Organizações sociais consideram modelo de mercado inadequado para lidar com questão ambiental

Da Redação | 08/12/2011, 20h53

Na última reunião deste ano da Subcomissão Permanente de Acompanhamento da Rio+20 e do Regime Internacional sobre Mudanças Climáticas, nesta quinta-feira (8), representantes de movimentos sociais fizeram duras críticas às soluções de mercado, que consideram esgotadas para o enfrentamento da crise ambiental, e lamentaram que a pauta da reunião de cúpula, marcada para 2012, dê pouca importância à "voz das ruas".

Moema Miranda, diretora do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), ressaltou o entusiasmo de sua entidade com a proposta da Rio+20, mas considera "rebaixada" a agenda do encontro internacional por colocar a arquitetura institucional em segundo plano diante da discussão de "economia verde".

Para ela, que classificou as crises pelo mundo como uma crise geral de civilização, é impossível que as soluções venham pelo mercado. Também foram condenadas por Moema Miranda a ambição desenfreada e a visão eurocêntrica que desvaloriza o conhecimento ancestral de povos tradicionais.

Moema salientou que a justiça social é inseparável da ecologia, o que torna necessário alterar padrões de consumo. Ela afirmou que as alternativas à economia de mercado já existem e disse esperar que a Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20, abra espaço para a articulação da sociedade civil. 

'Modelo falido' 

Nair Goulart, presidente adjunta da Comissão Sindical Internacional, também apontou o esvaziamento da Rio+20 e, ao mesmo tempo, o papel determinante do Brasil na questão ambiental. Citando a crise na Europa como exemplo, classificou o capitalismo como um modelo "falido" que tem conduzido à precarização das relações de trabalho e dos direitos sociais nos próprios países que por muito tempo serviram de modelo para o mundo.

Em termos ideais, Goulart deseja um acordo vinculante de redução de emissão de carbono, além de forte controle sobre transferências de capital entre países e imposição de um tributo transnacional sobre operações financeiras. A sindicalista elogiou as medidas antirrecessivas do presidente Lula a partir de 2008, às quais atribui o bom desempenho do Brasil diante da crise mundial.

Luiz Zarref, que representou a Via Campesina no debate, criticou a "mercantilização da vida" e a absorção pelo capitalismo dos grandes acordos ambientais. Ele repudiou o conceito de natureza como mercadoria, temendo que a Rio+20 legitime "falsas soluções" que intensificam um modelo que também considerou falido.

O ativista protestou contra a pouca atenção aos movimentos sociais em outros encontros de cúpula. Como alternativa, Zarref defendeu a soberania alimentar com produção de alimentos sadios, a reforma agrária como forma de reengenharia demográfica e uma agroecologia verdadeira, pois, em sua opinião, a agricultura orgânica foi tomada pelo mercado.

O presidente da subcomissão, senador Cristovam Buarque (PDT-DF), elogiou o avanço do debate ao longo dos encontros da subcomissão. Ele concordou com a percepção de esgotamento da teoria econômica e da política tradicional no enfrentamento da questão ambiental.

O parlamentar, que apoia a Rio+20 como "processo permanente", defendeu a aplicação do imposto mundial sobre transações financeiras em programas de educação, mas disse temer que os governos acabem usando os recursos para outros fins.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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