Ainda é cedo para calcular impacto da Operação Carne Fraca nas exportações, dizem debatedores

Da Redação | 29/03/2017, 16h53

Ainda não há dados suficientes para mensurar o impacto da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, no mercado de exportação de carnes do Brasil. A conclusão é dos participantes da audiência pública realizada nesta quarta-feira (29) pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Segundo os expositores, é preciso analisar um período maior para ter certeza dos efeitos da operação que descobriu irregularidades em grandes frigoríficos do país.

De acordo com o coordenador-geral da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, João Fagundes Salomão, a média diária de exportações da quarta semana de março, logo após a deflagração da operação, foi de US$ 50,5 milhões, 19% menor que a registrada até a semana anterior. A média registrada até agora, no mês de março, foi de US$ 59 milhões, um aumento de 7,1% em relação à média diária de março de 2016 (US$ 55 milhões) e uma redução de 3,7% em relação à média de fevereiro deste ano (US$ 61,3 milhões).

— Nesse primeiro momento, pelas exportações, ainda não foi possível verificar um impacto muito grande com relação ao mês, talvez porque, de fato, seja muito recente ainda, existem carregamentos em processo de deslocamento, então precisamos ter mais um período de análise no sentido de verificarmos o real impacto da operação — explicou.

Na opinião do coordenador, ações firmes do governo e do Ministério da Agricultura fizeram com que o mercado não fosse afetado em sua plenitude. A maioria das exportações canceladas se restringiram aos frigoríficos com irregularidades, mas não atingiram todo o país.

Para a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), a redução do possível impacto da Operação Carne Fraca se deu não apenas pela ação rápida do poder público, mas também por causa da reação da Federação Nacional dos Policiais Federais. Apesar de apoiar as investigações, a federação se pronunciou contra a forma com essas ações foram divulgadas pelo delegado que coordenou a operação.

Preços

O diretor de Estatística e Apoio à Exportação do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Herlon Alves Brandão, disse acreditar que a redução mostrada pelos números da quarta semana de março pode, sim, estar associada a uma cautela maior dos importadores. Ele concorda, no entanto, que o período ainda é curto para fazer uma avaliação.

— O ministro Marcos Pereira determinou um acompanhamento diário do setor e temos notado que os embarques estão regulares. Houve um dia mais atípico e, depois, embarques mais regulares e sem maiores surpresas — relatou.

Os representantes dos dois ministérios falaram sobre os efeitos da operação no preço da carne. Para Salomão, os preços pagos aos produtores podem cair caso a produção deixe de ser exportada, já que as exportações de carnes representam 8% do valor de todas as exportações brasileiras. Já Brandão afirmou que o mais provável é que os efeitos negativos da operação se deem nos preços, e não no volume de exportações, já que os maiores mercados já voltaram a comprar a carne brasileira.

Confiança

Antoninho Rovaris, secretário de Meio Ambiente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag) disse confiar nos produtores brasileiros e lembrou que os problemas detectados estão em outra fase do processo: os frigoríficos. Para ele, a operação da Polícia Federal apenas mostrou ao Brasil o que já vinha ocorrendo há muito tempo.

O secretário lembrou, ainda, que não se deve analisar o problema apenas do ponto de vista financeiro, de mercado. A adulteração da carne envolve, principalmente a saúde dos brasileiros, que consomem grande parte da carne produzida aqui. Na avaliação do secretário, ingerências políticas dentro de áreas técnicas acabam favorecendo casos de corrupção como os dos fiscais envolvidos nas irregularidades.

— Eu não consigo imaginar por que um funcionário do Ministério da Agricultura, que tem a sua formação para ser um fiscal agropecuário, tem que ter como chefe alguém indicado politicamente. A política brasileira interfere, muitas vezes, até na indicação de um gari num município, infelizmente  — lamentou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)