Ingresso da Venezuela no Mercosul é inadequado e indesejável, diz Abdenur

Da Redação | 27/02/2007, 18h47

O ingresso da Venezuela no Mercosul, como membro pleno do grupo econômico, foi criticado nesta terça-feira (27) pelo ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos Roberto Abdenur, durante depoimento à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Ele questionou duramente o regime político que vem sendo implantado no país, ao longo dos últimos anos, pelo presidente Hugo Chávez.

- Infelizmente, o que se está montando na Venezuela é uma ditadura. O ingresso desse país no Mercosul é inadequado, indesejável e contraproducente por razões políticas e econômicas. E vai alterar o jogo de poder dentro do bloco em detrimento do Brasil - disse Abdenur em resposta a um questionamento apresentado, durante a reunião, pelo líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).

Abdenur foi convidado a comparecer à comissão depois da publicação de entrevista concedida por ele à revista Veja, na qual aponta a existência de uma política antiamericanista no Itamaraty e lamenta a ideologização que estaria ocorrendo no Ministério das Relações Exteriores. Critica especialmente o uso do critério ideológico para as promoções de diplomatas e a obrigatoriedade - já abolida - da leitura de livros que, a seu ver, estariam de acordo com a posição ideológica do comando do ministério.

Durante o debate, o líder do PSDB levantou a questão do ingresso da Venezuela no Mercosul. Na sua opinião, o governo de Chávez estaria desrespeitando a chamada cláusula democrática do Mercosul, pela qual todos os países do bloco têm de respeitar as regras do regime democrático.

Os dois autores do requerimento de convite a Abdenur, senadores Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA), manifestaram preocupação com a suposta ideologização do Itamaraty e a possível interferência, nesse sentido, do assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia. O ex-embaixador reafirmou que pessoas de "alta competência" teriam sido preteridas na ascensão profissional por não estarem de acordo com a nova linha do ministério. Mas ressaltou a boa convivência que teve com Garcia enquanto permaneceu à frente da embaixada brasileira em Washington.

O presidente da CRE, senador Heráclito Fortes (PFL-PI), chegou a sugerir a realização de uma reunião secreta da comissão, para que Abdenur revelasse casos em que o fator ideológico teria influído em promoções de diplomatas. O ex-embaixador, porém, disse que não teria o que acrescentar em uma reunião fechada. Os senadores Romeu Tuma (PFL-SP), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Serys Slhessarenko (PT-MT) defenderam a manutenção da reunião aberta.

O senador Fernando Collor (PTB-AL) observou que os principais obstáculos ao ingresso de produtos brasileiros no mercado dos Estados Unidos devem-se à atuação de parlamentares de regiões que seriam afetadas pelas exportações brasileiras. Por isso, sugeriu a realização de um maior intercâmbio entre deputados e senadores dos dois países. A sugestão foi elogiada por Abdenur, que lembrou os "imensos poderes" dos parlamentares norte-americanos sobre a política comercial de seu país.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) elogiou a política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse não ver antiamericanismo na ação do Itamaraty. A política externa foi também considerada "justa e correta" pelo senador Inácio Arruda (PCdoB-CE). O senador Marco Maciel (PFL-PE), por sua vez, defendeu a retomada de negociações para a aproximação entre o Mercosul e a União Européia e para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) contestou a acusação de que todos os livros indicados pela direção do Itamaraty tivessem forte conotação ideológica, como sugerido na entrevista. Além disso, observou, a leitura não seria obrigatória. O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) disse ter ficado surpreso com as críticas de Abdenur e questionou a possível utilização de critérios ideológicos nas promoções de diplomatas. Ao final da reunião, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) elogiou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, por buscar uma política que não seja "nem de atrelamento, nem de trombada" com os Estados Unidos.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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