Lorenzetti: "nosso objetivo era ajudar no combate à corrupção"

Da Redação | 21/11/2006, 21h01

Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Sanguessugas, na tarde desta terça-feira (21), o ex-coordenador de Risco e Mídia da campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Jorge Lorenzetti, negou ter dado autorização para o pagamento do dossiê que seria usado contra candidatos do PSDB nas últimas eleições. Lorenzetti disse que, exorbitando do seu cargo, comprometeu-se a receber os documentos prometidos pelo sócio-proprietário da Planam, Luiz Antônio Vedoin, em trocade "assistência jurídica" ao empresário e outros membros da família que chefiava a chamada "máfia das ambulâncias".

- Estávamos tentando reunir informações de interesse da sociedade no combate à corrupção - afirmou, explicando que o país precisava saber que a maior parte das ambulâncias adquiridas fraudulentamente com recursos do orçamento da União havia sido distribuída no governo Fernando Henrique, quando foram ministros da Saúde o governador eleito de São Paulo, José Serra, e Barjas Negri.

O ex-colaborador de Lula está sendo apontado pela Polícia Federal como o articulador da compra do dossiê, mas disse considerar precipitada a conclusão contida em relatório parcial da PF. Sobre o dinheiro encontrado com seus comandados no hotel Ibis, em São Paulo, no dia 15 de setembro, Lorenzetti disse que nada sabia.

- Perguntem ao Hamilton - sugeriu, referindo-se ao ex-coordenador da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo, tido até agora como a pessoa que entroucom os R$ 1,7 milhão que, suspeita-se, seriam usados para a pagar pelo dossiê.

Estavam ainda no hotel, com Lacerda, Gedimar Pereira Passos, advogado e ex-policial federal, integrante do comitê de reeleição, e Valdebran Padilha da Silva, empresário filiado ao PT de Mato Grosso, que teria sido intermediário da negociação.

- Os depoimentos de hoje [terça-feira] confirmam que havia uma negociação em torno do dossiê, mas não trouxe nenhuma prova sobre a origem do dinheiro - disse o presidente da CPI, deputado federal Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), que pela manhã presidira o depoimento de Valdebran.

Biscaia acrescentou que, agora, o esclarecimento dos fatos depende de revelações da parte dos próprios envolvidos. Lorenzetti, entretanto, chegou mesmo a negar que o comitê de Lula tratasse os documentos oferecidos pelos Vedoin como "um dossiê". Além de Gedimar, o Setor de Análise de Risco contava com a atuação de Oswaldo Bargas, ex-assessor do então coordenador geral da campanha, e Expedito Afonso Veloso, ex-diretor de Gestão de Riscos do Banco do Brasil.

Para o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos sub-relatores da CPI, a tese de que Lorenzetti não sabia do pagamento é insustentável, porque ele diz ter acompanhado as negociações de seus comandados com Valdebran, durante as quais o "preço do dossiê" foi baixando(de R$ 20 milhões para R$ 10 milhões, em seguida para R$ 3 milhões e finalmente para zero) .

Já o vice-presidente da comissão, deputado Raul Jungman (PPS-PE) lamenta que tanto Lorenzetti quanto os demais envolvidos no escândalo tenham montado e estejam sustentando uma versão que não corresponde à verdade. Lorenzetti disse, por exemplo, que Vedoin aceitou entregar os documentos de graça aos petistas como parte de uma estratégia para se beneficiar do programa de delação premiada da Justiça Federal, à qual não teria contado toda a verdade sobre a envolvimento de políticos do PSDB com os sanguessugas. Também faria parte dessa estratégia ser entrevistado por uma revista, que acabou sendo a IstoÉ.

Lorenzetti tentou ainda convencer os parlamentares de que não é o churrasqueiro do presidente Lula, como a imprensa tem publicado.

- De 2002 a 2004, atendi convites do presidente para fazer quatro churrascos. Em 2005 e 2006, não houve nenhum - esclareceu.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)