Coreia do Sul quer ter acordo de livre comércio com Mercosul, informa embaixador

Marcos Magalhães | 18/02/2016, 13h36

A Coreia do Sul já sinalizou ao governo brasileiro que gostaria de celebrar um acordo de livre comércio com o Mercosul, segundo informou o embaixador designado para aquele país, ministro de primeira classe Luís Fernando de Andrade Serra. A mensagem de indicação do novo embaixador, que teve como relator o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), foi aprovada nesta quinta-feira (18) pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), em reunião presidida pelo senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), e será agora submetida ao Plenário.

Segundo o embaixador, o governo brasileiro ainda não tem posição firmada sobre o melhor momento para iniciar as negociações desse acordo. Em sua opinião, porém, esta seria uma boa chance para se tentar tornar mais equilibradas as trocas comerciais bilaterais. Em 2014, por exemplo, foi registrado um déficit na balança comercial de US$ 4,7 bilhões. Além disso, 75% da pauta exportadora brasileira são de produtos básicos, enquanto 99% das vendas coreanas ao Brasil referem-se a produtos industrializados.

— O que nos inquieta é a pauta do comércio bilateral. Em janeiro deste ano, o item número 1 de nossas exportações foi o milho. Achei que estava voltando aos anos 50. A Coreia sinalizou que gostaria de ter um acordo de livre comercio com o Mercosul. Esta é a oportunidade para dizer que, se os termos de troca não melhorarem, fica complicado — afirmou Serra.

Século 21

Em sua exposição inicial aos senadores da comissão, o embaixador designado classificou a República da Coreia como um “exemplo de superação”, após ser colônia japonesa de 1910 a 1945 e experimentar uma guerra com a Coreia do Norte de 1950 a 1953. Com apenas 100 mil quilômetros quadrados e pouco mais de 50 milhões de habitantes, a Coreia do Sul tem uma renda per capita de US$ 28 mil, como informou Serra. O sucesso, ressaltou o diplomata, está diretamente ligado à grande ênfase garantida por aquele país à educação.

Um dos pontos mais fortes no relacionamento bilateral, inclusive, diz respeito à educação. Já passaram pela Coreia do Sul 550 estudantes brasileiros participantes do programa Ciência sem Fronteiras — atualmente encontram-se naquele país apenas 73.

— Esses estudantes merecem nossa homenagem, pois não é fácil enfrentar uma língua tão exótica e costumes tão distantes dos nossos. Mas o que impressiona é que eles estão com o mapa do século 21 na cabeça.

Educação

A grande prioridade da Coreia à educação e aos investimentos em ciência e tecnologia marcou o debate entre o embaixador e os senadores na comissão. O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) disse que a Coreia do Sul é um “exemplo de país que deu certo, depois de enfrentar guerras e pobreza”. Em sua opinião, agregar valor aos produtos é o grande desafio do Brasil. E a experiência dos estudantes brasileiros em universidades coreanas poderá ajudar.

— Estive com estudantes brasileiros que foram à Coreia e voltaram encantados e espantados com o rigor e a dedicação dos colegas coreanos. Temos que nos inspirar em modelos exitosos, não em nações que dão exemplos de decadência — afirmou.

A senadora Ana Amélia (PP-RS) lembrou que o Brasil tem uma indústria aeronáutica competitiva, que poderia ter mais participação no mercado coreano. Informou ainda que a Unisinos, instituição de ensino superior do Rio Grande do Sul, oferece cursos de língua coreana especialmente a alunos interessados em tecnologia da informação. O senador Lasier Martins (PDT-RS) elogiou o fato de alunos coreanos estudarem até 10 horas por dia. Ele ressaltou ainda que os salários dos professores variam de R$ 4 mil a R$ 14 mil.

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) recordou que muitas indústrias localizadas na Zona Franca de Manaus são de origem coreana. Ela lamentou ainda que o Brasil esteja sofrendo um processo de desindustrialização. O senador Ricardo Ferraço (sem partido-ES) criticou os “equívocos da política econômica” brasileira e o “isolamento” do país em relação às alianças comerciais que estão sendo negociadas no mundo. Por sua vez, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) criticou os cortes feitos pelo governo no programa Ciência sem Fronteiras.

O senador Fernando Bezerra (PSB-PE) pediu maior aproximação entre as indústrias navais dos dois países. Ele recordou que a indústria brasileira foi reconstruída a partir da política de conteúdo nacional da Petrobras, com investimentos em estados como Pernambuco. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) ressaltou o fato de a Coreia do Sul ter atualmente uma renda per capita duas vezes maior que a brasileira. Por sua vez, o senador Hélio José (PMB-DF) defendeu maiores investimentos na divulgação do turismo brasileiro na Coreia.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)