Risco de outro acidente como o do Césio 137 é mínimo, diz diretor da Cnen

Da Redação | 25/09/2012, 12h35

Joseana  Paganine / Jornal do Senado

O diretor de Radioproteção e Segurança Nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Ivan Salati, acredita que a possibilidade de ocorrer outro acidente como o de Goiânia é pequena. Segundo ele, o processo de controle de fontes radioativas evoluiu bastante desde o acidente com o césio 137.

O Sistema de Controle de Importações e Exportações da Receita Federal (Siscomex), por exemplo, exige autorização da Cnen para liberação de equipamento de radioterapia. E a comissão mantém cadastro com o registro de todas as instalações com fontes de radiação no país.

Outra medida foi a criação de serviço 24 horas para casos de emergência, o que inclui o treinamento de profissionais de defesa civil, vigilância sanitária e segurança pública sobre o manuseio de fontes radioativas.

Além disso, Salati explica que o césio 137 não é mais utilizado em aparelhos de radioterapia.

— Hoje usa-se o cobalto, uma pastilha sólida que reduz o risco de desastre radioativo, pois não se espalha facilmente pelo ambiente como o pó do césio.

Rejeitos

Após a descoberta do acidente com o material radioativo em Goiânia, a comissão monitorou a radiação em pessoas, lugares e objetos e, em seguida, coordenou os esforços da administração pública para atender os acidentados e recuperar as áreas atingidas.

As seis mil toneladas de rejeitos radioativos resultantes do acidente foram armazenadas no Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste (CRCN-CO), construído especialmente para isso, em Abadia de Goiás (GO), município próximo a Goiânia. O centro conta com dois depósitos de rejeitos, além de equipamentos, laboratórios e profissionais qualificados para monitorar a radiação em torno dos depósitos e também na capital goiana.

O acidente

Em maio deste ano, a presidente da República, Dilma Rousseff, sancionou a Lei 12.646/2012, que instituiu a data de 13 de setembro como o Dia Nacional de Luta dos Acidentados por Fontes Radioativas, para lembrar o maior acidente com materiais radioativos da história do país.

Nessa data, há 25 anos, um domingo, dois catadores de material reciclável foram ao prédio abandonado do Instituto Goiano de Radiologia e levaram um aparelho radiológico, que foi vendido ao dono de um ferro-velho, Devair Alves Ferreira. Na mesma noite, Devair abriu a cápsula radioativa e se encantou com um pó branco que emitia um brilho azul.

Ivo Alves Ferreira, irmão de Devair, levou para casa uma porção do césio e mostrou para toda a família. A filha mais nova de Ivo, Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, espalhou césio por todo o corpo para, segundo ela, “brilhar no escuro”, e ingeriu o pó com a comida.

Em pouco tempo, várias pessoas começaram a passar mal. Desconfiada de que o pó poderia ser a origem das doenças, a mulher de Devair, Maria Gabriela Ferreira, levou, no dia 29 de setembro, a cápsula de 22 kg em um ônibus até a Vigilância Sanitária. Foi constatado, então, que se tratava do césio 137, material radioativo, e a Comissão Nacional de Energia Nuclear foi acionada.

Foram monitoradas, ao total, 112.800 pessoas, das quais 249 apresentaram significativa contaminação, sendo que, em 120 delas, apenas roupas e calçados estavam contaminados.

As 129 pessoas que constituíam o grupo com contaminação interna passaram a receber acompanhamento médico regular. A menina Leide chegou a ser levada para tratamento no Rio de Janeiro, mas não resistiu e morreu com outras três vítimas: Maria Gabriela e dois catadores.

O ferro-velho, residências da região e pertences das famílias envolvidas foram destruídos, gerando toneladas de rejeitos radioativos. Um depósito foi construído em Abadia de Goiás, cidade próxima a Goiânia.

Brasil não está pronto para prevenir acidentes como o do Césio 137, diz senador

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

MAIS NOTÍCIAS SOBRE: