Roberto Requião exalta programa de partido fundado no século 19
Da Redação | 14/11/2011, 18h12
Traçando um paralelo entre o governo de Dilma Rousseff, com seguidos casos de corrupção, por ele atribuídos à "partilha do governo com os partidos da base de apoio", e as causas da crise financeira internacional, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) exaltou os chamados "intelectuais orgânicos", expressão cunhada pelo italiano Antonio Gramsci (1891-1937). Em seguida leu, nesta segunda-feira (14), em Plenário, o programa do já extinto Partido Operário, fundado em 22 de junho de 1890 em Curitiba e "nascido das classes até ontem segregadas da comunhão política". Seu bisavô, Justiniano de Mello e Silva, estava entre os fundadores. Ele ressaltou que as preocupações daquele partido são extraordinariamente atuais.
- Na verdade, esse partido socialista, ou esses partidos socialistas, foram fundados quase que simultaneamente no Rio Grande do Sul, em São Paulo e no Rio de Janeiro. É muito interessante porque ele se apropria das ideias de [Jeremy] Bentham, de [David], Ricardo, de [John] Stuart Mill, numa visão libertária, uma mirada pela esquerda e a atualidade dos seus temas é flagrante ainda hoje. Mas, o importante é a história do socialismo não marxista no Brasil, que precisa ser resgatada - afirmou.
No programa do Partido Operário, seus fundadores destacam a necessidade dos governantes serem honestos e previam que, por empreender a política do povo pelo povo, encontrariam "árduas" dificuldades. "Porque a maioria dos nossos conterrâneos ou está viciada pelos usos estabelecidos, ou não chegou ainda à compreensão dos seus verdadeiros interesses, completamente separados daqueles que têm agora prevalecido no governo", leu Roberto Requião.
Os fundadores também se preocupavam em atrair a simpatia e o apoio da "massa popular". O atrativo seriam a seriedade e a constância no procedimento. Eles também não poupavam críticas aos investidores do mercado financeiro, assim como aos impostos sobre os gêneros de primeira necessidade, o comércio e a indústria. Também pregavam limites ao direito de herança e ao latifúndio improdutivo.
- A propriedade é, para nós, sagrada, mas esse título não merece a detenção arbitrária do solo nas mãos dos indolentes sob a jurisdição da preguiça. Até hoje tinha-se como corretivo do pauperismo, infelizmente naturalizado nas terras brasileiras, pela legislação do privilégio, a caridade dos ricos, a filantropia dos bons corações. É tempo de obter das leis, dos processos da política, espaço largo e franco para a organização da solidariedade econômica, para o regimensocial da cooperação - apregoavam.
Eles também propunham educação integral e positiva, fiscalização do Poder Judiciário e garantiam que essa fórmula "exclui absolutamente as chicanas e delongas, as rapinas e manobras criminosas usadas no foro. Todos os processos e causas terão solução rápida e definitiva, sem que se precise recorrer aos bons ofícios da advocacia mercenária. Os advogados exercerão função pública retribuída e terão a seu cargo o exame e a fiscalização dos atos judiciais para promover a responsabilidade dos juízes prevaricadores".
Roberto Requião observou que, hoje, Grécia e a Itália "estão fazendo tábula rasa da opinião popular, inaugurando uma espécie de fascismo do capital vadio e dos rentistas". O senador Aloyzio Nunes (PSDB-SP) disse, em aparte, que os fundadores do Partido Operário eram, na verdade, democratas radicais. "Existe alguma ficha ainda disponível para assinatura para afiliação?", perguntou, elogiando o programa do antigo partido.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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