Tenente-coronel tem inúmeras denúncias por torturas

Da Redação | 27/04/2005, 00h00

O secretário de Segurança do Paraná, Luiz Fernando Ferreira Delazari, acusou o tenente-coronel da Polícia Militar Valdir Copetti Neves de ser um "criminoso travestido de policial". Neves está preso por tráfico internacional de armas e formação de milícia armada a serviço de proprietários rurais. Delazari também declarou que o tenente-coronel é o único paranaense registrado na Organização dos Estados Americanos (OEA) sob a acusação de tortura. O secretário de Segurança prestou depoimento nesta quarta-feira (27) perante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Terra, a CPMI da Terra. Ele foi convocado após ter sido acusado pelo tenente-coronel de "perseguição política e grampo ilegal de telefones".

Segundo Delazari, um dos objetivos de sua pasta é "intermediar os conflitos fundiários do estado de forma a manter a paz no campo, evitando o histórico de violência do estado". Ele citou como exemplo dessa violência a ação do Grupo Águia, força de elite da PM que foi extinta e era comandada pelo tenente-coronel Neves.

- Recebi inúmeras denúncias de tortura contra Neves. Uma delas envolve a morte do líder rural conhecido como Teixeirinha, crime que foi uma represália à morte de três policiais à paisana por sem-terras - disse Delazari.

O secretário de Segurança relatou que o Grupo Águia foi criado originalmente para combater roubos e furtos de caminhões no estado, e que "fez um bom trabalho nessa área".

- Em determinado momento, porém, o grupo passou a executar ações de reintegração de posse, o que é inusitado e revela como um governo estadual anterior [Jaime Lerner] abordava a questão agrária. É como se um órgão que tratasse do meio ambiente passasse a lidar com homicídios - argumentou.

Delazari ressaltou que o tenente-coronel da PM apresenta uma postura ideológica clara, contrária ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o que poderia ser constatado em uma monografia escrita por Neves. Na audiência pública realizada pela CPMI da Terra em Curitiba, no último dia 18, o tenente-coronel reconheceu ter escrito "uma monografia sobre o MST e suas ações quando estudava na Escola Superior de Guerra".

- Foi por essas razões que Neves foi indicado, por outro governo estadual, para liderar as ações de despejo do Grupo Águia, que eram verdadeiras operações de guerra, realizadas de madrugada, sem transparência, e de forma violenta - afirmou o secretário de Segurança.

Acusações

Delazari também rebateu as acusações feitas contra ele pelo próprio tenente-coronel Neves. Entre elas, a de promover grampo ilegal de telefones e de encobrir crime praticado por seu irmão envolvendo tráfico de drogas. Esta última denúncia foi destacada pelo deputado federal Onyx Lorenzoni (PFL-RS). Delazari afirmou que essa acusação "não tem consonância com o tema tratado pela CPMI da Terra, além de ter o objetivo de desmoralizar e desqualificar nosso trabalho".

Quanto à acusação de grampos ilegais, ele afirmou que a Secretaria de Segurança do Paraná utiliza um sistema de interceptação telefônica "não invasiva", chamada de Guardião, com autorização do Poder Judiciário.

- Neves fez essa acusação contra mim justamente porque ele foi preso a partir de interceptações telefônicas - declarou Delazari.

O tenente-coronel, que já havia prestado depoimento à CPMI da Terra em Curitiba, no último dia 18, voltou a depor na quarta-feira (27), no mesmo dia que o secretário de Segurança do Paraná. Neves negou novamente todas as denúncias contra ele e repetiu as acusações contra Delazari.

Ao se negar a responder diversas perguntas do deputado João Alfredo (PT-CE), relator da comissão, o tenente-coronel foi alertado pelo senador Alvaro Dias (PSDB-PR), presidente da CPMI, de que, "em determinadas oportunidades, não responder é uma forma de depor contra si próprio".

Segundo o ex-líder do Grupo Águia, "não há milícia armada em defesa da propriedade rural; quem tem milícia armada é o MST". Ele também declarou que "todos têm o direito de se defender de um crime, e a invasão é, de acordo com o Código Penal, crime doloso, formal e permanente".

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Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)