Olimpíadas do conhecimento abrem portas para alunos e para o país, aponta debate
Da Agência Senado | 24/08/2023, 18h22
Um instrumento para modificar vidas e o futuro do país. Essa é uma das funções principais das olimpíadas do conhecimento entre estudantes, segundo os participantes de audiência pública promovida nesta quinta-feira (24) pela Comissão de Educação (CE). A audiência discutiu com especialistas a importância de instituir no calendário nacional o Dia Nacional das Olimpíadas Científicas e do Conhecimento.
A criação da data está prevista no PL 3.650/2023, do senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), autor do pedido para a audiência. De acordo com o senador, já existem no Brasil mais de cem temas de olimpíadas científicas, abrangendo diversas áreas do conhecimento. A criação da data, na visão de Marcos Pontes, vai promover e valorizar as olimpíadas científicas como ferramentas de incentivo à pesquisa e à inovação, que contribui para a formação de jovens talentos e para o desenvolvimento do país.
Ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, o senador afirmou que quando o assunto é o futuro do país, não adianta discutir temas relevantes, como a reforma tributária, e não motivar os jovens para a educação e para as carreiras de ciência e tecnologia. Durante o debate, o parlamentar anunciou que vai apresentar outro projeto de lei para incentivar estudantes.
— Vou assinar aqui, na frente de todos, um projeto de lei para instituir a Bolsa de Iniciação Científica Estudantil a ser concedida a estudantes da educação integrantes de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família que se destacarem em competições acadêmicas e científicas de abrangência nacional — anunciou o senador.
Coordenador da Olimpíada de Medicina Vitalis e integrante do Instituto Vertere, entidade sem fins lucrativos que promove o acesso a olimpíadas do conhecimento, Leonardo da Costa Meireles lembrou que o desinteresse dos alunos pela escola tem sido um problema recorrente no Brasil, inclusive na rede privada. Para ele, as olimpíadas do conhecimento podem ajudar a combater esse problema, causado por fatores como baixa autoestima, desigualdade social e falta de infraestrutura.
— Eu consigo ver as olimpíadas não como um fim nelas mesmas, mas como uma ponte, uma janela ou até mesmo um telescópio com os quais conseguimos aproximar coisas maiores, grandiosas. Elas abrem portas e são uma política pública de educação ímpar, a gente não encontra um paralelo próximo. Professores, gestores de saúde, gestores educacionais, todos têm que saber que as olimpíadas do conhecimento não são uma política de governo, e sim de Estado, porque de fato elas mudam vidas, mudam destinos — disse Meireles.
Na mesma linha, o professor Jean Carlos Antunes Catapreta, coordenador da Olimpíada Nacional de Ciências (ONC), afirmou que as olimpíadas podem promover o engajamento de estudantes e escolas. Para ele, eventos desse tipo são verdadeiras locomotivas para motivar estudantes em todas as áreas do ensino. Por isso é preciso institucionalizar as olimpíadas do conhecimento como política pública, defendeu.
Meninas olímpicas
A questão de gênero nesse tipo de iniciativa foi tema da apresentação da professora Nara Martini Bigolin, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ela é coordenadora do Movimento Meninas Olímpicas, que busca aumentar a presença das mulheres em espaços de poder por meio do incentivo à participação igualitária das meninas em olimpíadas de conhecimento.
— Se não houver, hoje, meninas nas olimpíadas, nós não teremos, amanhã, mulheres nos espaços de poder e nem na ciência — disse a professora, que apontou a prevalência de homens brancos nesses espaços.
De acordo com Nara Bigolin, a participação de meninas em olimpíadas do conhecimento no Brasil ainda está muito aquém do esperado, e a situação é ainda pior quando se trata de brasileiras nas olimpíadas internacionais. Para incentivar a participação feminina, foram criadas quatro competições nacionais apenas para meninas nas áreas de matemática, computação, física e química.
A professora pediu apoio dos senadores para aprovar o Projeto de Resolução do Senado (PRS) 28/2023, da senadora Leila Barros (PDT-DF). O texto cria o Prêmio Meninas Olímpicas, conferido pelo Senado para fomentar a participação de meninas em olimpíadas de conhecimento.
Frente parlamentar
O engenheiro aeronáutico Daniel Lavouras, diretor de Inovação da Editora Serena, citou como exemplo a cidade de Cocal dos Alves, no Piauí, que teve sua realidade transformada depois que um professor resolveu incentivar os alunos a participar das Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Hoje, o município é conhecido como Capital da Matemática, por causa do grande número de jovens da cidade medalhistas na competição.
Lavouras afirmou que o investimento em olimpíadas do conhecimento é muito baixo, se comparado ao retorno que elas proporcionam. O professor disse que o país precisa investir mais nesse tipo de evento e pediu atenção do Congresso para essa pauta. Ele sugeriu a criação de uma frente parlamentar em favor das olimpíadas do conhecimento.
Motivação
Ex-coordenadora do Programa Olímpico do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Silvana Copceski Stoinski afirmou que as bolsas de iniciação científica e as olimpíadas são ferramentas importantes para motivar os alunos. Ela também ressaltou que esse tipo de evento precisa chegar a escolas em áreas indígenas, no campo e em comunidades quilombolas.
A audiência também teve a participação do coordenador da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) e da Mostra Brasileira de Foguetes, João Batista Garcia Canalle, e do estudante João Vitor Garcia Geiss, aluno do 8° ano do Fundamental II e multimedalhista olímpico.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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