Ex-dono do Araucária diz que foi vítima do Banco Central e desmente apoio político

Da Redação | 14/08/2003, 00h00

O ex-dono do Banco Araucária, Alberto Dalcanale, disse à CPI do Banestado que não fez qualquer gestão política para obter a permissão do Banco Central para operar contas CC-5 e receber depósitos em dinheiro procedentes da cidade paraguaia de Ciudad Del Este. O Banco Araucária foi liquidado pelo Banco Central em dezembro de 2002, e Dalcanale atribuiu a falência a uma campanha da imprensa, que teria espalhado boatos sobre a falta de liquidez da instituição.

Dalcanale disse também que tem a certeza de que o Banco Central -usou- o Banco Araucária para encobrir operações irregulares dos outros quatro bancos que operavam em Foz do Iguaçu, o Bemge, o Banco do Brasil, o Banestado e o Real. -Meu banco, que era um banco menor, foi usado para desviar o foco das atenções e das investigações dos outros bancos, que em tese eram mais importantes-, disse Dalcanale.

O ex-banqueiro garantiu ainda que o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) nunca teve conta CC-5 ou qualquer outro tipo de conta bancária ou movimentação financeira no Banco Araucária, respondendo a perguntas das senadoras Ideli Salvatti (PT-SC) e Serys Slhessarenko (PT-MT). Alberto Dalcanale é sobrinho da mulher do empresário Paulo Bornhausen, irmão do senador Jorge Bornhausen.

A primeira a levantar o assunto foi Serys Slhessarenko. Ela perguntou se o senador Jorge Bornhausen teria movimentado dinheiro por contas CC-5 no Araucária. O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) protestou, apresentou um atestado do Banco Central que comprova que Jorge Bornhausen nunca movimentou dinheiro pelo Araucária, e disse: -Estão querendo atirar lama sobre um homem honrado, querem transformar esta CPI em um joguete para atingir a honra do senador Bornhausen, é uma questão paroquial, partidária e não honra esta CPI. Isso não pode acontecer-, protestou Heráclito.

Ideli Salvatti perguntou se em algum momento o fato de ser parente do senador Bornhausen ajudou Dalcanale a transformar uma financeira pequena, como a Araucária em um banco múltiplo, e a obter a licença especial do Banco Central para operar contas CC-5 a partir de Foz do Iguaçu. Dalcanale disse que nunca houve qualquer gestão de Bornhausen em favor do Banco Araucária, e que o parentesco apenas prejudicou o banco, porque o transformou em alvo dos inimigos políticos do senador.

Alberto Dalcanale informou à CPI a movimentação financeira do Araucária entre os anos de 1994 e 1999: 94 - R$ 3bilhões; 95 - R$ 1 bilhão; 96 - R$ 4 bilhões; 97 - R$ 8,7 bilhões; 98 - R$ 4,5 bilhões; 99 - R$ 1 bilhão. O ex-banqueiro explicou que Ciudad del Este movimentou quantias entre US$ 12 e US$ 20 bilhões por ano entre 1996 e 1998, sendo o terceiro pólo comercial do mundo, atrás apenas de Hong Kong e Miami.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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