Senadores homenageiam memória de Salvador Allende: "Um homem que vai viver para sempre"

Da Redação | 17/09/2008, 17h45

O Plenário do Senado Federal homenageou nesta quarta-feira (17) o centenário de nascimento do ex-presidente da República do Chile Salvador Allende Gossens. Para os senadores que discursaram, Allende, nascido na cidade de Valparaíso em 26 de junho de 1908, foi um dos mais importantes personagens da América Latina no século 20. O governo democraticamente eleito de Allende foi interrompido por golpe militar em 11 de setembro de 1973 e deu lugar à ditadura de Augusto Pinochet, que promoveu mais de três mil assassinatos políticos e o desaparecimento de mais de mil cidadãos chilenos durante 17 anos.

 A capacidade de sonhar é que fez dele o mártir, fez dele o herói, aquele que morreu obviamente antes do tempo, com menos de 65 anos de idade. Mas, ao mesmo tempo, fez dele um homem que vai viver para sempre, um homem como poucos na história do mundo inteiro e, especialmente, do nosso continente - disse o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

Em seu discurso, Eduardo Suplicy (PT-SP), muito emocionado, lembrou que a morte de Allende aconteceu há 35 anos e que foi uma "notícia de enorme tristeza" para os brasileiros.

 No Brasil, em 11 de setembro de 1973, a notícia se espalhou como um raio de extraordinária tristeza: o golpe militar no Chile. Allende morreu junto com a democracia, que, naquele momento também saía da vida chilena - disse Suplicy.

Para Suplicy, os golpistas que depuseram o governo democrático de Allende sofrem até os dias de hoje a condenação social pelas "prisões, torturas e milhares de assassinatos da forma mais cruel". Na opinião do senador, os apoiadores da ditadura chilena são "assassinos de seu próprio país, traidores do seu povo, que carregam essa suprema vergonha por onde andam".

Já Allende, o primeiro socialista latino-americano a chegar à presidência pelo voto popular, acrescentou Suplicy, é homenageado até hoje em diversos países, inclusive na capital francesa, onde há cinco anos a Praça Santiago de Chile foi rebatizada com seu nome. Suplicy também leu trechos de cartas enviadas por Fidel Castro a Allende poucas semanas antes do golpe.

 Os chilenos têm razão: Allende vive, ele está entre nós, e não nos deixará enquanto houver uma só pessoa, um só homem, uma só mulher sonhando com um mundo melhor e mais generoso - afirmou Suplicy, lembrando que Allende foi deputado, senador, presidente do Senado chileno e servidor do Ministério da Saúde daquele país antes de tornar-se presidente.

Por sua vez, Cristovam Buarque registrou que, na Alameda dos Próceres, em Brasília, existe um busto em homenagem ao ex-presidente chileno e que outros bustos e estátuas de Allende, "um dos maiores personagens do século 20 em todo o mundo", estão espalhadas por ruas e praças de todo o globo. O senador lembrou também que o estadista latino-americano só foi eleito presidente na quarta eleição para o cargo que disputou.

Ainda na opinião de Cristovam, Allende se caracterizava por ser um homem de diálogo, que enxergava a política como um instrumento para a "realização de um sonho". Para o senador, o presidente chileno é um cidadão de todo o continente latino-americano.

Em aparte a Cristovam, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) lembrou que o golpe militar no Chile foi apoiado, como tantos outros golpes na América do Sul, pelo governo dos Estados Unidos, principalmente pelo Departamento de Estado e pela CIA - o serviço de inteligência americano. Na opinião de Jarbas Vasconcelos, a grandeza de Allende como político, homem e médico "ultrapassou todas as fronteiras", tornando-o um dos maiores estadistas da América Latina.

 Quem derrubou Salvador Allende foram os Estados Unidos. Não fosse o papel pernicioso da CIA e do Departamento de Estado, talvez Salvador Allende, com a força e a competência que tinha, a sensibilidade, a dimensão que lhe era peculiar, tivesse vencido tudo aquilo e tivesse contornado os problemas no Chile - afirmou Jarbas Vasconcelos.

Na presidência dos trabalhos, o senador Papaléo Paes (PSDB-AP) também discursou em homenagem ao líder chileno. Para o senador, Allende foi sempre fiel aos princípios da juventude e nunca "perdeu a capacidade de indignar-se" perante as injustiças sociais da América Latina. Também para Papaléo, "Allende está vivo".

 Ele vive numa América Latina que se esforça por construir regimes verdadeiramente democráticos. Ele vive numa América Latina comprometida com a superação da desigualdade, com a abertura de oportunidades para as massas tradicionalmente submetidas à mais abjeta exploração. Por tudo isso, Allende vive. A América Latina com que sempre sonhara está se construindo. Seu sacrifício não foi em vão! - concluiu Papaléo Paes.

Participaram da homenagem aos cem anos de nascimento de Allende o embaixador do Chile no Brasil, Álvaro Diaz Pérez, a mãe do embaixador, Miréya Pérez, a embaixatriz Laís Abramo, e filhos e netos do embaixador, além de outros representantes do corpo diplomático. A homenagem foi requerida pelo senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que não pôde participar do evento, mas teve a iniciativa homenageada pelos senadores que discursaram.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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