Sarney diz que levaria Dom Quixote na "viagem da eternidade"
Da Redação | 01/02/2005, 00h00
Em entrevista sobre os seus hábitos de leitura e preferências literárias, o escritor e presidente do Senado, José Sarney, afirma que Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, "é um mundo, são muitos livros". A obra, segundo o senador, é realmente "uma coisa extraordinária", e se as pessoas tivessem, na viagem da eternidade, de levar um livro só, deveriam levar Dom Quixote.
- Aí você tem todos os livros. É um livro que gostei de ler. E já repeti a leitura de Dom Quixote algumas vezes - disse.
Ao ser questionado pela professora Margarida Patriota, que conduz o programa "Autores e Livros", da Rádio Senado, sobre as personagens masculinas mais marcantes da literatura brasileira e mundial, o senador cita Miguilim, do mundo de Guimarães Rosa, e o próprio Dom Quixote.
- O Miguilim é uma coisa muito forte. Agora, não há nada em matéria de criação literária masculina como Dom Quixote.
Autor dos romances Dono do Mar e Saraminda, entre outros, Sarney revela, também, que não conseguiu ler até o final o livro Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago, e destaca como personagens femininas mais marcantes da literatura Tereza Batista, do livro Tereza Batista Cansada de Guerra, de Jorge Amado, e Anna Karenina, da obra de mesmo nome, de Leon Tolstói, além de Madame Bovary, concebida por Gustave Flaubert. Refere-se ainda a Capitu, uma criação de Machado de Assis no livro Dom Casmurro.
- A gente não pode esquecê-la. O Machado a fez tão misteriosa, é uma coisa que ficou quase um lugar-comum, mas a gente tem de considerá-la sempre - afirmou Sarney, para quem Anna Karenina é "hors concours", uma personagem bem construída: "ela vai do princípio até o fim", comenta.
A obra que mais releu na vida, conta, foi Os sermões, do padre Antônio Vieira.
- Até hoje é meu livro de cabeceira, que eu fico pegando, de vez em quando abro, leio aqui e ali, até seguindo o conselho de meu pai, porque quando comecei a escrever, eu era bem jovem, 12, 13 ou 14 anos, perguntei a ele: meu pai, pra eu escrever, o que o senhor recomenda? Ele disse: quando você puder, leia o Vieira. Eu nem sabia ao certo quem era Vieira. E eu perguntei: e depois? Ele respondeu: depois, leia o Vieira. Aí eu disse: e depois? E ele disse: Você torne a ler o Vieira. Então, eu realmente, segui esse conselho. Eu gosto de ler o padre Vieira - contou.
Outro livro recomendado ao senador pelo pai foi O Estadista do Império, de Joaquim Nabuco. Sarney refere-se à obra como "admirável, bem escrita, em bom português, concisa".
Indagado por Margarida Patriota sobre se há algum livro que gostaria de ler e não leu, por falta de tempo ou outro motivo, o senador responde:
- Eu não sei nem se eu tenho coragem de dizer. Mas eu tive vontade de ler o Kama Sutra e nunca li - revela, entre risos.
Sarney cita versos de Luís de Camões, Gonçalves Dias, Maranhão Sobrinho e Odylo Costa, filho como inesquecíveis, refere-se com elogios a frases do livro Pedro Páramo, de Juan Rulfo, conta que o primeiro livro que viu na vida foi As primaveras, de Casimiro de Abreu, que estava na estante de seu avô, e relata que começou a ler no interior, em casa. O avô, professor, tinha uma enciclopédia e pequenos almanaques que despertaram a curiosidade de Sarney.
O presidente do Senado diz que lê, em média, três livros por mês, e que a leitura, para ele, é algo sagrado, necessário para que continue vivendo. O senador afirma que lê pela manhã e à noite, que, às vezes, fica "borboleteando" entre um livro e outro, e que tem o gosto e o hábito da leitura. Sarney fala também sobre seu prazer em ir a uma livraria, pegar um livro e olhá-lo.
- Vou direto na área de ficção, passo um pouco na poesia e vou na parte de história.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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