Na CMMC, diretores de Inmet e Inpe evitam estabelecer causa e efeito no clima

Da Redação | 04/10/2019, 10h13

Em audiência pública da Comissão Mista de Mudanças Climáticas (CMMC) realizada nesta quarta-feira (2), diretores do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) defenderam a atuação de seus órgãos eforam cautelosos quanto ao estabelecimento, fora de padrões científicos, de relações de causa e efeito em torno de fenômenos do clima.

Carlos Edison Carvalho Gomes, diretor do Inmet, mostrou estatísticas sobre a tendência “significativa” de aumento de temperatura em todo o país desde o início da série de verificações, em 1951, sendo mais acentuada nas regiões Norte e Centro-Oeste. Nesses 58 anos, porém, chamou atenção a redução na quantidade de chuvas no Nordeste, mas a variação climática está em linha com os levantamentos em nível global apurados nos Estados Unidos pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa).

— A variação na América do Sul está dentro de nosso contexto: nossos dados estão coerentes com esses que a Noaa apresentou.

Darcton Policarpo Damião, diretor do Inpe, explicou os critérios do instituto para aferição de mudanças climáticas ao longo do tempo e localização de variações estatisticamente significativas, incluindo a importância dos dados gerados pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos na elaboração de cenários climáticos para orientação da governança do Estado.

— Fazemos análises específicas do impacto que essas mudanças [climáticas] que essas mudanças podem ter em nossa sociedade e como nos prepararmos para esse tipo de mudança.

Em resposta ao deputado Sergio Souza (MDB-PR), Damião explicou que o Inpe faz o levantamento de queimadas sem entrar no mérito se são legais ou ilegais, e acrescentou que a coleta de dados de satélite mais acurados, desde 2002, tem registrado tendência de queda nas queimadas.

Questionado pelo senador Zequinha Marinho (PSC-PA) sobre a correlação entre precipitação e temperatura, o diretor do Inpe deu o exemplo do vínculo entre o fenômeno El Niño, de aquecimento das águas do Oceano Pacífico, e o aumento das chuvas na Amazônia acompanhado de estiagem na região Sul: segundo Damião, depois de muitos anos de estudos a ciência não consegue explicar como essas ocorrências estão relacionadas.

— A ciência tenta buscar causalidade, mas nem sempre é possível quando o sistema é muito complexo. Por isso, antes de buscar causalidade, buscamos correlação: nem sempre o que é correlacionado pode ser considerada causa ou efeito.

No mesmo sentido, Carlos Gomes considerou difícil determinar cientificamente a influência do aumento da urbanização na elevação da temperatura, e, somente com os dados do Inmet, não é possível fazer uma análise que vá além de “suposições”.

O relator, deputado Edilázio Júnior (PSD-MA), lamentou a imagem negativa do Brasil no exterior com relação à Amazônia. Ele anunciou que vai apresentar proposta ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, para a realização de um mutirão na matéria ambiental nas varas federais e estaduais.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)