Juiz diz que PT não queria apurar assassinato de Celso Daniel e envolve Gilberto Carvalho e José Dirceu no caso

Da Redação | 25/10/2005, 00h00


O juiz afastado João Carlos da Rocha Mattos disse nesta terça-feira (25), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos, que não houve interesse das autoridades e nem da polícia civil paulista em apurar, "técnica e cabalmente", o assassinato do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, ocorrido em 2002. Para ele, uma investigação profunda às vésperas das eleições presidenciais "seria desastrosa, já que traria à tona todo o esquema de corrupção dentro do Partido dos Trabalhadores na Prefeitura de Santo André". O esquema, observou, envolvia o recebimento de propina por membros do PT lotados na prefeitura que era pago por empresas de ônibus e de lixo da cidade para um caixinha político-eleitoral do partido.

Rocha Mattos iniciou o seu depoimento confirmando a entrevista que concedeu à revista Veja na qual afirma, tomando por base gravações em fitas cassete que registram diálogos telefônicos de pessoas supostamente envolvidas no assassinato do prefeito Celso Daniel, que o atual chefe de gabinete pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho,comandava todas as conversas e chegava a dar orientações de como as pessoas deviam proceder e se comportar diante de declarações públicas que envolviam a morte de Celso Daniel.

O juiz disse ainda queesse comportamento também tinha a orientação do deputado Luiz Carlos Greenhalg (PT-SP) que na época foi indicado pelo partido para acompanhar as investigações da morte do ex-prefeito. Na entrevista à revista Veja Rocha Mattos, que se encontra preso há dois anos por negociar sentenças judiciais, admitiu que Gilberto Carvalho "é a chave para elucidar a morte de Celso Daniel".

- Até a namorada do prefeito assassinado, Ivone de Santana, era orientada a chorar quando os repórteres a questionavam sobre a morte de Celso Daniel - garantiu Rocha Mattos, para quem as pessoas que mantinham um relacionamento mais próximo ao prefeito, como o então secretário de Serviços Municipais, Klinger Luiz de Oliveira Sousa, e os empresários Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes da Silva - o Sombra -não demonstravam qualquer tipo de desolação diante da brutal morte de Daniel, "mas apenas interesse em proteger e poupar de futuros problemas o PT, eles mesmos e os membros da agremiação". E disse que Celso Daniel era "um morto muito pouco querido".

Fitas comprometedoras

Rocha Mattos conclamou o presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), a requerer, junto a 4ª Vara da Justiça Federal, as 42 fitas cassete gravadas entre janeiro e março de 2002 e que contêm os diálogos telefônicos travados entre os supostos envolvidos no chamado caso Santo André. Efraim concordou e alertou que as fitas poderão ser fundamentais para elucidação da morte do ex-prefeito.

O juiz disse que tão logo as fitas viraram manchete na imprensa foram destruídas pela polícia por determinação da Justiça, que as considerou provas ilícitas. Mas lembrou que duas cópias das fitas foram guardadas, sendo que uma delas se encontra em poder da Justiça Federal. Os diálogos, principalmente entre Gilberto Carvalho, Klinger Oliveira, e Sérgio Gomes, demonstram, segundo ele, a existência de pagamento de propina e chegam a falar "em malas de dinheiro". Os diálogos também revelam, conforme observou, conversas entre membros do PT com pessoas ligadas ao mundo do crime, vindas de um telefone comunitário localizado na favela do Pantanal.

- No exercício do cargo de juiz cheguei a ser procurado algumas vezes por uma pessoa chamada Baltazar que, mais tarde, soube era o chefe da segurança do então candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva desde 1989. Ele me pediu que as fitas, por serem gravadas de forma ilegal, deveriam que ser destruídas porque, do contrário, poderiam comprometer e desgastar a imagem do PT - lembrou Rocha Mattos.

Ele deixou claro que Baltazar - delegado da Polícia Federal -jamais mencionou o nome de Lula nas suas solicitações.

O juiz também fez duras críticas quanto à atuação da Polícia Federal, da qual foi delegado no período de 1976 a 1982. Para ele, a PF é uma instituição "totalmente política, sendo a polícia do governo, com muito pouca independência". Na visão dele, a PF"trata bem pessoas ligadas ao governo, e com rigor quem está na oposição".

Como entender

Celso Daniel foi assassinado com oito tiros à queima-roupa em janeiro de 2002. As razões do crime ainda estão sob investigação, mas há forte indício de que ele tenha sido morto por motivos políticos. De acordo com os seus dois irmãos - João Francisco e Bruno -que já falaram à CPI dos Bingos, Celso foi assassinado após vazar informação de que ele iria denunciar todo o esquema de corrupção em Santo André, que envolvia a cobrança de propina de membros da prefeitura a empresas concessionárias do município, com destaque para as de ônibus, para uma caixinha do PT.

Bruno admitiu no seu depoimento à CPI que Celso Daniel chegou a tomar, mais tarde, conhecimento da existência das "contribuições", mas fez vistas grossas. Em setembro último, o Ministério Público de Santo André levantou a hipótese de que Daniel sabia do esquema e se beneficiava dele. As investigações sobre a morte de Celso Daniel foram reabertas recentemente pelo Ministério Público.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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