Requião: 'Senado pode repetir com Dilma a mesma ignomínia praticada contra Jango'

Da Redação | 30/08/2016, 19h17

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) reagiu com palavras duras à possibilidade de aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff  pelo Plenário do Senado. Segundo ele, o Senado estará repetindo “ignomínia” similar à que ocorreu em 1964, quando o então presidente da Casa, Moura Andrade, se apressou em declarar vago o cargo de presidente da República, ocupado por João Goulart, afirmando que ele havia deixado o país.

- 'Canalha, canalha, canalha'.  Assim Tancredo Neves apostrofou Moura Andrade, que declarou vaga a Presidência com Jango ainda em território nacional, consumando o golpe de 64 – lembrou.

Requião havia dito antes que, no dia, não pretendia “moderar a linguagem ou asfixiar” seus sentimentos. Logo depois de citar o episódio do afastamento de Jango, ele disse duvidar que qualquer um dos senadores estivesse convencido de que a presidente Dilma deveria ser impedida por ter cometido crimes. A rigor, disse, não são as “pedaladas ou a tal irresponsabilidade fiscal” os reais motivos do processo.

Numa referência ao senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), ele disse que próprio relator da peça acusatória adotou práticas idênticas quando esteve à frente do governo de Minas Gerais. A diferença, disse, é que lá em Minas não existiam forças políticas organizadas com o propósito de abrir espaço para processo de impedimento do governador, como teria ocorrido contra Dilma.

- Não havia um providencial e desfrutável Eduardo Cunha e nem um Centrão [força parlamentar da Câmara dos Deputados] querendo sangue e salivando por sinecuras e pixulecos – comentou.

Quanto ao papel do relator do processo no Senado, ele disse que “sua inocência é a mesma de Moura Andrade declarando vaga a Presidência”. Em seguida, previu que a eventual aprovação do impeachment pode levar o Senado dentro de mais alguns anos a declarar nula a sessão, assim como aconteceu com aquela comandada por Moura Andrade, com pedidos de “desculpas à filha e aos netos de Dilma”.

Retrocessos

Na visão do senador, o impeachment é o instrumento usado por forças políticas e econômicas interessadas em acabar com conquistas que favorecem trabalhadores e as camadas economicamente mais frágeis. Citou a comentada reforma das leis trabalhistas e mesmo retrocessos na área de igualdade de gênero. Aproveitou para criticar a proposta do governo interino de congelar, “por inacreditáveis 20 anos”, as despesas correntes da União, para garantir o pagamento de dívida pública.

- É como proibir que, por 20 anos, nasçam crianças, que jovens tenham acesso à escola, que os brasileiros envelheçam ou fiquem doentes, assim por diante. É espantoso que algum ser humano tenha algum um dia concebido tamanha barbaridade, e mais espantoso ainda que algum ser humano, senador ou senadora do Brasil, possa aprovar isso - disse.

O senador também associou ainda as forças que articulam o impeachment com interesses do setor financeiro, assim como aqueles da geopolítica internacional, que podem levar ao “esquartejamento” da soberania do país. Alertou, porém, que haverá resistência a esse redirecionamento da vida nacional, por parte das camadas da população prejudicadas em suas conquistas.

- As senhoras e senhores estão preparados para a guerra civil? Não! Então, entrincheirem-se, porque o conflito será inevitável. O povo brasileiro que provou por alguns anos o gosto da emergência social não retornará submissamente à senzala - afirmou

Requião, ao fim, citou a Carta Testamento de Getúlio Vargas, que se suicidou em 1954, em meio a uma articulação que visava à sua deposição do poder, por meio da qual ele denunciou campanha “subterrânea” de grupos internacionais, aliados a nacionais, contra os avanços sociais e trabalhistas.  Depois, o senador concluiu seu discurso com apelos aos colegas por “razão, alma e coração”.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)