Para senadores, manifestações contra governo Dilma darão o tom da política

Da Redação | 14/03/2016, 20h51

Os protestos de rua do último domingo (13) contra a presidente Dilma Rousseff em cidades de todo o Brasil foram o assunto que dominou os debates no Plenário do Senado nesta segunda-feira (14). Apesar das diferenças de opinião sobre as causas e consequências do evento, foi consenso entre os senadores que as manifestações ditarão o comportamento dos atores políticos a partir de agora. Eles também concordaram que os protestos foram legítimos, pacíficos e de grande porte.

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse que a classe política tem o dever de entender os anseios da população que foi às ruas. Ele alertou que os políticos que não fizerem o diagnóstico correto do momento não terão sobrevida.

— O que ocorreu ontem [domingo] no país foi uma demonstração de que o Brasil quer algum tipo de solução. Na hora em que a população não se sente representada, buscam-se outros caminhos. Aqueles políticos que não entenderem essa mensagem estarão fora do processo político brasileiro — disse.

A senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) disse enxergar um alto grau de repúdio à política e aos políticos nos protestos, algo que a preocupou.

— Os atos apostaram na despolitização, que é algo perigoso e construído dia após dia nos telejornais. A impressão que passa é que o Brasil não precisa de políticos e de partidos. Parece que tirar Dilma, prender Lula e acabar com o PT resolveria tudo — afirmou.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) afirmou que a população foi às ruas inspirada por princípios bem definidos, e que deixou uma mensagem clara para as autoridades do país.

— Havia ali o valor da honestidade na vida pública, da busca da verdade, e o apoio à Operação Lava-Jato. Havia também um objetivo político imediato: o fim do governo Dilma, a convicção de que ela perdeu completamente as condições de governar.

Motivos

Para Gleisi, o comparecimento aos protestos foi massivo, mas não representou a pluralidade do povo brasileiro. Segundo ela, em comparação com as manifestações ocorridas em 2015, o aumento de participação foi “quantitativo, mas não qualitativo”.

— Não conseguiram ampliar a base social que tiveram no ano passado. Continuou a ser uma manifestação da classe média tradicional brasileira, branca, com maior escolaridade e capacidade econômica. Onde estava o povo trabalhador e mais pobre? Certamente, assistindo às manifestações, procurando entender a que interesse tudo isso atende — disse.

Para a senadora Ana Amélia (PP-RS) as pessoas que foram às ruas o fizeram por lidarem diariamente com a crise econômica, e por sentirem os efeitos da corrupção no seu cotidiano.

— As pessoas raciocinam com o seu cotidiano, a sua realidade. A população entende que a roubalheira causa inflação e desemprego. Quando reclama de impostos, é porque paga muito e recebe muito pouco em troca — alertou.

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) observou que, além de as manifestações terem como foco críticas ao governo e a membros do PT, políticos do PSDB que compareceram também foram vaiados, como o senador Aécio Neves (MG) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Para ela, isso sinaliza que o povo entende a corrupção como um problema mais generalizado.

— A grande maioria foi protestar contra a corrupção, e, quando viram Aécio e Alckmin, de pronto vaiaram e xingaram. É uma clara demonstração de que eles sabem que a corrupção é algo sistêmico no país. O alvo são todos — ressaltou

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) argumentou que o aumento do número de participantes dos protestos teve influência da participação direta dos partidos de oposição, que, desta vez, ajudaram a convocar o povo através das redes sociais.

— Não é coincidência que, quando os partidos de oposição passaram a convocar as manifestações junto com os movimentos de rua, fizemos a maior manifestação pública da história do país. Despolitizar o movimento é uma miopia. Foi o chamamento dos partidos de oposição que fez com que as manifestações crescessem.

Efeitos

O senador José Agripino (DEM-RN) salientou que, a partir de agora, a classe política terá papel fundamental para determinar o rumo dos acontecimentos. Para ele, o Parlamento não pode fugir do seu papel de tomar as rédeas dos eventos políticos e institucionais.

— O que vai acontecer agora é responsabilidade nossa. Vai caber aos partidos entenderem o sentimento das ruas, que fizeram sua parte e esperam que o Congresso faça a sua. Espero que busquemos encontrar um caminho no espírito das manifestações, uma coalizão das forças políticas pela salvação do país — afirmou.

Vanessa Grazziotin mostrou preocupação com as pautas que podem resultar das manifestações. Segundo ela, o impulso “conservador” das ruas pode significar o fim de diversas melhorias que os últimos governos proporcionaram ao país.

— Milhões foram às ruas contra Dilma e Lula porque são contra as mudanças aplicadas por eles. Querem por fim à política de inclusão social e fortalecimento do Estado. Querem voltar às privatizações, tirar direitos dos trabalhadores e fazer a reforma da previdência arrancando conquistas das mulheres — advertiu.

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) diz temer que uma eventual derrubada do governo Dilma, através de um processo de impeachment, coloque no poder um grupo político disposto a prejudicar as investigações da Operação Lava-Jato.

— Eu quero chamar a atenção do povo brasileiro para o que significa a tentativa de afastar a presidenta Dilma e assumir o [vice-presidente] Michel Temer e o PMDB.  Nós sabemos da relação de proximidade dele com o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha. Esse grupo quer justamente abafar as investigações e interromper a Lava-Jato — alertou.

Os parlamentares da base do governo afirmaram que não há base jurídica para o impedimento da presidente, e classificaram esse processo como um golpe. Já os membros da oposição dizem que o pedido de impeachment está bem fundamentado e defenderam que o debate sobre o assunto se dê às claras, com transparência.

Senadores do PSDB, porém, divergiram em relação ao melhor caminho a se tomar para a substituição de Dilma. Aloysio Nunes Ferreira é autor de uma PEC (9/2016) que institui o sistema parlamentarista de governo, e fez a defesa da proposta. Já Cássio Cunha Lima disse que a cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a realização de novas eleições seria a alternativa mais democrática. Cássio também afirmou que o partido repudiará “conchavos pelo poder”.

Resgate

Romero Jucá ressaltou que, independente do nome ou do partido que governará o Brasil nos próximos anos, tudo que o país não pode é se entregar a um “aventureiro”. Ele disse que, para que isso não aconteça, é preciso que os políticos resgatem a confiança da população, construindo um consenso e dando sinalizações positivas para a sociedade.

— Se os políticos não tiverem a competência de construir essa solução, essa solução virá independentemente da política. Fora da política e da democracia, é a aventura, é o salto no escuro, é o pulo no abismo. O Brasil já fez isso antes e se deu mal. Nós temos que ter a maturidade de sentar e construir uma saída que tenha o respeito do povo brasileiro — frisou.

O senador Reguffe (sem partido-DF) fez coro a esse entendimento, e chamou a atenção para o distanciamento entre a população e os congressistas, que deveriam ser seus representantes em todos os momentos.

— Os exemplos que estão aí justificam essas críticas contra a política, mas nós precisamos recuperar o valor dela. O Congresso está completamente divorciado da opinião pública, não discute as reformas que a população quer ver disse.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)