Senadores destacam luta de Dom Hélder Câmara pelos direitos humanos e contra a ditadura

Da Redação | 29/04/2009, 19h32

O Senado homenageou nesta terça-feira o centenário de nascimento de Dom Helder Câmara (1909-1999), que foi arcebispo de Olinda e Recife e um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O prelado nasceu em Fortaleza, no dia 7 de fevereiro. Sua trajetória, e principalmente sua luta pelos direitos humanos e contra a ditadura militar, foi lembrada pelos parlamentares que participaram da sessão.

A homenagem foi realizada a pedido dos senadores Inácio Arruda (PCdoB) e Tasso Jereissati (PSDB) - ambos do Ceará, estado onde Dom Helder Câmara nasceu - e também do senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

Ao comentar a biografia do homenageado, o senador Mão Santa (PMDB-PI), que presidiu a sessão, declarou que "a luta que marcaria definitivamente sua vida foi travada à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife, que comandou de 12 de março de 1964 até o ano de 1985, quando se aposentou".

- Esse período coincidiu com o da vigência dos anos de chumbo - ressaltou ele.

Foi nesse contexto, recordou Mão Santa, que o arcebispo denunciou, durante pronunciamento em Paris realizado em 1970, a prática de tortura contra presos políticos no Brasil.

Inácio Arruda, por sua vez, ressaltou que o envolvimento de Dom Helder Câmara com os movimentos sociais começou quando ele ainda vivia no Ceará. Segundo o parlamentar, no mesmo ano que se tornou padre, em 1931, ele criou a Liga Cearense do Trabalho e, em 1933, criou a Sindicalização Operária Feminina Católica.

- Dom Helder não via a preocupação social separadamente de sua vocação sacerdotal e de sua atuação pastoral na Igreja - disse o senador.

A participação no Concílio Vaticano 2, no início da década de 1960, foi assinalada por Inácio Arruda, Tasso Jereissati e Marco Maciel, entre outros. De acordo com Inácio Arruda, Dom Helder "trabalhou a fim de incluir a questão da miséria na pauta daquelas discussões". O senador disse ainda que o arcebispo "reforçou e incentivou" a atuação das Comunidades Eclesiais de Base, "cujo papel de resistência e de mobilização social, naquele momento da história [durante a ditadura], dificilmente pode ser exagerado".

Prêmio Nobel

Tasso Jereissati lembrou que Dom Helder Câmara foi indicado ao Prêmio Nobel por quatro vezes, mas não o conquistou devido "à ação subterrânea de boicote promovida pelo governo militar". Além disso, o senador ressaltou o papel do prelado "na disputa interna que, ao longo dos anos, foi travada entre os conservadores e aqueles [como o arcebispo] que queriam uma Igreja mais aberta, mais próxima das pessoas" - disputa que, observou Jereissati, foi intensa durante o Concílio Vaticano 2.

- A mensagem de Dom Helder Câmara vinha na direção da abertura da Igreja ao povo de Deus. E seu percurso deságua na opção preferencial pelos pobres - frisou Jereissati.

O senador, no entanto, ressaltou que a alcunha de "arcebispo vermelho", que teria sido utilizada pelos militares durante a ditadura, "não faz o menor sentido, pois Dom Helder não se afastou um centímetro dos princípios da Igreja; apenas abraçou mais firmemente os princípios que conduziam à caridade".

Cristovam Buarque (PDT-DF) - autor do requerimento de homenagem, junto com Inácio Arruda e Tasso Jereissati - declarou que o arcebispo deveria significar, para a juventude, "acreditar".

- E não falo apenas da crença em Deus e na Igreja Católica, mas na possibilidade de as pessoas se libertarem e também em um Brasil novo - ressaltou.

Para o senador pelo Distrito Federal, "o amor à pátria, tão fora de moda nos dias atuais, foi outra característica de Dom Helder que os jovens deveriam conhecer: amor à Nação e ao povo brasileiro, sem preconceito de classe, que resulta na opção pelos pobres".

- Outra lição seria sobre o verbo lutar - disse Cristovam, acrescentando que, em sua opinião, "a luta dele, hoje, seria para que houvesse uma escola igual, e de qualidade, para todos neste país".

