Aprovada anistia de taxas devidas por pessoas carentes que ocupem terrenos de marinha

Da Redação | 08/12/2009, 16h52

Pessoas carentes ou de baixa renda que ocupem imóveis em terrenos de marinha, de propriedade da União, podem ser anistiadas do pagamento de foros e taxas de ocupação devidos nos últimos cinco anos. Com validade retroativa à data de vigência da lei, a medida está prevista em projeto do senador José Sarney (PMDB-AP) aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), nesta quinta-feira (8).

Pelo projeto, são consideradas pessoas carentes ou de baixa renda, para efeito da anistia pretendida, todas as que integrem família com renda conjunta igual ou inferior a cinco salários mínimos. Aprovada em decisão terminativa, a matéria (PLS 133/06) deve seguir agora para a Câmara dos Deputados.

Na justificação, Sarney apresenta a anistia como uma medida necessária diante da incapacidade financeira dos potenciais beneficiários. Ele apontou, ainda, inconsistências no cadastro dos imóveis administrado pela Secretaria de Patrimônio da União (SPU) para justificar a dispensa do pagamento, já que as falhas podem estar motivando cobranças indevidas de foros e taxas.

O relator, senador César Borges (PR-BA), disse que o projeto merecia ser aprovado diante dos efeitos sociais benéficos que deverá produzir. Como observou, o objetivo é preservar pessoas carentes e de baixa renda da "persistência" da União nas ações administrativas e até judiciais para cobrar os débitos.

Extinção

O tema motivou seguidas manifestações dos senadores a favor da proposta e, no extremo, pela extinção da própria figura jurídica dos chamados terrenos de marinha e seus acrescidos. Pela legislação, fazem parte do patrimônio da União toda faixa de terra com 33 metros de largura, contada a partir da linha da preamar média de 1831, que confronte com o mar, rios e lagoas, no continente ou em ilhas, desde que esses locais estejam sujeitos ao fenômeno das marés.

Depois de classificar o regime aplicável a esses terrenos de "medieval", Gerson Camata (PMDB-ES) disse que os pobres vêm sendo "extorquidos" pela SPU. Segundo ele, o governo não vem cumprindo os dispositivos de emenda constitucional que determinou, no caso de ilhas que sejam sede de capitais, a transferência dos terrenos de marinha para cada um dos municípios. Vitória e Florianópolis estão entre essas capitais.

- Um dirigente da SPU chega a afirmar que todos os moradores de Vitória são marginais invasores, que todos deviam estar na cadeia por invadir terrenos da União - protestou.

Flexa Ribeiro (PSDB-PA) lembrou que é relator de projeto do senador Almeida Lima (PMDB-SE), de longa tramitação na Casa, com novas disposições sobre os terrenos de marinha. Entre outras medidas, o texto prevê a transferência de grande parte dos terrenos para estados e municípios. Segundo ele, apesar dos esforços do líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), a SPU resiste ao projeto.

- Não conseguimos chegar a uma solução porque a SPU não quer de maneira alguma flexibilizar e dar condições às pessoas que vivem nessas áreas - afirmou.

Romero Jucá disse ter esperança numa solução que resulte de acordo. Porém, se não houver esse entendimento, salientou, os senadores deverão exercer sua autonomia para discutir e votar uma proposta. Francisco Dornelles (PP-RJ) adiantou seu apoio à proposta de Almeida Lima. Conforme o senador, a cobrança de foro e taxas de ocupação nesses terrenos configuram tributação dupla - já que as prefeituras também cobram IPTU.

Inácio Arruda (PCdoB-CE) também considerou necessário eliminar de vez o que considerou de "resquícios feudais" presentes na cobrança de aforamento e taxas de ocupação no país. Manifestaram ainda apoio ao projeto de Sarney e também cobraram solução definitiva para os terrenos de marinha os senadores Raimundo Colombo (DEM-SC) e Antonio Carlos Junior (DEM-BA).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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