Desenvolvimento corre risco ao se submeter à pauta ambiental, diz meteorologista

Da Redação | 28/05/2019, 18h56

O Brasil corre risco de ver seu modelo de agronegócio entrar em colapso, aprofundar o processo de desindustrialização e prejudicar o desenvolvimento energético nos próximos anos, caso mantenha seu "atrelamento a uma narrativa ambientalista" pautada por órgãos de governança global. Essa foi a tônica da apresentação do meteorologista e climatologista Ricardo Felício, da Universidade de São Paulo (USP), durante audiência pública conjunta das comissões de Relações Exteriores (CRE) e de Meio Ambiente (CMA) nesta terça-feira (28).

Felício disse que tem passado desapercebida a iniciativa do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) de criar, em seu âmbito, uma subagência voltada ao controle mundial da emissão de dióxido de carbono (CO2), o gás considerado causador do aquecimento global. Para ele, caso essa iniciativa do IPCC, que atua na órbita da Organização das Nações Unidas (ONU), seja bem-sucedida, países como o Brasil tendem a ser prejudicados.

— A criação dessa nova agência já vem sendo trabalhada oficialmente. Assim como a ONU monitora a produção mundial de urânio, intenta fazer o mesmo com o CO2. Esse órgão poderá controlar todas as formas de produção dos países. Eles correlacionam uma narrativa de "mudanças climáticas" a todas as esferas de desenvolvimento, como os setores industriais e de energia, entre outros. Esse sistema de controle gerará o encarecimento da energia, diminuição da produção, desindustrialização, além de recuos do agronegócio e na mineração. Nossa conta de energia só sobe porque investimos apenas em eólica, biomassa e solar, as três mais caras. Como o país vai se industrializar e atrair investimentos se a energia é extremamente cara? — criticou.

Soberania

Felício também criticou a legislação brasileira que, a seu ver, impede investimentos em áreas sob proteção ambiental. Ele destacou que 66,3% do território já estaria "bloqueado", ou seja, não poderiam adotar o que chamou de políticas soberanas de desenvolvimento. O pesquisador citou que dentro dessa parte do território, 30,2% estão intocados por serem reservas indígenas e unidades de conservação, o maior percentual verificado no mundo.

— Austrália, China, EUA, Russia e Canadá também têm áreas protegidas, mas são completamente diferentes das nossas. A Austrália protege áreas desérticas, a China protege o Tibet, onde só tem neve. Os EUA protegem o Alaska e um ou outro parque. Já Brasil e Argélia, por exemplo, protegem a floresta. Relatórios do próprio IPCC mostram que a cobertura mais ampla se dá na America Latina, com metade das terras protegidas no Brasil. Coincidentemente, cabe sempre aos países pobres proteger as florestas — ironizou.

Para Felício, muito do que se decide nos fóruns ambientalistas atende a interesses ligados à disputa de mercado. Citou legislações europeias e norte-americanas bem mais liberais no que tange à exploração agrícola, permitindo um usufruto territorial bem superior ao verificado no Brasil. Hoje, com só 7,6% de seu território ligado ao agronegócio, a produção brasileira alimenta 1,5 bilhão de pessoas no mundo.

— O Brasil hoje alimenta 21% do mundo. Se nossa área produtiva for dobrada, ainda assim teremos menos território com esta finalidade que os EUA, mas alcançaremos metade do mercado mundial. No entanto, qual é nosso cenário hoje? Dívida pública em grande crescimento, privatizações estratégicas e inúmeros problemas sociais. Se continuarmos nesta toada, vamos ficar sem energia, sem produção, sem dinheiro, sem pagar a dívida e atingiremos a insolvência — criticou.

Outro grande risco para o Brasil, segundo Felício, está na atuação da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), outro organismo que atua no âmbito da ONU.

— A riqueza da Amazônia vai muito além da madeira e do agronegócio. O IPBES quer pagar 4% de royalties pela biodiversidade. Isso está passando batido, mas nossa riqueza em termos de biodiversidade é simplesmente impossível de ser calculada — alerta.

Erros do IPCC

Durante sua fala, o professor ainda fez inúmeras críticas aos protocolos científicos divulgados pelo IPCC e à tese de que o ser humano é o principal responsável pelas mudanças climáticas.

— Alegam que há consenso científico, mas isso é mais uma fraude. O tal consenso é fruto de financiamento das pesquisas. Só 0,37% entre mais de 12 mil artigos publicados de fato afirmam que o homem seria o principal causador do aquecimento global, segundo um levantamento norte-americano. O resto não põe a mão no fogo, mas conclui que outras pesquisas são necessárias, ou seja, é necessário um novo financiamento — disse.

Felício ainda denunciou que em 31 anos de atuação, o IPCC jamais realizou qualquer prognóstico acertado relacionado, por exemplo, a períodos de seca no Nordeste brasileiro, a quedas abruptas de temperaturas sazonais na Europa e na Ásia "por anos seguidos" ou às temperaturas baixas inter-sazonais verificadas nos EUA.

— A temperatura do ar global média significa alguma coisa dentro de um macroclima, que é algo extremamente complexo. Basta estabelecer um valor de temperatura, e eles então dizem quantos ciclones vão ter, quanto vai nevar, chover ou quanto os mares vão congelar. Isso é um total absurdo, qualquer climatólogo acha isso ridículo, pueril e infantil. Como isso é tão forte há mais de 30 anos? O macroclima do planeta é extremamente complexo, não faz sentido analisá-lo com base num termômetro médio, pueril, num planeta onde as temperaturas variam de 89ºC negativos a 58ºC positivos — afirmou.

Homem X Clima

Felício afirma que, em seus relatórios, o IPCC diz não ter como comprovar se o CO2 é o principal agente das mudanças climáticas. Citando também um estudo norueguês, demonstrou que a emissão do dióxido de carbono acompanha as temperaturas dos oceanos e dos continentes.

— Quando você coleta esses dados, fica claro que quando as temperaturas de oceanos e continentes sobem, o CO2 vai atrás. E vice-versa. Os relatórios do IPCC, que ninguém lê porque tem mais de 3.000 páginas, só se lê um resumo de 25 páginas que serve a interesses políticos. Se alguém lesse o relatório completo saberia disso. O próprio IPCC afirma que as variações do dióxido de carbono seguiram a temperatura nos últimos séculos. Na página 446 do mais recente relatório, o órgão admite que as emissões permanecem "um difícil problema de atribuição". Ou seja, eles já reconhecem que até hoje não tem nenhuma prova — garantiu.

Por fim, Felício criticou a banalização da expressão "mudanças climáticas", algo que considera "um verdadeiro pleonasmo", pois alterações naturais marcaram e sempre marcarão o planeta. Para ele, as chamadas "mudanças climáticas" viraram um coringa também a serviço de interesses geopolíticos poderosos.

O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) elogiou a palestra do meteorologista, criticando especialmente o modo como o país negligencia sua biodiversidade, servindo como "um quintal explorado ao bel-prazer de potências estrangeiras", que extraem lucros bilionários de nosso território sem destinar nada à população brasileira.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)