Senado fará ato de desagravo a estudantes africanos vítimas de possível crime racial

Da Redação | 30/03/2007, 11h02

Nesta sexta-feira (30), o senador Paulo Paim (PT-RS) comunicou ao Plenário que na próxima terça-feira (3) a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) fará uma reunião extraordinária para realizar ato de desagravo aos estudantes africanos vítimas de possível crime racial praticado na madrugada de quarta-feira (28) na Casa do Estudante Universitário (CEU) da Universidade de Brasília (UnB). Os apartamentos onde os estudantes estrangeiros dormiam foram atingidos por um incêndio criminoso. Por sugestão de outros senadores, é possível que o ato seja realizado no Plenário.

O discurso de Paim durou uma hora e três minutos e recebeu sete apartes. O senador afirmou que fará contato com diversas entidades de defesa dos direitos humanos e órgãos públicos para que estejam presentes na próxima terça-feira. Entre as instituições e entidades já convidadas, estão o Ministério Público, a diretoria da UnB e a Fundação Palmares.

Paim e os senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) participaram na véspera de um ato de solidariedade na UnB aos estudantes estrangeiros vítimas da agressão, com a presença do reitor da Universidade de Brasília, Timothy Mulholland.

- Foi um ato de solidariedade dos homens de bem deste país, que sonham com justiça e igualdade, com um mundo onde brancos e negros tenham efetivamente os mesmos direitos e oportunidades. A Comissão de Direitos Humanos se deslocou de maneira simbólica - disse o parlamentar gaúcho, que preside a CDH.

Paim quer que a data de 28 de março entre para a História do país como o dia da igualdade racial.

- Que seja uma data marcada pelo contrário do que quiseram fazer os racistas e conservadores, mas que seja uma data que não esqueçamos jamais - afirmou.

O senador pediu a punição dos "bandidos assassinos" que incendiaram o alojamento dos jovens africanos e lembrou que os estudantes estrangeiros estão agora "confinados" em um hotel em Brasília, cujo nome é mantido em sigilo.

- Calcule se fossem os nossos filhos estudando em outro país e sua casa fosse incendiada. Que país é este que permite que estudantes de um outro país amigo, que estão lá em um convênio legítimo, sejam atacados? - questionou.

Paim destacou que o atentado na UnB não foi um ato isolado. A capital tem sido cena de outros casos de racismo, registrou, lembrando que Brasília já viu uma situação semelhante, quando o índio Galdino foi incendiado por jovens de classe média em uma parada de ônibus em abril de 1997.

O senador destacou que a história é ainda mais chocante por ter se passado na Universidade de Brasília, um centro de referência, de saber, para todo o país. Paim disse que é difícil falar no assunto, que dói, mas que é necessário "tratar dessa ferida". O senador sugeriu que cada um se coloque no lugar dos pais desses jovens, que tiveram as portas dos seus apartamentos incendiadas, para que não pudessem sair.

- Precisamos aprofundar o debate. Pregamos igualdade, liberdade, justiça, combatemos toda forma de intolerância. Não podemos permitir que isso aconteça - afirmou.

Muito emocionado, Paim disse que esses ideais não podem morrer nunca, e pediu "vida eterna aos homens e mulheres - independentemente da raça, cor, etnia, origem - que dedicaram sua vida à causa da liberdade, igualdade e justiça".

- Que os pais e mães dos meninos negros covardemente atingidos saibam que aqui no Brasil a ampla maioria está solidária com eles. Atingir a eles é atingir também a todos os filhos do Brasil. - afirmou, entre lágrimas.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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