Barjas Negri nega participação no esquema das ambulâncias

Da Redação | 07/11/2006, 21h20

Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Sanguessugas na tarde desta terça-feira (7), o atual prefeito da cidade paulista de Piracicaba, Barjas Negri (PSDB), ministro da Saúde no final do governo de Fernando Henrique Cardoso (entre fevereiro e dezembro de 2002), afirmou que, durante sua gestão, não havia nenhum tipo de intermediação com empresas para liberação de emendas de parlamentares. Segundo ele, esse relacionamento se dava diretamente com deputados, senadores e seus assessores.

- Na nossa gestão, não houve fraude nem corrupção - disse o ex-ministro.

No entanto, Barjas Negri admitiu que empresas do grupo de Abel Pereira, empreiteiro de Piracicaba apontado por Luiz Antônio Vedoin, suposto chefe da máfia das ambulâncias, como lobista da Planam no ministério, teriam contribuído com sua campanha à prefeitura do município, em 2004. Abel Pereira, de acordo com Vedoin, teria recebido propina para defender seus interesses junto ao governo durante a gestão de Barjas.

O ex-ministro disse, porém, que, durante os meses em que esteve à frente da Saúde, recebeu Abel Pereira em seu gabinete uma única vez, quando ele acompanhou o prefeito da cidade de Jaciara (MT), cuja unidade de saúde precisava ser ampliada. Os recursos para a realização das obras foram liberados no tempo recorde de 12 dias, conforme informou a deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), e a reforma foirealizada por uma empresa de Abel Pereira, o que foi confirmado por Barjas.

- Isso não é pecado. Pecado é caixa dois de campanha, e na minha campanha não teve caixa dois - rebateu ele.

A oitiva foi marcada pelo debate entre os parlamentares do governo, que apostaram na ligação entre membros do PSDB e a máfia das ambulâncias, e da oposição, que insistiram na necessidade de esclarecimento do episódio do dossiê que membros do Partido dos Trabalhadores teriam tentado comprar para prejudicar a candidatura de José Serra ao governo de São Paulo.

O deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) chegou a apresentar um requerimento propondo a convocação do candidato petista ao governo de São Paulo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reeleito, para que ambos explicassem como pessoas tão próximas a eles e ligadas a suas campanhas teriam se envolvido no escândalo e explicassem, por fim, a origem dos recursos que pagariam o dossiê contra os tucanos. No entanto, o vice-presidente do colegiado, Raul Jungmann (PPS-PE), disse que o requerimento seria arquivado por falta de amparo regimental.

Barjas Negri compareceu à CPMI na condição de convidado. Também estava marcada para essa terça-feira a oitiva com o também ex-ministro da Saúde José Serra, que não compareceu por estar no exterior (Jungmann informou que Serra não apresentou justificativa formal para o não-comparecimento). Serra e Barjas comandaram o ministério entre 1998 e 2002. Investigações da Polícia Federal e do Ministério Público revelaram que o esquema dos sanguessugas teria começado a atuar em 2001.

Nesta quarta-feira (8), a CPMI dos Sanguessugas ouve, também na condição de convidados, os ministros da Saúde da gestão petista, Humberto Costa e Saraiva Felipe, a partir das 11h.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)