Brasil precisa agir para reduzir mortes no trânsito, alertam participantes de sessão especial
Da Agência Senado | 24/09/2021, 12h37
As vítimas do trânsito são evitáveis. E a sociedade não pode perder sua capacidade de indignação, se quiser mudar as estatísticas de tragédias automobilísticas no país. Com esse chamado, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) abriu sessão especial do Senado que homenageou as vítimas de acidentes de trânsito no Brasil, na manhã desta sexta-feira (24). Autor do requerimento para a solenidade, o parlamentar lembrou ainda que “um trânsito em condições seguras é direito de todos e dever do Estado”.
— A morte no trânsito é terrível porque não dá tempo de despedida: é a filha que saiu, foi para a escola e não voltou, é o filho que foi para uma balada e não voltou. É no auge da juventude. Por isso nós temos de estar falando, falando, falando, em todos os espaços: no churrasco da família, na festa de final de ano, no aniversário do tio, avô, pai, no seu aniversário, mas nós temos que estar falando isso — comentou o senador.
A sessão marcou a celebração da Semana Nacional do Trânsito, de 18 a 25 de setembro.
Ex-delegado de Delitos de Trânsito e ex-diretor do Detran do Espírito Santo, Contarato disse ainda manter contato com familiares de vítimas de acidentes que conheceu ao longo de sua trajetória profissional. Para o senador, o Estado brasileiro deve ser mais “humanizador” — até porque a eficiência, conforme afirmou, é um dos princípios que regem a administração pública, como prevê a Constituição.
— No meu Estado, foi sancionada uma lei instituindo o primeiro domingo de agosto como Dia em Memória às Vítimas de Acidentes de Trânsito. Aqui nesta Casa, também apresentei, e está tramitando, um projeto no mesmo sentido, para estabelecer um Dia Nacional em Memória às Vítimas de Acidentes de Trânsito. O Senado Federal, enquanto Casa da Federação, tem o dever de se unir à luta de conscientização, além de aperfeiçoar a legislação brasileira. Esses papéis não são apenas fundamentais, mas urgentes, visto que o Brasil é um dos países que mais mata no trânsito — declarou.
Luto eterno
Mãe de Amanda Marques, que faleceu aos 20 anos em decorrência de um crime de trânsito na Rodovia Darly Santos, na cidade de Vila Velha, Renata Marques demonstrou sua indignação ao ver motoristas que ainda insistem em dirigir sob efeito de álcool. Ela defendeu a união da sociedade por mais protestos e o enrijecimento da legislação, a fim de que os culpados sejam devidamente punidos. A debatedora disse ver, na falta de justiça, a causa de sua maior dor.
— É muito triste para a gente. Vai acarretando sofrimento, dor, saudade, Dia das Mães, Natal, acabou. Não existe mais felicidade. Minha filha foi arrancada de mim cruelmente, e a gente tem que lutar pelo trânsito. Tudo isso tem de ser olhado com mais carinho, em favor das famílias, porque quem vai, não volta mais.
Diretor-presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), José Aurélio Ramalho lembrou que, além dos mortos, os acidentes de trânsito deixam vítimas com sequelas, acamadas ou sobre cadeiras de rodas. Para o debatedor, educação sobre o tema nas escolas é fundamental para mudar o comportamento dos motoristas. E esse tem sido um grande desafio do observatório, destacou.
Estatísticas com rosto
Fabiano Contarato citou dados do DataSUS em 2019, segundo os quais 32.879 pessoas morreram em decorrência de acidentes de trânsito. Somente no Espírito Santo, 776 capixabas perderam suas vidas nas ruas, avenidas e estradas.
De todas as vítimas, segundo o senador, 1.147 estavam em caminhões ou caminhonetes; 1.358 eram ciclistas; 5.715, pedestres; 6.899 estavam em carros; e 11.182 eram motociclistas.
— São números estarrecedores, senhoras e senhores. E não são apenas números, as estatísticas têm rosto, têm história, têm vida, têm marcas que nem o tempo faz com que cicatrizem — lamentou.
Diretora técnica do Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo (Detran-ES), Édina de Almeida Poleto mencionou a luta diária por mais investimentos, conforme previsto na legislação, e disse que “muita coisa ainda precisa ser feita”. Segundo ela, somente no Espírito Santo foram registrados do começo do ano até agosto, 514 mortos, dos quais, 271 motociclistas. Édina defendeu a importância de o poder público ouvir as famílias das vítimas e o tratamento das chamadas “sequelas invisíveis”.
— Enquanto nós não tratarmos a dor dessas pessoas, essas sequelas invisíveis, esse estresse pós-traumático que muitas famílias nem sabem o que é e não buscam atendimento, não buscam apoio, vão-se gerando outras doenças, outras enfermidades físicas. Sem esse entendimento, não vamos tratar essas pessoas com a dignidade necessária e não vamos entender a necessidade de realmente trabalhar por um trânsito mais seguro — afirmou.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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