Senado celebra 400 anos de nascimento do Padre Antonio Vieira

Da Redação | 04/11/2008, 19h24

O Senado realizou, nesta terça-feira (4), sessão especial de homenagem ao quarto centenário de nascimento do Padre Antonio Vieira (1608-1697), jesuíta nascido em Portugal e que se tornou célebre em função de seus sermões e de sua intensa atividade política. Realizada por requerimento do senador Marco Maciel (DEM-PE), a sessão contou com a presença do embaixador português no Brasil,Francisco Seixas da Costa; do adido cultural daquele país, Adriano Jordão; do padre Hernani Pinheiro, representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); do ex-ministro do Meio Ambiente Henrique Brandão Cavalcanti; e do padre e estudioso de Vieira José Carlos Brandi Aleixo, entre outras personalidades.

Marco Maciel traçou um amplo painel de Vieira como religioso, escritor barroco e homem público, destacando suas habilidades de pregador, conselheiro político e diplomata.

- É oportuno assinalar a exuberante contribuição que o Padre Antônio Vieira ofereceu ao mundo em diferentes campos da atividade humana - disse o senador, que lembrou outros papéis exercidos pelo jesuíta: de catequista e defensor dos indígenas, orador em cortes européias, missionário, professor de humanidades e de filosofia e um grande escritor de cartas.

Segundo o parlamentar, do ponto de vista literário, Vieira enriqueceu o Português em palavras e modismos. Citando Carlos de Laet, Marco Maciel acrescentou que foi o jesuíta quem "fixou a sintaxe vernácula, assim como fixara Camões o léxico português". De todo modo, o senador observou que, embora português de nascimento, a identificação do jesuíta com a civilização brasileira deu-se anteriormente à da civilização portuguesa devido ao fato de Vieira ter chegado ao Brasil ainda criança.

Aos 15 anos, deixou a casa dos pais para ingressar como noviço na Companhia de Jesus em 1623, na província da Bahia. Foi levado para a aldeia do Espírito Santo, onde passou a ter contacto com os indígenas que os padres doutrinavam a poucas léguas da cidade. Sua vocação catequética foi endereçada sobretudo aos índios - com os quais aprendeu sete línguas, para usar em suas pregações - daí seu apelido de Paiaçu (Grande Pai).

Vieira tornou-se sacerdote da Ordem Jesuíta aos 27 anos, em 1635, iniciando no Brasil sua carreira como pregador, país no qual proferiu a maior parte e os mais célebres de seus sermões, além dos mais contundentes contra a invasão holandesa. Mas o senador enfatizou também as qualidades do político Vieira, protegido do rei de Portugal dom João IV. Marcado pelo binômio utopia e ação, o jesuíta foi responsável, entre muitas ousadias, pela defesa dos judeus perseguidos em Portugal ao tempo da Inquisição, conforme Marco Maciel. Acreditava ele que, além de desumana, a perseguição privaria o país de capitais importantes para o desenvolvimento português.

Também o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) referiu-se à defesa dos judeus empreendida por Vieira e outras batalhas que lhe custaram a liberdade por quatro anos, como as severas críticas aos corruptos de sua época. Sobre o modelo de colonização do Brasil, Vieira antecipou em muitos séculos a percepção de que a busca desenfreada por riquezas prejudicava um crescimento ordenado e duradouro, de acordo com o parlamentar.

- Essa corrida em busca da fortuna rápida, a seu ver, tendia a privilegiar o negócio fortuito, a ambição desmedida e a exploração brutal do escravo, levado à morte pela exaustão - disse Virgílio.

O parlamentar lembrou que a visão singular de Vieira rendeu-lhe a expulsão de terras maranhenses por colonos insatisfeitos com sua luta em prol da liberdade dos índios, que havia pacificado.

A senadora Marina Silva (PT-AC) foi outra a chamar a atenção para a capacidade que o Padre Vieira tinha de "combinar palavra e ação". A parlamentar referiu-se especialmente à luta do religioso em prol dos índios e sua tenacidade na missão de transformar a realidade desigual.

- Se ouvíssemos aqui o Sermão aos Peixes, baixaríamos a cabeça e faríamos reflexão sobre o quanto a metáfora ali contida nos diz respeito: peixes grandes engolindo pequenos - analisou a senadora, que se denominou "uma piaba".

Enalteceram ainda as qualidades de Vieira os senadores Alvaro Dias (PSDB-PR) e Mão Santa (PMDB-PI).

O último a se pronunciar foi o embaixador de Portugal, que classificou o jesuíta como "uma voz subversiva, incômoda ainda hoje". Para Seixas da Costa, Vieira acabou pagando caro por saber usar tão bem a palavra, fazendo dela uma arma contra figuras públicas de moralidade duvidosa.

Serviço:

Documentário - O Mestre da Palavra, Padre Antonio Vieira

TV Senado, dia 9 de novembro, às 15h30

Livro - De Profecia e Inquisição (Padre Antônio Vieira - Coleção Brasil 500 Anos). Reunião de textos da autoria de Vieira referentes ao processo que o Santo Ofício promoveu contra o missionário e pregador. 278 páginas. Conselho Editorial do Senado. R$ 20,00. http://www.livrariasenado.com/livraria/produtos.asp?produto=137 .

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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