Brasil poderá ter pelo menos mais quatro usinas nucleares, diz presidente da CNEN

Da Redação | 02/10/2007, 13h37

Em audiência pública na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), nesta terça-feira (2), o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves, afirmou que o país deverá ter de quatro a oito mais usinas nucleares até 2030, além de Angra 3. Os estudos para definir onde ficarão essas usinas ainda vão ser iniciados.

Gonçalves destacou, no entanto, que, para chegar a esse número, o país precisaria investir em capacitação de recursos humanos, pesquisa e divulgação, além de promover muitas discussões públicas sobre o assunto. Seria ainda necessário, na sua opinião, promover uma "revisão completa das áreas regulatórias de licenciamento e controle".

Odair Gonçalves destacou ainda que a segurança das usinas nucleares vem aumentando cada vez mais, que essa matriz energética não contribui para aumentar o efeito estufa e é bem mais barata do que outras alternativas, como a energia eólica (gerada pelo vento) ou solar. Além disso, observou, o Brasil é um dos países do mundo que mais têm urânio, material imprescindível para o funcionamento das usinas nucleares. O especialista reconheceu que não há ainda uma solução definitiva para os rejeitos nucleares, mas lembrou que todas as atividades industriais produzem rejeitos.

Durante a audiência, que foi realizada com o objetivo de discutir a viabilidade econômica e ambiental do uso de energia nuclear no Brasil, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Márcio Pereira Zimmermann, afirmou que hoje o Brasil trabalha "firmemente" para a retomada do programa de energia nuclear. Para Zimmerman, isso é reflexo de um investimento em planejamento e visão estratégica por parte do Estado brasileiro.

- Foi muito bom o Brasil ter retomado esse planejamento e deixar de ter medo de construir uma visão estratégica. É preciso trabalhar com planejamento integrado a longo prazo. Para se falar em segurança energética, é preciso ter uma estrutura de planejamento - disse.

Polêmica

Mas nem todos os especialistas presentes apoiaram a decisão do governo brasileiro de retomar o programa de energia nuclear. O diretor do Departamento de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Ruy de Góes Leite de Barros, destacou que a probabilidade de acidentes em usinas nucleares não é baixa e que os estragos são imensos.

Destacou que, na Rússia, onde em 1986 ocorreu o pior acidente nuclear da História, na usina de Chernobyl, houve necessidade de se isolar uma área de 30 quilômetros em torno do reator acidentado, e os países envolvidos chegaram a gastar 5% de seus produtos internos brutos (PIB) remediando as conseqüências do acidente.

- Acidentes, mesmos os mais improváveis, ocorrem. É um risco alto demais para ser aceito pela sociedade - disse Ruy Barros.

O coordenador de Relações Interinstitucionais do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, João Nildo de Souza Vianna, destacou o grande potencial do Brasil para gerar energia hidrelétrica e eólica, e sugeriu uma associação entre esses dois tipos de energia como alternativa à nuclear.

O senador Sibá Machado (PT-AC), autor do requerimento para realização da audiência pública, destacou que é preciso levar em conta as questões ambientais e sociais por trás de decisões importantes como a de investir na energia nuclear. Também é preciso levar em conta, destacou o senador, as ambições econômicas e de domínio tecnológico quando se discute o assunto, assim como quem são os proprietários dos meios de produção de cada matriz energética. O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) questionou se alguma das usinas ficaria no Nordeste, mas foi informado que os estudos para definir a localização das usinas ainda não começaram.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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