Manipulação de jogos: ex-árbitro diz à CPI não acreditar no envolvimento de juízes

Da Agência Senado | 09/07/2024, 19h57

Em depoimento à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas nesta terça-feira (9), o ex-árbitro de futebol Manoel Serapião Filho disse não acreditar nem suspeitar que juízes ou dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) possam estar envolvidos com possíveis manipulações de resultados de jogos. A reunião foi conduzida pelo presidente da CPI, senador Jorge Kajuru (PSB-GO), com participação do relator do colegiado, senador Romário (PL-RJ), e do senador Carlos Portinho (PL-RJ).

— Não vejo a mínima possibilidade de que haja manipulação, de que o grupo de árbitros do Brasil, tampouco os dirigentes de arbitragem que estão na CBF, que eu conheço, possam induzir ou praticar qualquer ato de desvio. Se houver, será uma grande decepção e uma grande surpresa. E, se houver, posso lhe assegurar, senador, que será com uma ou outra ovelha negra, que não vai contaminar o grupo — disse Serapião, em resposta à pergunta de Romário sobre a possibilidade de haver atualmente a manipulação de resultados por parte de árbitros.

Ex-árbitro Fifa, Serapião foi um dos idealizadores do VAR (árbitro assistente de vídeo) no futebol. Em 2015, quando trabalhava na CBF, Serapião integrou o grupo que levou à Fifa (Federação Internacional de Futebol) o projeto de adoção do VAR, cujos primeiros experimentos já começariam no ano seguinte. Ele disse que a qualidade do VAR no Brasil ainda não é a ideal, mas afirmou que o uso dessa tecnologia está dando mais segurança ao futebol, ao corrigir distorções e equívocos em lances difíceis para a arbitragem. Serapião explicou aos senadores como funciona o posicionamento das câmeras em campo, cujas imagens são usadas nas avaliações do VAR. 

Por sua vez, o ex-oficial de integridade de VAR da CBF Rômulo Meira Reis disse que sua função era técnica e que recebeu treinamento da Fifa e da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) para poder analisar suspeitas de fraudes no mercado de apostas esportivas que poderiam envolver decisões de arbitragem. Segundo ele, entre 2017 e 2022, foram mais de 200 alertas de denúncias ou suspeitas de manipulação de jogos que passaram por sua análise.

— A função de oficial de integridade é uma função nova, criada por uma deliberativa da Fifa, em que cada associação-membro (no caso do Brasil, a própria CBF) deveria estabelecer uma pessoa destinada a verificar as possíveis irregularidades entre o que acontecia em campo versus o que acontecia no mercado de apostas esportivas. Aqui no Brasil, nós conhecemos especificamente em relação à questão de casas de apostas, que são como anunciantes convencionais. Hoje o boom de anúncios é das casas de apostas, como um dia já foi das montadoras, como um dia já foi dos grandes magazines — disse Rômulo.

Convocado faltou

No começo da reunião, Kajuru informou que William Pereira Rogatto não iria depor. De acordo com o senador, o convocado entrou em contato com a assessoria da CPI, mas não disse se compareceria ou não, nem apresentou justificativa para ausentar-se do depoimento. Kajuru disse que Rogatto é investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal por suspeita de participar da manipulação de jogos e que há um mandado de prisão contra ele. Para Kajuru, o convocado está envolvido em manipulação de jogos de futebol desde 2020 e pode estar em Lisboa, não no Brasil.

De acordo com o Ministério Público, afirma Romário no requerimento de convocação, Rogatto se apresenta como empresário de atletas, “mas tem operado na clandestinidade como manipulador profissional mediante a cooptação de jogadores, a venda de resultados arranjados e a realização de apostas”.

Já a Polícia Federal tem investigação que mostra mensagens de Rogatto “mencionando pagamentos a jogadores aliciados, realizando apostas fraudulentas e conversando com interlocutores sobre os lucros obtidos”, registra Romário.

“William Rogatto se destaca por conduzir, durante ao menos quatro anos, um poderoso esquema de manipulação de resultados no futebol com atuação nos estados de São Paulo, Sergipe e Distrito Federal, o que o levou a figurar com destaque em duas das mais importantes operações de investigação conduzidas no Brasil. Por esses motivos, torna-se imprescindível que esta CPI colha o depoimento do senhor William Pereira Rogatto”, acrescenta Romário.

Requerimentos aprovados

A CPI aprovou requerimentos de Romário para quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático, desde janeiro de 2022, da empresa BC Sports Management Ltda, de Bruno Lopez de Moura e de Camila Silva da Motta. 

De acordo com Romário, a Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás, revelou a existência de uma organização criminosa especializada na manipulação de apostas esportivas, atuando em Goiás, São Paulo, Santa Catarina e Maranhão. A investigação mostrou detalhes de uma complexa organização criminosa em rede, com divisão de tarefas e núcleos de atuação: aliciadores, financiadores, apostadores e jogadores aliciados, segundo Romário.

Bruno Lopez de Moura e Camila Silva da Motta são sócios da empresa BC Sports Management e foram denunciados na operação Penalidade Máxima. De acordo com as investigações, as contas da empresa foram usadas “para movimentação financeira do esquema delitivo, efetuando pagamentos de sinais e valores aos jogadores cooptados, intermediadores e transitando valores também para apostas nos jogos previamente ajustados”, informa Romário.

Também foi aprovado convite, de Carlos Portinho, para que deponha na CPI Mauro Marcelo de Lima e Silva, auditor do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Segundo Portinho, o auditor considerou infundadas as acusações apresentadas pelo dono do Botafogo, John Textor, de manipulação de resultados de jogos no Brasil. Foi aprovada, ainda, a requisição de Kajuru ao STJD de compartilhamento dos documentos e informações sobre a investigação de possível manipulação de resultados no Campeonato Brasileiro de 2023.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)