Homenagem no Senado destaca luta social de Marighella

Da Redação | 08/07/2013, 16h40

Militante comunista que foi deputado federal, membro do antigo PCB e, por fim, fundador da Aliança Libertadora Nacional durante o regime militar, até ser morto pela ditadura em 1969, Carlos Marighella foi homenageado pelo Senado nesta segunda-feira (8). A cerimônia aconteceu a pedido do senador João Capiberibe (PSB-AP), que também foi integrante da Aliança Libertadora Nacional. Ele e outros parlamentares reiteraram que não se pode esquecer Marighella e sua luta.

– São raras as oportunidades de conhecer, de fato, o político Carlos Marighella, o lutador social – pontuou Capiberibe, acrescentando que é importante que os mais jovens entendam que a democracia "custou enormes sacrifícios, custou vidas".

Ao relembrar a trajetória do homenageado, a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) destacou a mobilização da juventude no último mês, com protestos em diversas cidades do país, como forma de contestação da política institucional.

- É extremamente oportuno lembrar um homem que acreditava na política como um instrumento indispensável para a transformação da sociedade, um homem que acreditava na necessidade de partidos como instrumentos coletivos de ação política e que acreditava como poucos na justiça e na liberdade.

O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) mencionou a atuação parlamentar de Marighella durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1946. Segundo Rollemberg, o líder se sobressaiu como defensor da democracia e dos direitos do povo, sendo cotidianamente afrontado pelos mais reacionários.

Inimigo número um

Lídice da Mata também recordou a longa ligação que Marighella teve com o PCB, até romper com o partido em 1967, quando fundou a Aliança Libertadora Nacional para promover a luta armada contra a ditadura.

– Capturar Marighella vivo ou morto tornou-se, então, uma questão de honra para o regime militar – assinalou a senadora, lembrando que ele foi torturado diversas vezes desde o governo de Getúlio Vargas.

Conforme observou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Marighella "não padeceu do exílio, ao contrário de várias pessoas que sofreram com as ditaduras; ele sempre optou pela resistência no Brasil". Randolfe também lembrou que o homenageado era chamado de "inimigo número um do regime militar"

Ao relembrar a trajetória de Marighella, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) citou o relato de que ele doava 92% de seus salários e funções remuneradas ao PCB e que, quando concluiu que o país não ia fazer as mudanças que julgava necessárias por meio de ações legais, optou pela clandestinidade e pela luta armada.

– Ele levou às últimas consequências a luta por seus sonhos – afirmou o senador pelo Distrito Federal.

Prioridades

Cristovam também fez uma provocação: "O que Marighella faria se ainda estivesse vivo? Qual seria sua luta neste momento da história, neste momento em que não se fabricam mais Marighellas porque a realidade social e histórica [com a redemocratização do país] é diferente?".

O senador disse acreditar que, se estivesse vivo, Marighella defenderia a ética não apenas na política, mas também nas prioridades quanto ao uso dos recursos públicos. Para Cristovam, há hoje uma corrupção nas prioridades, "que muitos não percebem", como a prioridade do automóvel privado sobre o transporte público.

- Ele não faria mais guerrilha como naqueles tempos, mas hoje estaria ao lado desses meninos e meninas que fazem uma guerrilha cibernética para mudar o Brasil - declarou Cristovam.

No final do ano passado, quase um ano após o centenário de seu nascimento, o governo brasileiro concedeu a Marighella a anistia política post mortem.

Participaram da cerimônia no Senado o filho do homenageado, Carlos Augusto Marighella, e o filho de João Capiberibe, Camilo Capiberibe, governador do Amapá.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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