Debatedores destacam papel da ‘economia criativa’ no desenvolvimento dos países

Ricardo Koiti Koshimizu | 30/05/2012, 17h10

Definida por alguns como a interface entre economia, cultura e tecnologia, a chamada economia criativa foi tema de audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado (CE) nesta quarta-feira (30), a pedido do senador Cristovam Buarque (PDT-DF). O setor abrange desde manifestações artísticas como o Festival de Parintins até a indústria de games, passando por museus, teatros, mercado editorial e design em suas diversas modalidades.

O esforço para definir o que é economia criativa foi repetido em vários momentos da audiência. Apesar de ressaltar que o conceito tem menos de duas décadas, Cláudia Sousa Leitão afirmou que Celso Furtado é um de seus precursores. Cláudia está à frente da Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura – secretaria que ainda está sendo estruturada.

Ela lembrou que o economista, ministro do Planejamento no governo João Goulart e da Cultura na gestão de José Sarney, escreveu em 1978 o livro Criatividade e Dependência na Civilização Industrial. E citou o trecho da obra em que Furtado declara que “o processo de mudança social que chamamos de desenvolvimento adquire certa nitidez quando o relacionamos com a ideia de criatividade”.

Cláudia explicou que, seguindo-se uma classificação de setores criativos elaborada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), pode-se distinguir seis macro-categorias: Patrimônio Natural e Cultural; Artes e Espetáculos; Artes Visuais; Livro, Leitura e Demais Publicações; Audiovisual e Mídias Interativas; e Design e Serviços Criativos. Ela disse, porém, que um dos desafios da secretaria que comanda é levantar informações sobre a economia criativa no Brasil.

Setor em expansão

Diretor-superintendente do Instituto Itaú Cultural, Eduardo Saron apresentou uma série de dados para demonstrar a crescente importância do setor. Utilizando levantamento da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), ele citou a estimativa de que a economia criativa em âmbito mundial se expandiu de US$ 227 bilhões em 1996 para US$ 424 bilhões em 2005. E que as exportações de bens e serviços desse setor registraram um crescimento mundial de 8,7% em 2010.

– Mas o Brasil, apesar de ser a sexta economia do planeta, ocupa a 35ª posição no que se refere às exportações vinculadas à economia criativa – alertou.

De acordo com Saron, os trabalhadores brasileiros inseridos na economia criativa ganham em média quase 50% a mais que os trabalhadores dos outros setores da economia nacional: R$ 2,2 mil contra R$ 1,5 mil, respectivamente.

Para Leandro Valiati, professor de Economia da Cultura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, são necessárias ações institucionais, “formais ou informais”, e políticas públicas para consolidar o setor e permitir que “quem tem poder de mercado possa sobreviver e ser auto-sustentável e quem não tem poder de mercado possa ser conduzido a sobreviver, já que há segmentos muito heterogêneos”.

– Há segmentos que geram menos emprego e renda, mas que geram desenvolvimento – argumentou.

Ao apontar as dificuldades para se definir economia criativa, Leandro assinalou que há modelos que incluem as indústrias de software e as indústrias vinculadas à inovação tecnológicas e há modelos que não as incluem.

Representante da Secretaria de Cultura de Goiás, Décio Tavares Coutinho, disse que, no caso da economia criativa, as inovações tecnológicas, “sejam inovações sociais ou relacionadas a itens como hardware e software”, em vez de gerar desemprego, criam mais empregos. Foi dele a explicação de que o conceito de economia criativa “pode ser resumido no diálogo entre economia, cultura e tecnologia”.

Segundo Décio, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, ambas a serem realizadas no Brasil, representam uma oportunidade para o país desenvolver sua economia criativa.

Ao final da audiência, Cristovam Buarque destacou a importância do tema e anunciou que solicitará à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) a realização de audiência pública sobre o mesmo assunto. A reunião desta quarta-feira foi conduzida pela senadora Ana Amélia (PP-RS).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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