Engajamento da população marcou a Constituinte, relembram homenageadas do Bertha Lutz

Sergio Vieira | 07/03/2018, 15h14

Os anos de 1987 e 1988 foram marcados pelo engajamento da sociedade brasileira no processo constituinte, um período que marcou profundamente as 26 deputadas que, eleitas pelo povo, tiveram a oportunidade de participar daquele processo.

Este foi o tom das falas das hoje senadoras Rose de Freitas (PMDB-ES), Lídice da Mata (PSB-BA) e Lúcia Vânia (PSB-GO), e também da deputada Benedita da Silva (PT-RJ), na sessão do Senado que entregou o Diploma Bertha Lutz àquelas parlamentares. A homenagem fez parte do ciclo de eventos dedicado ao Dia Internacional da Mulher (8 de março).

Rose disse entender a homenagem como um reconhecimento a todas as mulheres que se engajaram nas lutas durante a Assembleia Constituinte.

— Todas nós fomos profundamente transformadas naquele período. Foi uma explosão cívica na sociedade, muitos segmentos que eram oprimidos durante o regime militar agora podiam se expressar livremente. E atrás de nós haviam muitas milhares de mulheres em movimentos sociais e na militância, e eu tenho que estender a elas este reconhecimento — afirmou, emocionada.

Lúcia Vânia relembrou que, à despeito das diferentes ideologias e partidos, a frente parlamentar feminista construída naquele período manteve forte coesão na luta pelos direitos das mulheres e dos segmentos sociais mais vulneráveis como um todo. Para ela, a dedicação e seriedade com que esta articulação foi mantida tornou-se fundamental para que a bancada incluísse diversos artigos na Constituição, apesar de as mulheres serem apenas 5% dos parlamentares.

Machismo naturalizado

Lúcia Vânia relembrou ainda que a cultura machista era tão hegemônica naquele período, que chegava a ser naturalizada no ambiente político. Ressaltou que nem mesmo a cobertura jornalística perdia este viés, que a seu ver em diversas ocasiões adotou um tom jocoso na cobertura dos trabalhos da frente parlamentar feminista.

— Havia mais matérias sobre os penteados ou as roupas que usávamos, e se referiam a nós como o "lobby do batom". Não havia sequer um banheiro feminino no Plenário, e quando isto foi solicitado, disseram que nossa primeira reivindicação era por banheiro — citou.

A senadora ainda relembrou que houve muitas matérias sobre a deputada Rita Camata (PMDB-ES), em que eram realçadas mais sua beleza e juventude do que sua atuação parlamentar, num enfoque ornamental do papel das mulheres nos debates políticos.

Lídice aproveitou para fazer uma homenagem ao PCdoB, partido ao qual era filiada na época, e ao PCB. Acredita que o retorno dos comunistas ao Parlamento, legalizados politicamente apenas no ano anterior (1985), era simbolicamente representativo daquele período de redemocratização.

— Éramos uma bancada diminuta, mas conseguimos incluir muitos direitos para a classe trabalhadora. Acabava felizmente o tempo em que os comunistas tinham que esconder suas ideias, e esta é a essência da democracia —frisou.

Outra homenageada, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), também lembrou do período com saudosismo, segundo ela "um tempo em que a maioria da população aderiu de fato ao processo. Houve um grande engajamento, e o sentimento de que isto nos conduziria a dias melhores".

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)