Governistas cobram de Meirelles redução nos juros enquanto oposição só faz elogios à atuação do BC

Da Redação | 27/02/2007, 17h28

A política de metas de inflação conduzida pelo Banco Central (BC) está correta, mas existe espaço para uma redução mais rápida da taxa básica de juros (Selic), para que o país cresça em ritmo mais firme. Foi o que observaram senadores da base governista ao presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, naaudiência desta terça-feira (27) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Os oposicionistas, no entanto, focaram nos elogios, atribuindo o baixo crescimento à falta de ação do governo em outras frentes.

O presidente da CAE, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), foi o primeiro a cobrar de Meirelles uma atuação menos conservadora do BC na questão dos juros. Favorável a uma maior redução das taxas, ele observou que a inflação tem ficado abaixo da meta nos últimos dez meses, o risco-país está abaixo dos 200 pontos, as reservas cambiais alcançaram o patamar de US$ 100 bilhões e o cenário internacional é favorável.

- Tem espaço para a taxa Selic cair - opinou Mercadante.

Meirelles reconheceu que os juros no país ainda estão em patamar mais alto do que a maioria dos países com regime de metas, mas salientou que a queda tem sido consistente. Lembrou que a diferença entre a taxa básica de juros do Brasil e dos Estados Unidos caiu para a metade nos últimos anos. Para Meirelles, o que dificulta agora o crescimento não é propriamente a inflação ou juros, mas outros problemas que serão atacados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Para o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), o BC não poderia fazer nada muito diferente do que vem sendo praticado na política monetária. Se o país não cresce, afirmou, isso decorre da "inércia e falta de capacidade operacional do governo". Como exemplo, disse que o governo prometeu, sem cumprir, fazer a transposição do Rio São Francisco, ampliar a oferta de energia e melhorar as áreas de segurança e saúde.

- Nesse governo, só quem entregou a mercadoria prometida foi o BC, foi a inflação dentro da meta, abaixo ou acima do centro - observou.

Sem futuro

Virgílio, que optou por não fazer perguntas, chegou a dizer a Meirelles que não via futuro para ele e sua equipe nesse governo. Para justificar, citou notícias de jornais segundo as quais a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirma que a crítica à política de juros é endossada, nos bastidores, pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente também quer agora, segundo ele, avaliar as futuras indicações para a diretoria do BC.

O senador Osmar Dias (PDT-PR) manifestou preocupação com a valorização do real frente ao dólar. Segundo ele, a trajetória da moeda americana indica que sua cotação cairá para menos de R$ 2,00, com prejuízo para o setor exportador e a geração de empregos, além de riscos para a balança comercial. Meirelles, em resposta, mostrou sua confiança no regime de livre flutuação do câmbio. Outros países, como notou, tentaram controlar o câmbio, mas esse tipo de política teria se mostrado inviável e de custo elevado.

Eduardo Suplicy (PT-SP) cobrou maior clareza nas atas do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a posição de cada membro da diretoria nas votações referentes à fixação da taxa Selic. Para Meirelles, no entanto, as atas demonstram com clareza os motivos que orientam as decisões e as divergências. Em resposta ao senador Renato Casagrande (PSB-ES), ele disse ser inadequada a participação de nomes externos à diretoria do BC no Copom. Observou que os diretores, sejam funcionários de carreira do BC ou de fora, atuam com dedicação exclusiva na instituição. De outro modo, poderia haver conflitos de interesses e riscos de abertura de informações privilegiadas.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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