaristas familiares são um dos focos de atuação do Projeto Pampa. Vinculado à Igreja de Confissão Luterana do Brasil, o projeto foi criado em 2013 e atende cerca de 250 pessoas em 60 famílias que vivem em seis municípios. Ao todo, são 13 comunidades rurais, assentamentos da Reforma Agrária e comunidades quilombolas. Fernando Aristimuño é técnico agrícola e pecuarista familiar na cidade de Alegrete. Ele atua junto ao Projeto Pampa como assessor de projetos da área de justiça sócio-ambiental. Fernando explica que estes pecuaristas são donos de áreas com até 300 hectares e com mão de obra familiar. (Fernando) E tendo a pecuária como a renda principal, seja renda no sentido de comercialização ou renda no sentido de produzir para o auto consumo. Ele também faz uma pequena agricultura, ele também faz um artesanato, seja da lã da ovelha, seja do couro do boi. Ele pratica uma economia que a gente chama de economia de ciclo fechado. (Repórter) E fala da importância do pecuarista familiar para a conservação do bioma. (Fernando) É uma atividade de resistência, né. E muito importante o que o pecuarista familiar faz. Em geral pela sua pouca renda ele compra o mínimo. Ele dificilmente vai estar usando um químico ou um agrotóxico. Ele faz a caldas pra curar as plantas, pra tatar das plantas. Ele não faz o monocultivo. Por isso só ele faz a agroecologia, porque ele faz a diversidade, ele usa o insumo natural. (TEC: sobe Pampa – Gustavo Santaolalla – fica BG até sumir) (Repórter) A principal preocupação hoje no Pampa é com o crescimento das áreas onde é cultivada a soja. Cultura tradicional de áreas mais ao norte do Rio Grande do Sul, a soja se expande para o Pampa como estratégia de mercado. O pesquisador da Embrapa Marcos Flávio da Silva Borba explica que o bioma é uma nova fronteira agrícola. (Marcos) O Pampa é a nova fronteira agrícola. As condições favoráveis de demanda desta commodity acaba imprimindo a estratégia do empresariado vinculado à agricultura. Nós não temos uma política no que se refere à importância de conservar as funções desses ecossistemas que compõem esse bioma como uma estratégia de benefício da sociedade em geral. (Repórter) Além do trabalho com os produtores rurais que vivem no Pampa, uma iniciativa em Brasília também tenta proteger o bioma. É a proposta de Emenda à Constituição que inclui o Pampa como um dos biomas nacionais. O texto altera o parágrafo quarto do artigo 225 da Constituição, incluindo aí o Cerrado, a Caatinga e o Pampa como biomas considerado patrimônio nacional e que devem ser protegidos. A PEC está pronta para ser votada pelo Senado e tem como autor o senador Paulo Paim, do PT do Rio Grande do Sul. Para ele, a inclusão do Pampa na Constituição é importante, mas sofre resistência de setores do agronegócio. (Paim) Eles não querem, porque querem explorar de forma indevida, sem limites, e com isso o nosso bioma poderá entrar numa situação de depredação que ninguém quer. Por isso a importância de nós preservarmos via PEC. (Repórter) Para o tecnólogo agrícola do Projeto Pampa, Fernando Aristimuño, a PEC é importante, mas não é suficiente. (Fernando) Então essa PEC veio colocar o bioma dentro da Constituição e por isso ela é importante. Mas isso não basta. A gente tem que valorizar as boas iniciativas, as atividades que trabalham a favor da natureza. Tem poucas organizações que atuam nesse sentido, de vir potencializar. (Repórter) A PEC dos Biomas precisa ser votada pelo Plenário do Senado em dois turnos. Depois disso, o texto será analisado pela Câmara dos Deputados. Enquanto isso, o Pampa vai sendo protegido por ações da Embrapa, das universidades instaladas na região, pelas mãos dos próprios produtores rurais, pequenos, médios ou grandes, e de projetos como o Projeto Pampa, da Igreja Luterana. (tec: sobe som: Canto Alegretense – trecho – instrumental de fundo no final do texto e sobe depois) Da Rádio Senado, Jefferson Dalmoro.

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