Reunificação irlandesa volta a ser cogitada após Brexit, diz embaixadora

Sergio Vieira | 11/05/2017, 14h16

A proposta de realização de um plebiscito sobre a reunificação da Irlanda não deve ser descartada após a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, disse a diplomata Eliana Zugaib, cuja indicação para o cargo de embaixadora brasileira em Dublin, capital da Irlanda, foi aprovada nesta quinta-feira (11) pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). A indicação será agora analisada pelo Plenário do Senado.

Segundo a diplomata, a possível aprovação da reunificação em plebiscito permitiria que a atual Irlanda do Norte — parte integrante do Reino Unido — continue na União Europeia.

Reunificação

Durante a sabatina na CRE, diversos senadores fizeram perguntas sobre as conseqüências para a Irlanda da decisão tomada pelo Reino Unido de sair da União Europeia, conhecida como Brexit.

Helio José (PMDB-DF) comentou que visitou a Irlanda e a Irlanda do Norte dias após o resultado do referendo e percebeu um clima de apreensão e descontentamento entre os norte-irlandeses, que votaram em sua maioria pela permanência no bloco europeu.

Zugaib esclareceu que, além das conseqüências econômicas, o Brexit ainda traz incertezas no campo político para a Irlanda.

Ela informou que diariamente circulam entre as fronteiras das duas Irlandas cerca de 30 mil pessoas, fruto de acordos no âmbito da UE. Também vigora entre os dois países um acordo segundo o qual a Irlanda pode ser reunificada "em caso de expressa manifestação por parte de suas populações", possibilidade que retornou ao debate público com o Brexit.

— O que mais preocupa os irlandeses é o retorno de atos de violência por parte de grupos unionistas, porque não há um acordo de paz definitivo, o que existe é uma paz em suspenso — informou.

No que se refere à parte econômica, Zugaib esclareceu que o Reino Unido é o maior parceiro da Irlanda, mas a entrada do país na UE (em 1973) mudou os rumos do país, possibilitando uma grande diversificação em seus fluxos comerciais.

Estudantes brasileiros

Caso seja confirmada para Dublin, a diplomata já adiantou que uma de suas prioridades será fortalecer o intercâmbio entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e universidades irlandesas, para que seja mantido na pós-graduação o grande fluxo de estudantes brasileiros que foram ao país no âmbito do programa Ciência sem Fronteiras.

Hoje mais de 10.000 brasileiros vivem na Irlanda, a maior comunidade não-europeia no país, com uma maioria de estudantes.

— As autoridades irlandesas priorizam o Brasil no intercâmbio científico de ponta, existe aí uma grande oportunidade para estudantes brasileiros — disse Zugaib.

A diplomata reforça que o ganho se dá porque o modelo universitário irlandês é bastante voltado para a pesquisa aplicada e o desenvolvimento de produtos, numa parceria forte com o setor privado, o que complementa a pesquisa mais teórica prevalecente nas universidades brasileiras.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)