Mudanças econômicas da China serão debatidas pela Comissão de Relações Exteriores

Marcos Magalhães | 08/03/2016, 11h56

Os efeitos da transformação econômica da China sobre a economia brasileira serão debatidos nesta quinta-feira (10), às 10h, em audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). O tema interessa a parlamentares governistas e de oposição. Os requerimentos para a realização da audiência foram apresentados pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e pelo senador Aloysio Nunes (PSDB-SP).

O requerimento de Gleisi, apresentado no ano passado, ressalta a importância de recentes acordos firmados entre os dois países, que poderão permitir investimentos de até US$ 53 bilhões na ampliação da infraestrutura brasileira com projetos de “alto valor logístico” como a Ferrovia Transoceânica, cujo traçado se estende do litoral do Rio de Janeiro ao Peru. Por sua vez, Aloysio Nunes sugere que a comissão discuta os “impactos de desdobramentos recentes da economia chinesa sobre os países emergentes e, em particular, sobre o Brasil”.

Quatro especialistas foram convidados para a audiência pública: o presidente emérito do Conselho Empresarial Brasil-China, embaixador  Sérgio do Amaral; o subsecretário-geral para Ásia, Oceania e Brics (grupo de países composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) do Ministério das Relações Exteriores, embaixador José Alfredo Graça Lima; a sócia-diretora da Vallya Negócios e Investimentos, Larissa, Wachholz; e o presidente  da AGN Participações, Roger Agnelli.

Comércio

No momento em que o Brasil enfrenta uma grave recessão, que pode ser superior a 3% neste ano, as trocas com a China — maior parceiro comercial brasileiro — estão sendo acompanhadas com atenção. Segundo dados coletados pelo Conselho Empresarial Brasil-China, a corrente bilateral de comércio em janeiro de 2016 foi de US$ 3,7 bilhões, o que representou queda de 27% em relação ao mesmo período do ano anterior. Apesar do pequeno crescimento de 3% nas exportações brasileiras, em janeiro registrou-se deficit de US$ 914 milhões para o Brasil.

Segundo boletim do Conselho Empresarial, a quantidade de bens exportados até cresceu. Esse fato, porém, não ajudou a reverter o deficit, por causa da queda nos preços das commodities vendidas pelo Brasil. As commodities ainda têm um peso muito forte na pauta brasileira. Em janeiro, por exemplo, o minério de ferro respondeu por 23% das exportações para a China. A soja respondeu por 8%, número que deverá crescer com a comercialização da safra de 2016. Na pauta de importações, o principal item foi a compra de US$ 555 milhões em embarcações e estruturas flutuantes.

Mudanças

Segundo o encarregado de negócios da embaixada da China, Wang Wei, os dois países estão atravessando uma “fase de reajuste econômico estrutural”. Se antes os investimentos eram o grande motor da economia chinesa, comparou, agora os novos motores serão a inovação e o consumo, como indica o 13º Plano Quinquenal da China, que começa a ser implantado neste ano. Ainda como exemplo da transformação, ele mencionou que os serviços representaram mais de 50% da economia de seu país em 2015.

O diplomata reconheceu que a economia chinesa entrou em um “novo normal”. O ritmo de crescimento mudou de “alta velocidade” para “média-alta velocidade”, ou seja, para um crescimento aproximado de 6,5%. Como o produto interno bruto (PIB) chinês já alcançou US$ 10 trilhões, observou, taxas de crescimento acima de 10% não são mais sustentáveis e podem provocar problemas ambientais e sociais. Por outro lado, acrescentou o encarregado de negócios, os novos rumos da economia chinesa podem beneficiar o Brasil.

— A partir de junho do ano passado, quando a China retomou a importação de carne bovina do Brasil, ela tornou-se rapidamente o maior destino das exportações brasileiras desse produto, o que forneceu novo dinamismo ao comércio bilateral. Com o desenvolvimento contínuo da industrialização, da urbanização e da elevação da capacidade de consumo de seu povo, a China terá uma demanda cada vez maior pelas commodities, inclusive o óleo bruto de petróleo e os produtos agrícolas — disse Wang Wei em entrevista à Agência Senado.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)