Dados sobre vacinas são desencontrados, diz Kátia Abreu à Comissão da Covid-19

Da Redação | 22/03/2021, 11h41 - ATUALIZADO EM 22/03/2021, 13h35

O Brasil precisa de 100 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 com urgência, para que um terço da população seja imunizada e a curva de infecção diminua. O alerta foi feito nesta segunda-feira (22) pela senadora Kátia Abreu (PP-TO) na reunião remota da Comissão Temporária da Covid-19. Presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), ela fez um levantamento junto à Fiocruz, ao Instituto Butantan e a produtoras de vacinas estrangeiras, além dos embaixadores do Brasil na Rússia, Índia, União Europeia e Estados Unidos. E ressaltou que, apesar do esforço de todos para a reunião dos números, as informações sobre a aquisição das doses pelo país ainda são desencontradas.

Segundo Kátia Abreu, 576 milhões de doses são o resultado da soma dos números divulgados pelo Poder Executivo referentes a vacinas já contratadas e aquelas ainda por contratar. A senadora afirmou, no entanto, que os documentos de compras aos quais teve acesso se referem a apenas 476 milhões de doses adquiridas de diversas empresas ao redor do mundo. A parlamentar disse que não conseguiu encontrar, em relatório enviado a ela pelo governo, a compra das 100 milhões de doses necessárias para imunizar pelo menos um terço da população. 

— Não é fácil porque as informações são bastante desencontradas, e eu, sinceramente, não consegui encontrar essa compra. Não estou dizendo que o governo não tenha comprado, mas, de todo o levantamento que eu fiz, o restante das informações está correto. No item da Fiocruz recebendo a AstraZeneca/Oxford, no entanto, são declaradas 210 milhões de vacinas, mas eu encontrei apenas 110 milhões. Às vezes há Fiocruz que vai receber AstraZeneca da China e também da Índia, então, os pacotes estão muito picados, na verdade. 

Kátia mencionou publicação da revista digital Science Magazine, segundo a qual, 11 países compraram vacinas em número muito maior aos de seus habitantes havendo, assim, cerca de 3 bilhões de doses que provavelmente não serão utilizadas. A senadora informou que uma moção de apelo internacional foi assinada por 65 senadores, chamando a atenção mundial para a necessidade de o Brasil ter vacinas. 

— Estamos numa guerra sanitária, que mata sem armas de fogo ou nucleares. Queremos [a atenção de] países do G-20, OCDE, Parlamento Europeu, Congresso Americano, embaixadores brasileiros no mundo, empresas produtoras de vacinas, presidentes de comissões de relações internacionais e imprensa. 

Índia

Kátia Abreu informou que, devido ao atraso na entrega das 100 milhões de doses já negociadas com empresas estrangeiras, o Brasil comprou outras 12 milhões de doses da vacina da AstraZeneca produzidas na Índia. Desse total, segundo a senadora, 4 milhões foram entregues. Outro lote com 8 milhões de doses, que deveria ter sido entregue pela Índia, sofreu atrasos. Isso porque, segundo a senadora, o governo indiano priorizou a imunização dos seus próprios habitantes.

— Aqui nós temos que concordar que, com um 1,4 bilhão de habitantes, e não se vacinou ainda um terço da sua população, ele está procurando também vacinar os seus, e nós estamos com um certo atraso por isso — afirmou.

Desencontros

Kátia Abreu ressaltou que o Brasil vai receber em maio uma tecnologia da AstraZeneca que possibilitará ao país produzir a vacina pura a partir de agosto. Ela mencionou um contrato firmado pelo Ministério da Saúde com a empresa Pfizer, para obtenção de mais 100 milhões de doses da vacina, mas disse que foi informada pelo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, de que o documento ainda não foi enviado.

— Chequei novamente junto ao Ministério [da Saúde] e eles disseram que já está no [setor] jurídico deles e que eles devem assinar a qualquer momento essas vacinas da Pfizer. Então, existe uma dúvida quanto à informação do ministério e à do embaixador americano, se de fato o Brasil mandou o contrato, se a Pfizer já verificou e se já assinou para efetivar esse contrato. Existe esse desencontro de falas.

Além disso, Kátia Abreu informou que a empresa Johnson & Johnson, produtora da vacina Janssen, está negociando com o Ministério da Saúde mais 38 milhões de doses. Segundo a senadora, o Ministério da Saúde ainda não efetivou o contrato para este lote. Embora esse item conste como já assinado no relatório do ministério, ainda não consta no relatório da embaixada americana, disse a senadora.

Governadores

Kátia Abreu relatou que também conversou com o presidente do consórcio dos governadores do Nordeste, Wellington Dias (PT-PI), que garantiu a ela já ter efetuado a compra de 37 milhões de doses da Sputnik V, da Rússia. Segundo a senadora, o cronograma de entrega dessas 37 milhões de doses se dará da seguinte forma: 2 milhões em abril; 5 milhões em maio; 10 milhões em junho; e 20 milhões em julho.

A parlamentar explicou que, embora o negócio tenha sido feito pelos governadores, o pagamento e a distribuição dos produtos serão feitos pelo governo federal. Isso porque, segundo a senadora, se as doses fossem destinadas diretamente para o Nordeste, a imunização proporcional no país seria comprometida.

— Não existe 'comprei para nós', existe 'comprei para o Brasil' — afirmou.

Covax

Kátia Abreu informou que foram entregues no domingo (21) um milhão das 42 milhões de doses encomendas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) junto à AstraZeneca para o Brasil, chamada Covax - Aliança Global. Lamentando o que considerou “número insuficiente”, a parlamentar disse que o total da fase inicial desse contrato são 2,9 milhões de doses.

— Então, ontem [o consórcio] entregou um [milhão]; deverá entregar, até o final de março, mais 1,9. Cumprindo, assim, esses 2,9 milhões, das 42 milhões de doses que estamos esperando. Para vocês verem também o quanto é pouco ainda essa entrega.

Entraves

No relatório de Kátia Abreu, consta ainda a negociação prévia para fornecimento de 20 milhões de doses da vacina Covaxin para o Brasil pela empresa Precisa Medicamentos, representante da indiana Bharat Biotech. A vacina, no entanto, é desenvolvida totalmente na China, com capacidade de produção de 12 milhões de doses ao mês. Segundo a senadora, a empresa tem em estoque as 20 milhões de doses negociadas, mas apesar de a Bharat já ter apresentado o pedido de exportação e ter recebido autorização do governo indiano, o processo ainda está travado por haver necessidade de aprovação do uso emergencial pela brasileira Anvisa.

— Ainda está faltando também o pagamento pelo governo brasileiro. Uma vez cumpridas essas etapas, a Bharat informou que poderá exportar 4 milhões de doses dessas 20, ainda, novamente, tudo muito picado, num prazo ainda sem muita certeza. Fala-se em 15, 20 dias. Na realidade, são 19 milhões de doses, nós estamos arredondando para 20, porque pode chegar até lá — afirmou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)