Senador diz ser vítima de conluio entre Ministério Público e Polícia Federal

Anderson Vieira | 29/05/2012, 17h44

Ao responder as indagações dos colegas no Conselho de Ética, nesta terça-feira (29), o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) insistiu na versão de que é vítima de um conluio armado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Ao alegar a ilegalidade das gravações de suas conversas com o contraventor Carlinhos Cachoeira, ele afirmou que delegados e integrantes do Ministério Público Federal articulam para a instalação de um “Estado policialesco no Brasil”.

– Ou respeitamos o Supremo e a Constituição ou aceitaremos que a polícia e juízes de primeiro grau investiguem um senador da República – disse.

Após ouvir Demóstenes confirmar ser sua uma das vozes nos áudios interceptados pela Polícia Federal, o senador Mário Couto (PSDB-PA) avaliou que a situação do colega é “complicada”.

– Se a voz é sua, vossa excelência prova que sabia quem era Cachoeira. Se a voz é sua, a coisa está bem complicada – disse o parlamentar, que classificou o episódio como uma das maiores decepções de sua vida.

Demóstenes assegurou que as conversas estão fora de contexto e disse que já contratou um perito para analisar os áudios.

Procurador

O senador Fernando Collor (PTB-AL) aproveitou para pedir a opinião de Demóstenes sobre a atuação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em relação aos inquéritos das operações Vegas e Monte Carlo.

– O procurador afirmou que o sobrestamento do inquérito da Vegas teve o intuito de possibilitar a retomada das interceptações telefônicas. Para mim, está absolutamente claro que o procurador não sobrestou nada, ao contrário, ele omitiu-se ou prevaricou. Entende dessa maneira? – questionou Collor.

Em resposta, Demóstenes disse estar convencido que Gurgel, ao sobrestar o inquérito, incorreu em crime de prevaricação.

– O procurador-geral não pode dizer se vai ou não atuar. Existe o princípio da obrigatoriedade. Ou ele pede o arquivamento ou oferece denúncia ou requer novas diligências à polícia. Ele prevaricou. E praticou improbidade administrativa – concluiu Demóstenes.

Nextel

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), por sua vez, insistiu na tese de que Demóstenes, ex-secretário de Segurança Pública e ex-procurador-geral de Justiça de Goiás, não tinha como não saber das atividades ilícitas de Cachoeira. Ele ainda questionou o uso de um aparelho Nextel oferecido por Cachoeira.

– Como pode um senador da República usar um telefone pago por terceiro? Um real que seja. Quanto mais pago por um contraventor de conhecimento público? – indagou.

Pedro Taques (PDT-MT) também levantou suspeitas sobre o Nextel, após fazer perguntas sobre o proprietário da Delta, Fernando Cavendish, contas bancárias e uso de cartões de débito no exterior.

– Qual a razoabilidade de se usar um aparelho de rádio habilitado nos Estados Unidos? – indagou.

Demóstenes disse se tratar de uma questão de “comodidade”, já que o aparelho funcionava em todos os países das Américas, e assegurou tê-lo devolvido a Cachoeira após as primeiras denúncias veiculadas pela imprensa.

Dinheiro

Tanto Pedro Taques quanto Randolfe questionaram a versão de Demóstenes Torres sobre uma gravação feita pela Polícia Federal em que Cachoeira e um auxiliar conversam sobre R$ 20 mil que seriam entregues ao senador goiano. Para Demóstenes, a conversa está fora de contexto e não deixa claro se o dinheiro seria recebido pelo parlamentar.

– Neste dia, apenas recebi seis taças de vinho de presente de casamento de uma pessoa que era espécie de serviçal de Cachoeira, não R$ 20 mil – disse.

O “serviçal” seria Gleyb Ferreira da Cruz, apontado como laranja e assessor do bicheiro.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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