Senadores pedem justiça e paz ao lembrar 75 anos da invasão da Palestina

Da Redação | 16/05/2023, 19h17

A Nakba deve servir de inspiração para uma solução definitiva para questão palestina. Com essas palavras, o senador Omar Aziz (PSD-AM) abriu a sessão especial, nesta terça-feira (16), no Plenário do Senado Federal, para lembrar os 75 anos da invasão da Palestina por forças armadas israelenses em 15 de maio de 1948. Conhecida como Nakba (“a catástrofe”, em tradução árabe), causou a expulsão de milhares de palestinos de sua pátria. A sessão reuniu parlamentares, autoridades do governo brasileiro, embaixadores, comunidade palestina e sociedade civil solidária com o povo palestino.

Omar Aziz lembrou que naquela data se instaurava um processo contínuo de expulsão dos palestinos da terra deles, tendo início um êxodo em massa que “está na raiz dos conflitos travados com os israelenses”. O parlamentar disse que, segundo dados da ONU, entre 725 mil e 800 mil palestinos foram expulsos de suas terras, negócios, casas, em que seus ancestrais se instalaram há 12 mil anos.

— Meu pai é um deles. Chegou aqui no Brasil em 1957, com 17 anos de idade, e eu sei o quanto meu pai sofreu com tudo isso, vendo o que se passou em Sabra e Chatila, vendo o que se passou em tantas maldades que foram feitas com o povo palestino. E a Organização das Nações Unidas, ela, com várias resoluções, nenhuma cumprida, qualquer outro país teria sofrido sanções imediatas, se não cumprisse as resoluções da ONU. Infelizmente isso vem acontecendo há décadas. E é um momento de a gente procurar não só a paz, mas o direito e autodeterminação dos povos, que é uma luta toda nossa, uma vida toda, uma luta minha a vida toda pela autodeterminação dos povos — defendeu.

De acordo com o parlamentar, os palestinos que permanecem no território ocupado se sentem até hoje tolhidos em seus direitos nacionais, civis e humanitários. Além disso, o senador afirma que dezenas de cidades milenares amargaram a destruição de tesouros históricos e arqueológicos, e hoje somam mais de 6 milhões de refugiados espalhados pelo globo.

Segundo o senador, dos 140 países do mundo a reconhecer o direito da Palestina a um Estado soberano, o Brasil se destaca e apoia desde 1948, "em fiel alinhamento com a decisão da ONU". Ele disse ainda que ambos os povos que habitam a região não se sentem seguros atualmente, mas reforçou que a Nakba também serve para ser lembrada como um emblema de resistência de uma população em constante insegurança nacional.

— Afinal o povo palestino que vive na Palestina há milênios pede apenas paz e o reconhecimento de seu Estado soberano, democrático, laico, próspero e seguro.

O senador Esperidião Amim (PP-SC) também participou da solenidade e declarou que a injustiça com o povo palestino não pode ser esquecida.

— A necessidade de resistir mora aqui, na cabeça e no coração. E eu creio que é de Rui Barbosa a seguinte frase: "Não há força humana que domine um povo que quer ser livre e merece sê-lo". 75 anos de resistência demonstram que a causa que todos estamos homenageando hoje merece vencer. Que esta reunião contribua ainda que minimamente para manter acessa esta vontade, este direito e esta luta.

Retorno

Autoridades e comunidade palestina também pediram justiça e o retorno dos palestinos a seus territórios. Fátima Ali, vice-presidente da Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal), reafirmou que o povo palestino foi vítima de uma invasão estrangeira desde 15 de maio de 1948. Segundo ela, os invasores tinham um plano claro, o de “tomar toda a Palestina, expulsar toda população e colocar em seu lugar outra identidade, outro Estado, bem como um regime de apartheid”, e os crimes cometidos são mais que conhecidos pela humanidade. Fátima Ali lamentou que os atuais 6 milhões de refugiados palestinos são o maior contingente do mundo atual e o que mais tempo permanece nessa situação.

— São mais de 40% de todos os palestinos que há no mundo. É como se mais de 600 milhões de chineses ou indianos fossem refugiados, ou até 90 milhões de brasileiros vivessem em acampamentos de refugiados fora do seu país [...] Isso só terá fim com o Estado da Palestina se tornando realidade, com Jerusalém, sua capital, e com o retorno de todos os refugiados das terras onde foram expulsos — lembrou.

Ahmed Fahkri Al Assad, vice-chefe da missão diplomática da embaixada do estado da Palestina no Brasil, destacou que, pela primeira vez na história, a Organização das Nações Unidas celebrou os 75 anos da Nakba, reconhecendo o termo como um crime contra humanidade cometido por Israel contra o povo palestino, refutando, segundo ele, a narrativa israelense sobre os crimes cometidos durante a ocupação.   

— Esperamos que tal reconhecimento constitua um início promissor para um amplo e efetivo movimento internacional contra a guerra de extermínio e limpeza étnica praticada por regime de apartheid israelense contra nosso povo — declarou.

Já Emir Mourad, secretário-geral da Confederação Palestina Latino-americana e do Caribe (Coplac) citou, entre outros, crimes contra a mobilidade, comunicação e liberdade de expressão, confisco de terras, demolição de casas, uso excessivo da força e tortura, prisões aleatórias injustificadas, incluindo crianças na construção de muro de apartheid dentro do território palestino. Segundo ele, foram mortos 109 somente este ano.

— Em pleno século 21, a Palestina é a única nação no mundo que se encontra ocupada, colonizada e expropriada de todos os direitos, regidos e determinados pelo direito internacional.

Essas práticas, segundo Mourad, contrariam o que estabelece a Declaração Universal dos Direitos Humanos, descumprem o que estabelece a 4ª Convenção de Genebra, a convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial, a Convenção de Haia, de 1907, e o direito internacional humanitário.

Qais Marouf Kheiro Shqair, embaixador da Liga dos Estados Árabes no Brasil, reiterou que Israel rejeitou todas as resoluções da ONU, iniciando pela resolução 181. Que prevê o estabelecimento de dois estados, um judeu e outro árabe em que a diplomacia brasileira, segundo ele, teve papel fundamental na sua edição. Ele salientou que Israel também rejeita todas as inciativas tomadas pela legitimidade internacional para resolver o conflito, incluindo a iniciativa de paz árabe de 2002, que prevê a plena normalização das relações entre os 57 países da Organização para a Cooperação Islâmica e Israel.

Para Sayid Marcos Tenório, vice-presidente do Instituto Brasil Palestina (Ibraspal), entre os crimes cometidos contra a humanidade não há nenhum com a dimensão e intensidade que vem sendo cometido contra os palestinos nos últimos 75 anos.

— Da noite para o dia, um povo milenar foi desterrado por judeus europeus invadiram suas terras e suas casas para concretizar um projeto colonial, baseado nas teorias fantasiosas e nas fake news da época, sobre a existência de uma terra sem povo, para um povo sem terra.

Sheila Carvalho, presidente do Comitê Nacional para os Refugiados, representando o Ministério da Justiça e Segurança Pública, manifestou solidariedade à comunidade palestina. Ela citou que, em 2008, o Brasil fez um programa exitoso de reassentamento solidário de palestinos e palestinas que necessitavam de acolhida humanitária, e lembrou que o comitê já reconheceu 325 palestinos no Brasil.

— É extremamente importante que a gente reverbere iniciativas importantes como essa, não só aqui no Brasil, nos próximos anos, porque a gente sabe que existe uma população palestina que ainda necessita destes mecanismos de acolhida, como também fazer disso uma política mundial.

 

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)