Controlador não avisou que avião estava na altitude errada, diz delegado

Da Redação | 30/05/2007, 14h18

Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo, nesta quarta-feira (30), o delegado da Polícia Federal Renato Sayão apontou também falhas cometidas por controladores aéreos. Um dos erros mais graves, na visão de Sayão, foi a atuação do controlador Jomarcelo Fernandes dos Santos, que não avisou aos pilotos do jatinho Legacy que deveriam baixar para 36 mil pés ao passar por Brasília. Com o transponder ainda ligado, o controlador acompanhou o vôo por cerca de seis minutos com altitude incorreta. O Legacy voava a 37 mil pés, em rota de colisão com o Boeing da Gol que vinha de Manaus.

Além disso, lembrou Sayão, depois que foi perdido o contato com o transponder do avião, o controle aéreo teria que avisar para as outras aeronaves que havia um avião "perdido" e indicar que pegassem outra altitude. Também seria necessário tentar entrar em contato com o avião e pedir que fizesse testes no transponder. Nada disso foi feito, observou. Na opinião do delegado, houve "complacência com uma situação anômala", que talvez não tenha sido julgada como de risco.

Sayão disse ainda que um segundo controlador de Brasília "recebeu o serviço" do sargento Jomarcelo e não foi informado de que o avião voava na altitude errada. Esse controlador, por sua vez, identificou que a aeronave estava sem o transponder e mesmo assim não tomou qualquer atitude.

Ao fim da exposição do delegado, o relator da CPI, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), comentou que o procurador da República de Mato Grosso Tiago Lemos de Andrade denunciou seis pessoas como responsáveis pelo acidente entre o Boeing e o jatinho. Para o procurador, dois pilotos e quatro controladores de vôo tiveram atitudes importantes que levaram à colisão.

Para o Ministério Público, disse Demóstenes, a imprudência e a negligência dos controladores e pilotos causaram o choque entre os aviões, provocando as 154 mortes. O delegado Renato Sayão destacou, no entanto, não acreditar que tenha havido atitude dolosa (crime intencional) de nenhum dos envolvidos.

O relator também destacou que, apesar de os controladores de vôo quererem dar a impressão de que a falha foi de software, ficou claro pela exposição das autoridades da Aeronáutica feita na terça-feira (29) e pela apresentação de Sayão, nesta quarta-feira, que o software não seria capaz de induzir o controlador a erro.

- Controladores colocam como falha do sistema, quando na verdade é característica do sistema - disse Demóstenes.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)