A mística é uma aliada importante dos guerreiros da selva

Da Redação | 02/06/2006, 12h51

Selva! A palavra singela, de poucas letras, que se refere a porções territoriais ainda não necessariamente rasgadas pelo desenvolvimento, de grandes extensões no Brasil, aos poucos vai se firmando como uma expressão forte e popular em toda a Amazônia. Ela é ao mesmo tempo um cumprimento militar em todos os recantos amazônicos e uma espécie de grito de guerra nas formaturas que ocorrem nas dezenas de unidades vinculadas ao Comando Militar da Amazônia (CMA), espalhadas em 62 localidades e envolvendo seis estados e partes do Maranhão e do Tocantins. 

A expressão "selva!" junta-se a outro fato simbólico característico só da Amazônia, de não menor impacto emocional. A chamada Oração do Guerreiro de Selva, escrita pelo então tenente-coronel Humberto Leal, hoje na reserva e morando na cidade de Petrópolis (RJ), constitui-se um importante fenômeno de catarse na Amazônia. Presente também nas formaturas, ela leva soldados às lágrimas e gera um enorme grau de coesão no interior das tropas, pois mistura ao mesmo tempo disciplina, amor à Amazônia e à natureza e evocação a Deus de forma decidida e sem subterfúgios. 

A plástica dos eventos por ocasião da leitura da oração emociona. Um oficial, comandante da tropa, desloca-se da formação e sobe em um discreto pedestal. A cada frase sua a tropa responde em som único e estrondoso. A oração é iniciada com a evocação de Deus pelo termo "Senhor" e nas frases seguintes são pedidas prudência, perseverança e outros qualificativos para fazer do soldado um vencedor. E mesmo que, ao final, o soldado morra pela Amazônia, é pedido em oração que pelo menos a vitória seja concedida. 

Toda essa mística ganha ainda mais força nas tropas quando se leva em consideração que elas têm uma composição muito forte de jovens oriundos de tribos indígenas, principalmente de faixas etárias que estão em condições de prestar serviço militar. Em alguns lugares, como em São Gabriel da Cachoeira ou no 5º Pelotão de Fronteira de Maturacá, aos pés do Pico da Neblina, na divisa com a Venezuela e a Colômbia, os rostos índios são maioria na tropa. E todos eles gritam "selva!", e todos eles se emocionam com a Oração do Guerreiro da Selva. 

Segundo o comandante militar da Amazônia, general Raimundo Nonato de Cerqueira Filho, a presença dos brasileiros índios nas fileiras militares tem dado às tropas uma grande capacidade de mobilização ao Exército na região, tendo em vista a sua alta destreza natural no interior da mata. Nos batalhões, é possível ver lado a lado, com pesadas armas de fogo e também munidos de instrumentos rústicos como arco e flecha, índios das etnias tucano, inhangatú, aruac e yanomami, entre outras - uma pequena parte das 22 etnias amazônicas, que se dividem em quatro grandes grupos lingüísticos. 

A diversidade e a novidade, ambas relacionadas à temática do meio ambiente, provavelmente são impossíveis de serem vistas com tanta intensidade em qualquer outra unidade do Exército fora da Amazônia.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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