Centenário do poeta Manoel de Barros é celebrado pelo Senado

Da Redação | 13/03/2017, 15h01

Um dos maiores poetas brasileiros, Manoel de Barros, que completaria 100 anos em dezembro de 2016, foi homenageado nesta segunda-feira (13) no Plenário do Senado. De iniciativa do senador Pedro Chaves (PSC-MS), que o conheceu pessoalmente, a sessão especial se iniciou às 11h e terminou quase às 14h, após discursos, vídeo e uma canção de homenagem.

O senador Pedro Chaves contou a história do poeta, que nasceu em Cuiabá (MT), mas mudou-se ainda menino para Corumbá (MS). Em seguida, foi morar numa fazenda no Pantanal, ambiente de onde colheu inspiração para sua poesia. Chaves, que criou a Fundação Manoel de Barros em 1998 em Campo Grande (MS), para apoiar projetos culturais, sociais e ambientais, julgou-se suspeito para falar do poeta.

— Eu me considero suspeito para falar sobre a brilhante carreira do homenageado. Sou admirador de sua obra e de sua personalidade. Tanto que, em 1998, pouco tempo depois de ter fundado a Unversidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, a Uniderp, decidi criar a Fundação Manoel de Barros para fomentar a pesquisa e a extensão. E Manoel estava presente nessa inauguração, juntamente com sua esposa — relatou.

Pedro Chaves falou ainda que Manoel de Barros, ao morrer em 13 de novembro de 2014, deixou um manancial de palavras comparável apenas à biodiversidade do Pantanal.

— A produção de 28 livros publicados, fora aquele levado pela polícia política em sua juventude, mostra muito bem o poder criativo e a capacidade de trabalho do nosso poeta. O grande brasileiro Carlos Drummond de Andrade, de Itabira, em uma definição magistral, assinalou que Manoel de Barros era mesmo eterno — afirmou.

Simples e discreto

O senador Waldemir Moka (PMDB-MS) também homenageou o poeta, e contou que teve a oportunidade de conversar com um amigo de Manoel de Barros, o jornalista Cândido Alberto Fonseca, que lhe contou que o poeta era um homem simples e discreto.

— Ele teve o privilégio de entrevistar Manoel de Barros algumas vezes. Segundo Cândido, Manoel de Barros era um homem simples, arredio a entrevista e fugia das câmeras como o diabo foge da cruz. A conversa andava bem até o holofote da câmera ser ligado — relatou.

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) narrou o encontro que teve com Manoel de Barros, apresentado a ele pelo senador Pedro Chaves. Cristovam tinha ido fazer uma palestra na universidade e disse a Pedro Chaves que gostaria de visitar Manoel de Barros. Depois de passar por engano em outra casa, Cristovam Buarque contou que Manoel de Barros o recebeu “com um sorriso enorme nos lábios”.

— Poetas não morrem. Eu agradeço muito ao senador Pedro por esta solenidade, por aquele encontro, mas sobretudo pela possibilidade de conhecer aquele homem frágil no corpo, simples e com aquele coração, com aquela cabeça que deixa o Brasil inteiro orgulhoso de ele ter passado por aqui, feito suas poesias, e partido, mas não falecido, do ponto de vista de morrer, tanto que estamos aqui lembrando dele com aquele sorriso maravilhoso —disse.

Tempo para a poesia

O senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) lamentou que, nos tempos atuais, com as tecnologias e redes sociais, as pessoas não tenham mais tempo para apreciar poesia.

— Em franqueza, isso é lamentável. Isso é uma pena. Não é nostalgia, pode até parecer pelos cabelos brancos que ostento. Mas, mesmo assim, ainda em dias recentes, e foi isso que me trouxe a tribuna, quando surge um expoente do calibre do notável Manoel de Barros, isso desaparece, isso muda. Na verdade, a impressão que se tem é que, a poesia, de tempos em tempos, ressurge das cinzas e desponta novamente como uma arte nobre e renovadora do espírito criativo — afirmou.

A senadora Fátima Bezerra (PT-RN), que coordena a Frente Parlamentar Mista do Livro e da Leitura, homenageou o poeta, de quem se disse admiradora, e falou sobre o projeto de lei que institui a Política Nacional da Leitura e da Escrita, que pretende aprovar ainda este ano.

— É verdade que muito já foi feito nessa área, mas ainda de fato muito insuficiente. Mas as políticas estão ainda no status de decreto. Elas têm que ganhar o status de políticas de Estado. E, por isso que nós queremos aprovar esse projeto de lei — disse Fátima, explicando que o projeto pretende fortalecer as bibliotecas, expandir a literatura, o livro e a escrita.

O senador Wellington Fagundes (PR-MT) também participou da sessão e disse ser um mérito muito grande do Senado prestar uma homenagem ao poeta Manoel de Barros. Ele lembrou o que o poeta Carlos Drummond de Andrade falou a respeito de Manoel.

— Falaram a Carlos Drummond de Andrade que ele seria o maior poeta vivo do Brasil. Mas Drummond discordou e disse: “não, não sou o maior poeta, porque existe Manoel de Barros” — lembrou o senador.

Compuseram a mesa da sessão, além dos senadores Pedro Chaves, Waldemir Moka e Thieres Pinto (PTB-RR), o deputado federal Izalci Lucas (PSDB-DF); a presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini; o vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Manoel de Barros, Marcos Henrique Marques e a representante do ministro da Educação, Regina de Assis.

Biografia

Manoel de Barros nasceu em 1916, em Cuiabá, e morreu aos 97 anos, em 2014, em Campo Grande.  Ele é considerado um dos principais poetas brasileiros contemporâneos e escrevia versos nos quais elementos regionais se conjugavam a considerações existenciais, em uma espécie de “surrealismo pantaneiro”. Publicou seu primeiro livro de poesias, Poemas Concebidos Sem Pecados, em 1937. Em seguida, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou bacharel em Direito, em 1941. Viajou para a Bolívia e  Peru, conheceu Nova York e era familiarizado com a poesia modernista francesa.

A partir de 1960 passou a se dedicar a sua fazenda no Pantanal, onde criava gado. Sua consagração como poeta se deu ao longo das décadas de 1980 e 1990. Recebeu o Prêmio da Crítica/Literatura, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Foi contemplado também com o Prêmio Jabuti de Poesia, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, pela obra O Guardador de Águas.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)