Pedro Simon (PMDB-RS) afirmou que Dom Helder Câmara era um "profeta da paz que, na luta pelos deserdados da vida, utilizava uma arma certeira e fulminante: a verdade".

- Armado com ela, nunca teve medo de percorrer as vias escuras e tenebrosas do autoritarismo - ressaltou.

Segundo Flávio Arns (PT-PR), a pessoa de Dom Helder "se projeta no contexto dos grandes homens que dignificaram a condição humana".

- Em seu físico pequeno estava presente a grande alma e o grande coração, capaz de acolher a todos, sem distinção alguma - disse ele, ressaltando que, "por viver intensamente o sentido da irmandade e sofrer com os que sofrem, foi amado incondicionalmente e também incompreendido".

Marco Maciel (DEM-PE) lembrou que Dom Helder Câmara, após sair do Ceará e antes de se fixar em Pernambuco, foi bispo auxiliar no Rio de Janeiro. Nessa época, frisou o parlamentar, "ele subiu os morros e visitou as favelas para defender os direitos humanos e sociais". O senador destacou que o arcebispo deixou mais de 7 mil meditações, incluindo esta: "Ninguém é tão pobre que não possa ajudar; ninguém é tão rico que não precise de ajuda".

Já Eduardo Suplicy (PT-SP) declarou que Dom Helder, se estivesse vivo, defenderia a proposta do senador de instituição de uma renda mínima para todos os brasileiros. Para Suplicy, sua proposta - que se tornou lei em 2004 - vai ao encontro do ideal do prelado de erradicar a pobreza no país.

José Nery (PSOL-PA) relatou que o arcebispo não somente sofreu pressões do regime militar, como também foi questionado - por diversas vezes - por parlamentares do Senado e da Câmara. Por isso, a homenagem desta quarta representaria um ato de desagravo à memória e à trajetória de Dom Helder. O senador recordou que há um projeto de sua autoria que cria o Prêmio Dom Helder Câmara, a ser conferido a instituições brasileiras que se dediquem à promoção dos direitos humanos.

Para José Agripino (DEM-RN), o arcebispo foi uma "referência especialíssima" a sua época. Ele disse não se lembrar de manifestações mais marcantes, naquele tempo, do que as de Dom Helder. O senador ressaltou ainda que o prelado foi fundamental para a criação da CNBB.

Ao destacar a luta do arcebispo contra a ditadura, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) disse que Dom Helder "não foi perseguido apenas pelo regime militar, mas também por setores conservadores da sociedade". E que, "no ambiente de mediocridade em que o Brasil vive hoje, é importante homenageá-lo".

O presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), afirmou que Dom Helder foi "uma figura solar". E que, antes de visitar o Vaticano, pediu ao arcebispo para que fosse seu conselheiro e confessor. Sarney disse que o Conselho Editorial do Senado prestou sua homenagem ao editar o livro Dom Helder, o Artesão da Paz.

Líder do PSDB na Casa, Arthur Virgílio (AM) elogiou Dom Helder por "sua maneira pacífica de combater a ordem social injusta, desumana e sobretudo anticristã que encontrou no país ao longo de sua vida, especialmente durante a ditadura". O arcebispo foi, segundo o parlamentar, "um símbolo da luta por liberdade".

Renato Casagrande (ES), líder do PSB no Senado, declarou que o arcebispo não foi só "irmão dos pobres", mas uma liderança religiosa. E que, além de ser uma referência dentro do país, também foi "uma voz que se ouvia fora do Brasil". Antônio Carlos Valadares, o outro representante do PSB na Casa, disse que, em contraste com a busca por lucros e poder que caracteriza o capitalismo, Dom Helder deixou um exemplo de humildade e engajamento.

Para Eduardo Azeredo (PSDB-MG), o prelado foi o "grande artesão da paz, que soube entender as dificuldades dos mais pobres e enfrentou as desigualdades sociais e regionais".

Ao final da sessão, Marconi Perillo (PSDB-GO) reiterou a luta de Dom Helder contra a ditadura militar. Ele também avaliou que o arcebispo "não foi somente um ardoroso defensor dos direitos humanos, mas também promoveu o resgate do papel social da Igreja na luta pela inclusão social".

Da Redação / Agência Senado

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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