Convidados alertam em audiência para agravamento da crise hídrica no Vale do S. Francisco

Da Redação | 19/04/2017, 16h55

A Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas (CMMC) promoveu, na tarde desta quarta-feira (19), uma audiência pública para debater a crise hídrica na região do Vale do São Francisco e a repercussão dessa crise no reservatório da barragem de Sobradinho. Os convidados foram unânimes em manifestar preocupação com o risco de agravamento da crise hídrica na região.

O senador Jorge Viana (PT-AC), presidente da comissão, disse que o debate é muito importante dada a grave situação atual. Segundo o senador, cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo tem dificuldade para acessar água potável. Ele lembrou que o Brasil tem 12% da água potável do mundo e, ainda assim, enfrenta risco de abastecimento.

- Essa é a realidade que vivemos. Precisamos de mais planejamento e gestão. Sem água, ninguém vive – frisou o senador.

Crise hídrica

Na visão do diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata Ferreira, é preciso unir esforços para uma melhor gestão dos recursos do Rio São Francisco. Ele disse que é possível ter convicção da segurança de fornecimento de energia para o Nordeste, já que há várias usinas coligadas capazes de garantir energia para a região.

Barata Ferreira acrescentou, no entanto, que os últimos anos têm sido considerados os piores da série hidrológica do Nordeste em um período de mais de 80 anos – o que pode piorar as condições de fornecimento de água.

A presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Kênia Régia Anasenko Marcelino, lembrou que a crise hídrica vem se agravando nos últimos anos. Ela detalhou uma série de medidas implantadas pela Codevasf para minorar a crise e defendeu a revitalização das bacias hidrográficas. Segundo a presidente da Codevasf, será preciso construir mais poços artesianos em algumas regiões, para viabilizar o abastecimento humano.

- Preservar é preciso e revitalizar é preciso. Precisamos do envolvimento da sociedade e do governo em favor do meio ambiente – afirmou Kênia Marcelino.

O presidente do Conselho de Administração do Distrito de Irrigação Nilo Coelho (Dinc), Amauri José Bezerra da Silva, lamentou que as previsões sobre o agravamento da crise venham se confirmado ao longo do tempo. Ele pediu a atenção de todos os órgãos com a situação, já que as previsões apontam para pouco volume de chuva também para o próximo ano.

- É preciso uma ação de Estado para não chegarmos a uma situação muito triste para a região – declarou.

Volume morto

O senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), que propôs e presidiu a audiência, manifestou preocupação com o risco de colapso do sistema da Barragem de Sobradinho. Ele disse que há um ano Sobradinho tinha 34% do seu volume útil e, agora, tem apenas 15%. Segundo o senador, algumas autoridades já alertam para o risco do uso do volume morto da represa no fim deste ano.

- Queremos encontrar caminhos para atravessar este momento difícil com o menor prejuízo possível – declarou o senador.

De acordo com o diretor de Operação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), João Henrique de Araújo Franklin Neto, a vazão em Sobradinho baixou de 1.300 metros cúbicos por segundo em 2013 para 700 agora em 2017. Franklin Neto apontou, ainda, que com as poucas chuvas deste ano, uma nova redução deve ocorrer, agora para 600 metros cúbicos por segundo.

- Nunca utilizamos o volume morto de Sobradinho, mas se precisar, vamos usar da melhor maneira possível, se continuar com pouca chuva. Torcemos para que não seja necessário – afirmou.

Para o superintendente de Operações e Eventos Críticos da Agência Nacional de Águas (ANA), Joaquim Guedes Correa Gondim Filho, a crise hídrica leva a uma reflexão sobre os múltiplos usos da água. Ele destacou que a discussão hoje não é se existem mudanças climáticas, mas como a sociedade vai se adaptar a essas mudanças. Gondim Filho admitiu que, talvez em outubro, será necessário o uso do volume morto de Sobradinho.

- Estamos enfrentando uma crise histórica e é preciso que todos tenham consciência para esse enfrentamento – afirmou.

O deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) questionou a viabilidade da dessalinização e do uso das águas subterrâneas. Em resposta, Gondim Filho disse que, hoje, os custos do processo da dessalinização já não são proibitivos e o estado do Ceará já tem estudos para um projeto em Fortaleza. Em relação às águas subterrâneas, o presidente da ANA disse que é preciso prudência no seu uso, já que os aquíferos alimentam os rios e ajudam no equilíbrio do meio ambiente.

O vale

O Vale do São Francisco é a região banhada pelo Rio São Francisco e seus afluentes e vai desde o estado de Minas Gerais até Sergipe e Alagoas, passando ainda por Bahia e parte de Pernambuco. A Barragem de Sobradinho foi inaugurada no final da década de 1970, na parte do Rio São Francisco que fica no extremo norte da Bahia.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)